sábado, 28 de maio de 2016

Belíndia, RIP
Igor Gielow - FSP
BRASÍLIA - O economista Edmar Bacha cunhou nos anos 1970 o termo Belíndia, ficção que externava a nossa miséria distributiva ao combinar no Brasil o conceito de uma nação que unia a Bélgica (o mundo da tal elite) e a Índia (todo o resto).
Esta semana que acaba provou novamente a obsolescência do modelo. A Índia figurativa venceu, e isso não faz justiça à parte Bélgica do país do Sul da Ásia, que é um pujante celeiro de cérebros e inovações –a parte Índia-Índia deixo para outro dia.
Primeiro, os grampos revelados por obra do repórter Rubens Valente, desta Folha, exprimindo as maravilhas do pensamento de nossa casta política. Eles não provam nenhum "golpe", como os ingênuos e/ou espertos se apressam a dizer, mas são exemplos acabados de como um estrato mínimo da população trata de seus interesses: com a certeza de alguma impunidade possível por meio do famoso acordão.
Isso exclui a possibilidade de manipulações outras? Claro que não, por ora ao menos. Mas demonstra didaticamente como se desenrola a falência moral de nossos brâmanes, para ficar na analogia hindu.
Nossa Índia que falhou ficou explícita com o caso do estupro da garota no Rio. "Gang rape" à Nova Déli? O episódio mostra o fracasso desse eufemismo chamado "pacificação de comunidades", naturalmente sem imputar violência à pobreza ou à maioria inocente que lá mora, para não falar na impotência cultural ao tratar da barbárie machista.
Para completar, nesta sexta (27) especialistas recomendaram que a Olimpíada seja retirada do Rio, ou adiada, devido ao zika. Descontado o exagero que ignora a sazonalidade do mosquito, é isso: somos para o mundo uma desgraça de país, um antro de infecções e corrupções.
Viramos uma terra na qual a melhor escapatória reside no aeroporto internacional mais próximo. Esqueça a Belíndia: nessas horas vivemos na Índia proverbial dos anos 1970. 

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