Rick Lyman - NYT
Santi Palacios/AP
Num dia recente aqui na ilha grega de Lesbos, centenas de refugiados
requerendo asilo estavam sentados em um barranco ou descansando em um
aglomerado de barracas improvisadas, com roupas secando em árvores,
enquanto esperavam para se registrar e serem enviados de balsa para a
Europa continental.
A apenas alguns quilômetros de distância, um
centro de acolhimento há muito prometido por autoridades da União
Europeia para ajudar a Grécia a administrar o número assombroso de
refugiados dessas ilhas ainda estava em construção.
"Acredito que vamos terminar em meados de dezembro", disse Stratis Manolakellis, um engenheiro de 37 anos de idade que supervisiona a obra, enquanto um soldado grego demolia um antigo refeitório militar com uma escavadeira. "E então este lugar vai ser muito diferente."
Depois dos atentados de Paris, o quanto este lugar vai ficar diferente --e em quanto tempo-- passou a ser uma questão urgente não só para a Grécia, mas para toda a Europa.
A informação perturbadora de que pelo menos alguns dos terroristas cujos ataques mataram 130 pessoas em Paris em 13 de novembro entraram na Europa infiltrados em meio à multidão de refugiados que inundaram ilhas gregas fez com que a segurança se tornasse uma prioridade tão grande quanto a ajuda humanitária.
Por causa do sistema europeu de fronteiras internas abertas, esta costa mal patrulhada e de fácil acesso, visível do litoral turco, pode muito bem ser considerada como se fosse a fronteira da França, Alemanha ou Suíça.
Muito embora os países localizados entre a Grécia e esses destinos mais ao norte tenham estabelecido um controle temporário das fronteiras, a ausência de um plano rápido para garantir a segurança nesta costa ameaça derrubar o acordo de livre movimentação, conhecido como acordo de Schengen, que é um dos pontos centrais da integração europeia.
Este centro, ou "hot spot", como esses lugares vêm sendo chamados, é o primeiro de vários planejados para as ilhas gregas próximas à Turquia --em Chios, Samos, Kos e Leros, por onde se acredita que pelo menos um dos terroristas de Paris entrou na Europa.
Mas a conclusão desses centros ainda vai levar semanas ou meses. E não está claro se o número de instalações será suficiente para proteger as centenas de ilhas gregas vulneráveis.
Também não está claro se a União Europeia, já sob fortes críticas por causa de sua resposta lenta e descoordenada às crises da imigração e do terrorismo, está tratando o problema com a urgência necessária e destinando recursos suficientes.
"Os hot spots precisam ser estabelecidos rapidamente na Itália e na Grécia", disse a chanceler alemã Angela Merkel na semana passada, após os ataques em Paris e depois de meses de planejamento.
Quando foram concebidos, os centros de imigração tinham como objetivo canalizar a ajuda europeia para aqueles países que estão na linha de frente dos refugiados, isto é, a Grécia e a Itália, para ajudar a regular o fluxo e o registro de imigrantes e aliviar a pressão sobre as redes de serviços sociais sobrecarregadas de todo o continente.
Agora eles se tornaram parte de um tipo diferente de linha de frente: do perímetro de defesa da Europa contra a possível infiltração de terroristas. Mas basta olhar para Lesbos para perceber a escala do problema e a aparente impossibilidade de separar os lobos das ovelhas.
Num dia recente, centenas de jovens do Afeganistão, Irã e outros lugares estavam aglomerados num encosta íngreme e escarpada, em torno do portão estreito do centro de registro grego, gritando, empurrando, furando fila e exigindo que funcionários frustrados e normalmente irritados os deixassem entrar.
"Parece que a tentativa de acelerar as coisas nos últimos meses será redobrada após as bombas em Paris, e questões de segurança virão à tona", disse Leonard Doyle, porta-voz-chefe da Organização Internacional para a Migração.
"Um problema interno da Europa está sendo examinado mais uma vez após o choque de Paris", acrescentou Doyle.
Mesmo assim, os hot spots já estavam sido discutidos em Bruxelas desde a primavera, e a construção do primeiro centro deste tipo em Lesbos só começou este mês.
Enquanto isso, o governo grego, que vem se debatendo com uma grave crise econômica, tem estado sobrecarregado com a chegada de mais de 700 mil imigrantes este ano. Sua resposta consistiu, em grande parte, em passar o problema para outros países, praticamente dando passagem aos imigrantes sem coletar impressões digitais ou checar possíveis ligações com terroristas.
Embora a queda da temperatura e o mar mais hostil tenha diminuído o número de imigrantes que chegaram à Grécia nas últimas semanas, uma média de 5.100 refugiados ainda desembarcaram por dia durante este mês.
