Ruy Fabiano - Blog do Noblat
O dilema do impeachment é o desconhecido que, a partir dele, se instalará. Não se sabe sequer se Dilma Roussef será sucedida por seu vice, Michel Temer, já que este é também réu, ao lado dela, em processo no TSE, que investiga crimes de campanha.
Confirmadas as doações criminosas, com propinas da Petrobras – e há
quanto a isso abundantes indícios, fornecidos pelas delações premiadas
dos doadores –, caem presidente e vice.
Nessa hipótese, pouco considerada – embora menos remota do que parece -, quais as alternativas de sucessão? E aí entra em cena o fator que distingue o atual processo daquele que depôs Fernando Collor: não há lideranças no Congresso (ou fora dele) à altura da complexidade do momento.
Naquele tempo, nomes como Ulysses Guimarães, Mário Covas, Franco Montoro e Leonel Brizola, entre outros, estavam em plena atividade, liderando seus pares na Câmara e no Senado, com absoluto comando sobre suas respectivas bancadas. Não há hoje nada nem remotamente parecido.
Outro ponto: Collor não dispunha de um partido de verdade. Seu PRN era ridicularizado por ele próprio. Sem base social, sem ter tido tempo para ocupar a máquina estatal, bastaram quatro ou cinco manifestações, já então sob a hegemonia petista das ruas (hoje perdida), e com apoio dos governadores, que favoreceram sua organização, para apeá-lo do cargo. Saiu sem qualquer reação.
Hoje, em que pese o fato, atestado em sucessivas pesquisas, de que o impeachment é desejado por mais gente ainda que naquela época – mais de dois terços da população -, não há conexão entre a política institucional e as ruas.
As manifestações, bem maiores que as que investiram contra Collor, ocorrem numa espécie de universo paralelo, ainda que reunindo milhões, em atos simultâneos, país afora.
O povo vaia os políticos em seu conjunto e, por falta de interlocução, não vê no horizonte lideranças qualificadas para suceder e superar a hecatombe petista.
Quando não há saída política – e ela não está sendo efetivamente construída -, a desordem se instala (não é casual o retorno dos black blocs às ruas) e o risco de intervenção militar, que ninguém deseja, torna-se efetivo. A omissão favorece o caos.
Em 13 anos de reinado, o PT aparelhou a máquina estatal e as instituições mais tradicionais da sociedade civil, como OAB, ABI, CNBB e UNE (que estiveram à frente do impeachment de Collor), além do aparato sindical e de organizações predadoras como MST, MTST e Movimento Passe Livre. Haverá (está havendo) resistência.
Michel Temer, além dos riscos que corre no TSE, não é Itamar Franco; não tem a mesma confiabilidade, nem o mesmo poder aglutinador, nem lideranças políticas de peso a seu lado.
A oposição – se é que há uma – não o corteja, nem se exibe a seu lado. A rigor, à exceção de meia dúzia de gatos pingados – e o momento, mais que nunca, exige ação conjunta e articulada -, não se exibe em parte alguma, a ponto de sua existência ter se transformado num problema metafísico: existirá mesmo?
Mais: Temer é, hoje, contestado dentro de seu próprio partido, o PMDB, cuja presidência exerce há anos, mas corre agora o risco de perdê-la, em face de manobras do governo federal, associado ao senador Renan Calheiros – que quer sua renúncia - e ao PMDB fluminense, de sumidades como o governador Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o deputado Leonardo Picciani.
Se não tem consenso onde reina há anos, como supô-lo em relação ao conjunto do país? E vive um paradoxo: se o processo de impeachment o distancia de Dilma, o processo do TSE os aproxima; é uma causa comum, a ser defendida por advogados comuns – e isso mostra a ambiguidade do quadro.
A principal liderança oposicionista, o octogenário ex-presidente Fernando Henrique, que se diz aposentado, garante que não disputará mais cargo algum – e política é por excelência campo de disputa. Sua liderança, pois, é mais honorária, platônica.
Mesmo assim, intervém mais na cena política, ainda que de maneira vacilante – uma hora morde, outra assopra -, que o senador Aécio Neves, cuja omissão dilui o patrimônio de 51 milhões de votos obtidos há pouco mais de um ano. Sua liderança está longe de espelhar aquela performance.
O governo Dilma não cairá: já caiu. O que se vê são seus escombros. Mas foi derrubado por si próprio, não pela oposição. O trabalho foi feito pela Lava Jato e pelo desastre econômico – e será por aí que os escombros serão removidos. Mas o que está em pauta é o day after – e dele as oposições têm que começar a cuidar.
Ninguém crê no que diz a presidente, ninguém investe um centavo em nada, a economia está paralisada, com índices apavorantes. Ministros do primeiro time, como Jacques Wagner (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social) e Aloizio Mercadante (Educação), além de outros menos relevantes, sem contar o líder de todos, Lula, estão sob investigação policial.
O governo está literalmente na delegacia, mas e daí? Ninguém se move. O ex-deputado Arnaldo Madeira, um dos fundadores do PSDB, disse esta semana que “não há motivos para o impeachment”. Pois é.
A única proposta alternativa para a crise econômica foi apresentada pelo PMDB de Temer, “Uma ponte para o futuro”, que com certeza nem Pezão, nem Picciani, nem Eduardo Cunha, nem Renan Calheiros leram – e esses são hoje os protagonistas do partido, que se nutre da crise, com mais demandas por cargos.
