A arrecadação sob impacto
Celso Ming - OESP
Tem muita gente no governo puxando os
cabelos pelo decepcionante desempenho da arrecadação do governo
federal. Foi o mês de maio mais fraco desde 2011, alta real (descontada a
inflação) sobre o mês de abril de apenas 0,31% - veja o gráfico.
A argumentação ontem apresentada pelo secretário adjunto da
Receita Federal, Luiz Fernando Teixeira Nunes, de que esse resultado
medíocre se deve ao baixo desempenho do setor produtivo (avanço do PIB),
é parte relevante da verdade, mas só parte.
A avaliação do resto da verdade tem de levar em conta que esse
crescimento chinfrim do PIB já é consequência das opções equivocadas de
política econômica nos últimos três anos e mantidas até aqui, algo que
não precisa ser repisado.
Mas há outros fatores relevantes que concorrem para essa receita
decepcionante não só do Tesouro, mas de todo o setor público, que
inclui Estados e municípios. Um deles é o cada vez mais mencionado (por
outras razões) achatamento dos preços administrados - tarifas de energia
elétrica, combustíveis, transportes urbanos e outros. Eles correspondem
a nada menos que um quarto dos itens da cesta de consumo. O
represamento desses preços derruba a base (preço) sobre a qual são
calculados os impostos. Portanto, derruba a arrecadação.
Mecanismo equivalente a esse atua sobre os preços dos produtos
importados. Como o Banco Central opera, no momento, para manter mais
baixas as cotações do dólar, os preços em reais dos produtos importados
também ficam mais baixos e sobre esse preço mais baixo são cobrados
impostos, também alguma coisa mais baixos.
E há as renúncias fiscais, as reduções de impostos para empurrar
a indústria. Mais uma vez o governo federal se deixou comover pelo
lobby das montadoras e deve manter reduzido o IPI dos veículos. Ou seja,
menos impostos continuarão a fazer falta ao caixa do Tesouro. E olhem
que há apenas três semanas o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
advertia que esse setor da indústria afinal teria de aprender a caminhar
com as próprias pernas (ou, mais apropriadamente, as próprias rodas).
Afora o impacto sobre a arrecadação, não faz sentido beneficiar apenas a
indústria de veículos e deixar de fora da distribuição de bondades
outros setores que enfrentam penúria igual ou até maior.
E não dá para desconsiderar o efeito negativo sobre a
arrecadação produzido pelo desânimo. Ontem, por exemplo, a Confederação
Nacional da Indústria (CNI) divulgou o levantamento de junho sobre o
nível de confiança do consumidor. E o que se viu foi o ponto mais baixo
desde setembro de 2005.
Consumidor inseguro sobre o futuro do emprego e de seu salário
tende a adiar as compras, a evitar compromissos financeiros (dívidas) e a
assumir uma postura mais conservadora na administração do seu
orçamento. E, outra vez, o impacto dessa atitude acaba se refletindo na
arrecadação de impostos e na perda de capacidade do governo de cumprir
suas metas fiscais.
Enfim, mais razões a indicar que a economia precisa de um choque de credibilidade.
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