Para ajudar, a Frontex, a unidade de proteção das fronteiras da União Europeia, enviou 16 barcos, um avião, um helicóptero e três carros de patrulha para cinco ilhas gregas.
Em outubro, ela também pediu aos países membros 775 funcionários para ajudar nas tarefas da fronteira, entre elas a coleta de digitais, triagem, tradução, entrevistas e análise de documentos. Até agora, foram prometidos 420, mas apenas 163 se materializaram.
"No momento, temos de nos concentrar no registro e na segurança", disse Fabrice Leggeri, diretor executivo da Frontex, que tem sede em Varsóvia, na Polônia.
"Mas a realidade agora é que, se você cruzar a fronteira ilegalmente ou entrar por um hot spot, o nível de checagem de segurança na verdade é menor do que nos postos de cruzamento oficiais", acrescentou. "Isso precisa mudar."
Ainda existem obstáculos burocráticos, no entanto. De acordo com a legislação europeia em vigor, os funcionários da Frontex não têm acesso aos bancos de dados necessários para fazer verificações de segurança completas, deixando essa tarefa para a polícia grega e atrasando o processo.
Uma proposta para ampliar o acesso ao banco de dados e incluir a Frontex foi lançada em Bruxelas, mas ela ainda está bem longe de ser aprovada.
"Com otimismo, podemos dizer que levará 12 meses", disse Leggeri. "Teremos um enorme problema de segurança se não conseguirmos registrar direito as pessoas e tirar suas impressões digitais."
Manolakellis, o engenheiro que supervisiona a construção do novo centro de acolhimento da União Europeia aqui, disse que o local, uma vez concluído, será capaz de registrar 1.400 pessoas por dia.
Um segundo centro de registro, menor, estará pronto em janeiro e poderá registrar mais de 800 pessoas por dia. Um terceiro, num terreno adjacente do Exército grego, aumentará este número para 3.500 por dia quando concluído.
Um segundo campo de refugiados não muito longe dali, em Kara Tepe, para onde as famílias sírias são enviadas, também será reconfigurado para processar 2.000 refugiados por dia, disse ele, e um terceiro local, para os menores não acompanhados e pessoas com necessidades especiais, está sendo projetado.
Mesmo assim, disse Manolakellis, a capacidade ainda ficará aquém do que necessário para processar os sete mil a dez mil refugiados que chegaram em Lesbos nos dias mais movimentados nos últimos meses.
Autoridades disseram que haveria uma melhoria drástica sobre as condições atuais, mas Manolakellis não estava muito otimista. "Temo que o fluxo continue no próximo verão", disse ele, "e até mesmo este novo centro ficará sobrecarregado."
Tradutor: Eloise De Vylder
"Acredito que vamos terminar em meados de dezembro", disse Stratis Manolakellis, um engenheiro de 37 anos de idade que supervisiona a obra, enquanto um soldado grego demolia um antigo refeitório militar com uma escavadeira. "E então este lugar vai ser muito diferente."
Depois dos atentados de Paris, o quanto este lugar vai ficar diferente --e em quanto tempo-- passou a ser uma questão urgente não só para a Grécia, mas para toda a Europa.
A informação perturbadora de que pelo menos alguns dos terroristas cujos ataques mataram 130 pessoas em Paris em 13 de novembro entraram na Europa infiltrados em meio à multidão de refugiados que inundaram ilhas gregas fez com que a segurança se tornasse uma prioridade tão grande quanto a ajuda humanitária.
Por causa do sistema europeu de fronteiras internas abertas, esta costa mal patrulhada e de fácil acesso, visível do litoral turco, pode muito bem ser considerada como se fosse a fronteira da França, Alemanha ou Suíça.
Muito embora os países localizados entre a Grécia e esses destinos mais ao norte tenham estabelecido um controle temporário das fronteiras, a ausência de um plano rápido para garantir a segurança nesta costa ameaça derrubar o acordo de livre movimentação, conhecido como acordo de Schengen, que é um dos pontos centrais da integração europeia.
Este centro, ou "hot spot", como esses lugares vêm sendo chamados, é o primeiro de vários planejados para as ilhas gregas próximas à Turquia --em Chios, Samos, Kos e Leros, por onde se acredita que pelo menos um dos terroristas de Paris entrou na Europa.
Mas a conclusão desses centros ainda vai levar semanas ou meses. E não está claro se o número de instalações será suficiente para proteger as centenas de ilhas gregas vulneráveis.
Também não está claro se a União Europeia, já sob fortes críticas por causa de sua resposta lenta e descoordenada às crises da imigração e do terrorismo, está tratando o problema com a urgência necessária e destinando recursos suficientes.
"Os hot spots precisam ser estabelecidos rapidamente na Itália e na Grécia", disse a chanceler alemã Angela Merkel na semana passada, após os ataques em Paris e depois de meses de planejamento.