Resta a saída proposta pelo senador Ronaldo Caiado (DEM-GO): eleições federais – Presidência da República, Câmara dos Deputados e Senado -, em outubro, junto com as eleições municipais. É a solução, mas alguém acredita nisso?
Nessa hipótese, pouco considerada – embora menos remota do que parece -, quais as alternativas de sucessão? E aí entra em cena o fator que distingue o atual processo daquele que depôs Fernando Collor: não há lideranças no Congresso (ou fora dele) à altura da complexidade do momento.
Naquele tempo, nomes como Ulysses Guimarães, Mário Covas, Franco Montoro e Leonel Brizola, entre outros, estavam em plena atividade, liderando seus pares na Câmara e no Senado, com absoluto comando sobre suas respectivas bancadas. Não há hoje nada nem remotamente parecido.
Outro ponto: Collor não dispunha de um partido de verdade. Seu PRN era ridicularizado por ele próprio. Sem base social, sem ter tido tempo para ocupar a máquina estatal, bastaram quatro ou cinco manifestações, já então sob a hegemonia petista das ruas (hoje perdida), e com apoio dos governadores, que favoreceram sua organização, para apeá-lo do cargo. Saiu sem qualquer reação.
Hoje, em que pese o fato, atestado em sucessivas pesquisas, de que o impeachment é desejado por mais gente ainda que naquela época – mais de dois terços da população -, não há conexão entre a política institucional e as ruas.
As manifestações, bem maiores que as que investiram contra Collor, ocorrem numa espécie de universo paralelo, ainda que reunindo milhões, em atos simultâneos, país afora.
O povo vaia os políticos em seu conjunto e, por falta de interlocução, não vê no horizonte lideranças qualificadas para suceder e superar a hecatombe petista.
Quando não há saída política – e ela não está sendo efetivamente construída -, a desordem se instala (não é casual o retorno dos black blocs às ruas) e o risco de intervenção militar, que ninguém deseja, torna-se efetivo. A omissão favorece o caos.
Em 13 anos de reinado, o PT aparelhou a máquina estatal e as instituições mais tradicionais da sociedade civil, como OAB, ABI, CNBB e UNE (que estiveram à frente do impeachment de Collor), além do aparato sindical e de organizações predadoras como MST, MTST e Movimento Passe Livre. Haverá (está havendo) resistência.
Michel Temer, além dos riscos que corre no TSE, não é Itamar Franco; não tem a mesma confiabilidade, nem o mesmo poder aglutinador, nem lideranças políticas de peso a seu lado.
A oposição – se é que há uma – não o corteja, nem se exibe a seu lado. A rigor, à exceção de meia dúzia de gatos pingados – e o momento, mais que nunca, exige ação conjunta e articulada -, não se exibe em parte alguma, a ponto de sua existência ter se transformado num problema metafísico: existirá mesmo?
Mais: Temer é, hoje, contestado dentro de seu próprio partido, o PMDB, cuja presidência exerce há anos, mas corre agora o risco de perdê-la, em face de manobras do governo federal, associado ao senador Renan Calheiros – que quer sua renúncia - e ao PMDB fluminense, de sumidades como o governador Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o deputado Leonardo Picciani.
Se não tem consenso onde reina há anos, como supô-lo em relação ao conjunto do país? E vive um paradoxo: se o processo de impeachment o distancia de Dilma, o processo do TSE os aproxima; é uma causa comum, a ser defendida por advogados comuns – e isso mostra a ambiguidade do quadro.
A principal liderança oposicionista, o octogenário ex-presidente Fernando Henrique, que se diz aposentado, garante que não disputará mais cargo algum – e política é por excelência campo de disputa. Sua liderança, pois, é mais honorária, platônica.
Mesmo assim, intervém mais na cena política, ainda que de maneira vacilante – uma hora morde, outra assopra -, que o senador Aécio Neves, cuja omissão dilui o patrimônio de 51 milhões de votos obtidos há pouco mais de um ano. Sua liderança está longe de espelhar aquela performance.
O governo Dilma não cairá: já caiu. O que se vê são seus escombros. Mas foi derrubado por si próprio, não pela oposição. O trabalho foi feito pela Lava Jato e pelo desastre econômico – e será por aí que os escombros serão removidos. Mas o que está em pauta é o day after – e dele as oposições têm que começar a cuidar.
Ninguém crê no que diz a presidente, ninguém investe um centavo em nada, a economia está paralisada, com índices apavorantes. Ministros do primeiro time, como Jacques Wagner (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social) e Aloizio Mercadante (Educação), além de outros menos relevantes, sem contar o líder de todos, Lula, estão sob investigação policial.
O governo está literalmente na delegacia, mas e daí? Ninguém se move. O ex-deputado Arnaldo Madeira, um dos fundadores do PSDB, disse esta semana que “não há motivos para o impeachment”. Pois é.
A única proposta alternativa para a crise econômica foi apresentada pelo PMDB de Temer, “Uma ponte para o futuro”, que com certeza nem Pezão, nem Picciani, nem Eduardo Cunha, nem Renan Calheiros leram – e esses são hoje os protagonistas do partido, que se nutre da crise, com mais demandas por cargos.
Resta a saída proposta pelo senador Ronaldo Caiado (DEM-GO): eleições federais – Presidência da República, Câmara dos Deputados e Senado -, em outubro, junto com as eleições municipais. É a solução, mas alguém acredita nisso?
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