Imagina na campanha
Dora Kramer - OESP Quando a popularidade lhe era risonha e franca, a presidente Dilma Rousseff posava de leoa. A cada escândalo denunciado pela imprensa demitia um ministro e contabilizava o ato como lucro do governo no altar da austeridade.
Tratava o Congresso com indiferença e, a julgar pelas versões da assessoria palaciana sempre pronta a divulgar o quanto ela estava "irritada" com isso ou aquilo, lidava com a equipe na base da aspereza e da impaciência.
Agora, à medida que o sorriso da opinião pública amarela a cabeça da presidente Dilma Rousseff vai baixando e seus joelhos vão dobrando. Faz algum tempo que não se ouve mais falar que tenha ficado irritada com algo ou com alguém.
A mansidão chegou ao auge da submissão agora na fase final de fechamento das coligações concorrentes à Presidência. O PR, que havia sido envolvido em denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes, passou a mandar na presidente.
O partido não gostou da substituição de Alfredo Nascimento por César Borges porque o escolhido por Dilma não atendia a contento os interesses dos parlamentares do PR. Dava preferência às questões do ministério.
A presidente achava que estava certo. Mas parou de achar assim que o PR endureceu e disse que não lhe daria os seus 62 segundos de tempo de televisão se ela não providenciasse a troca. Com isso, tirou-se César Borges do caminho do PR.
Acertada a aprovação do apoio a Dilma na convenção de segunda-feira, é de se supor que o partido esteja satisfeito com a parte do latifúndio da máquina pública que lhe foi reservado. Para fazer o quê? Se antes reclamava atendimento a questões particulares, para atender ao interesse público é que não deve ser.
Dúvida semelhante paira sobre o empenho (para dizer o mínimo) da cúpula do PP em arrancar à força a aprovação da aliança, sem submeter a questão aos votos dos convencionais para não correr o risco da derrota. O presidente, senador Ciro Nogueira, simplesmente avocou a decisão à Executiva e deixou o recinto sob as vaias e os gritos de "vendido" de seus correligionários.
Ora, quando um acordo com o governo se sobrepõe ao compromisso da direção com o próprio partido que por isso é obrigado a recorrer à Justiça Eleitoral em defesa do direito colegiado de escolher, algo de obscuro há para que se recorra ao "manu militari" como solução de emergência. E esse "algo" tem a digital do Estado.
A semana fechou com a revelação de que a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República pediu ao PMDB a lista dos nomes dos prefeitos do Rio de Janeiro que estiveram no lançamento do movimento "Aezão", duas semanas atrás.
Esses prefeitos apoiam a candidatura do governador Luiz Fernando Pezão, do PMDB, para o governo do Estado e do senador Aécio Neves (PSDB) para a Presidência. Segundo o ministro das Relações Institucionais, a ideia é convidar esses prefeitos para almoçar. "É do jogo", disse ele.
Sim, do jogo eleitoral, no qual pela regra não se inclui o Palácio do Planalto. Uma coisa é o assédio partidário sobre prefeitos que tendem a migrar para o adversário. Normal. Disputa de apoio político.
Outra coisa bem diferente é um "convite para almoçar" partindo da Presidência da República, com todo o peso dos instrumentos de poder que isso lhe confere. Sem contar que o mero envio de e-mail ao PMDB com o pedido da lista para esse fim já caracteriza um ato de auxílio ao comitê de campanha da candidata à reeleição.
Se isso não se configura abuso e uso indevido do bem público, francamente, fica difícil definir o que seja. E se as coisas já estão assim nessa altura dos acontecimentos, quando a presidente, com todos os reveses, ainda está em primeiro lugar nas pesquisas, é de se imaginar do que será capaz o partido no poder para não correr o risco de perder o poder, quando de fato começar a campanha.
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