Quando foram concebidos, os centros de imigração tinham como objetivo canalizar a ajuda europeia para aqueles países que estão na linha de frente dos refugiados, isto é, a Grécia e a Itália, para ajudar a regular o fluxo e o registro de imigrantes e aliviar a pressão sobre as redes de serviços sociais sobrecarregadas de todo o continente.
Agora eles se tornaram parte de um tipo diferente de linha de frente: do perímetro de defesa da Europa contra a possível infiltração de terroristas. Mas basta olhar para Lesbos para perceber a escala do problema e a aparente impossibilidade de separar os lobos das ovelhas.
Num dia recente, centenas de jovens do Afeganistão, Irã e outros lugares estavam aglomerados num encosta íngreme e escarpada, em torno do portão estreito do centro de registro grego, gritando, empurrando, furando fila e exigindo que funcionários frustrados e normalmente irritados os deixassem entrar.
"Parece que a tentativa de acelerar as coisas nos últimos meses será redobrada após as bombas em Paris, e questões de segurança virão à tona", disse Leonard Doyle, porta-voz-chefe da Organização Internacional para a Migração.
"Um problema interno da Europa está sendo examinado mais uma vez após o choque de Paris", acrescentou Doyle.
Mesmo assim, os hot spots já estavam sido discutidos em Bruxelas desde a primavera, e a construção do primeiro centro deste tipo em Lesbos só começou este mês.
Enquanto isso, o governo grego, que vem se debatendo com uma grave crise econômica, tem estado sobrecarregado com a chegada de mais de 700 mil imigrantes este ano. Sua resposta consistiu, em grande parte, em passar o problema para outros países, praticamente dando passagem aos imigrantes sem coletar impressões digitais ou checar possíveis ligações com terroristas.
Embora a queda da temperatura e o mar mais hostil tenha diminuído o número de imigrantes que chegaram à Grécia nas últimas semanas, uma média de 5.100 refugiados ainda desembarcaram por dia durante este mês.
Para ajudar, a Frontex, a unidade de proteção das fronteiras da União Europeia, enviou 16 barcos, um avião, um helicóptero e três carros de patrulha para cinco ilhas gregas.
Em outubro, ela também pediu aos países membros 775 funcionários para ajudar nas tarefas da fronteira, entre elas a coleta de digitais, triagem, tradução, entrevistas e análise de documentos. Até agora, foram prometidos 420, mas apenas 163 se materializaram.
"No momento, temos de nos concentrar no registro e na segurança", disse Fabrice Leggeri, diretor executivo da Frontex, que tem sede em Varsóvia, na Polônia.
"Mas a realidade agora é que, se você cruzar a fronteira ilegalmente ou entrar por um hot spot, o nível de checagem de segurança na verdade é menor do que nos postos de cruzamento oficiais", acrescentou. "Isso precisa mudar."
Ainda existem obstáculos burocráticos, no entanto. De acordo com a legislação europeia em vigor, os funcionários da Frontex não têm acesso aos bancos de dados necessários para fazer verificações de segurança completas, deixando essa tarefa para a polícia grega e atrasando o processo.
Uma proposta para ampliar o acesso ao banco de dados e incluir a Frontex foi lançada em Bruxelas, mas ela ainda está bem longe de ser aprovada.
"Com otimismo, podemos dizer que levará 12 meses", disse Leggeri. "Teremos um enorme problema de segurança se não conseguirmos registrar direito as pessoas e tirar suas impressões digitais."
Manolakellis, o engenheiro que supervisiona a construção do novo centro de acolhimento da União Europeia aqui, disse que o local, uma vez concluído, será capaz de registrar 1.400 pessoas por dia.
Um segundo centro de registro, menor, estará pronto em janeiro e poderá registrar mais de 800 pessoas por dia. Um terceiro, num terreno adjacente do Exército grego, aumentará este número para 3.500 por dia quando concluído.
Um segundo campo de refugiados não muito longe dali, em Kara Tepe, para onde as famílias sírias são enviadas, também será reconfigurado para processar 2.000 refugiados por dia, disse ele, e um terceiro local, para os menores não acompanhados e pessoas com necessidades especiais, está sendo projetado.
Mesmo assim, disse Manolakellis, a capacidade ainda ficará aquém do que necessário para processar os sete mil a dez mil refugiados que chegaram em Lesbos nos dias mais movimentados nos últimos meses.
Autoridades disseram que haveria uma melhoria drástica sobre as condições atuais, mas Manolakellis não estava muito otimista. "Temo que o fluxo continue no próximo verão", disse ele, "e até mesmo este novo centro ficará sobrecarregado."
Tradutor: Eloise De Vylder
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