Nada de bandeira da Europa
Gilles Lapouge - OESP
O premiê britânico, David Cameron, está
presente na cúpula europeia que se realiza em Ypres, na Bélgica. Ele
esvaziará a taça do fracasso, pois o homem que detesta, o luxemburguês
Jean-Claude Juncker, ficará muito provavelmente na chefia da Comissão
Europeia.
Há semanas Cameron faz de tudo para
impedir a sagração de Juncker. Em sua cruzada "anti-Juncker" ele tentou
alistar a chanceler alemã, Angela Merkel, e os governantes da Suécia e
da Holanda. Fiasco.
Cameron esperava que os países
europeus governados por socialistas (França, Itália) varreriam Juncker
porque ele é de "direita". Novo fiasco. Todos os países socialistas
votarão por Juncker.
O líder britânico se deu mal nisso,
se mostrou tão sectário que obteve um resultado inverso ao que
procurava. Ele aproximou da causa de Juncker pessoas que antes não
gostavam muito do luxemburguês, considerado um homem muito acabado.
Merkel, por exemplo, não suportava esse velho Juncker, mas diante da
agressividade de Cameron, acabou por se ligar ao luxemburguês.
Essa
agressividade tem provavelmente motivações psicológicas. Mas a
verdadeira reprovação é política: Juncker é um "europeu". Há muito tempo
ele criou a moeda comum, este euro tão odiado pelos britânicos que,
aliás, jamais o adotaram.
E eis o pior: não só Juncker é um "europeu" fanático, mas também quer construir uma "Europa federal".
Esta
perspectiva faz ferver o sangue de qualquer britânico. A rigor, um
britânico poderia aceitar uma Europa comercial, uma grande zona de livre
comércio, mas uma Europa política, que horror! Em seu combate perdido,
Cameron tinha aliados poderosos: a maioria dos ingleses. O jornal The
Sun exibe um retrato de Juncker sob este título enorme: "O homem mais
perigoso da Europa". Outro tabloide chegou a dizer que o pai de Juncker
era um simpatizante nazista quando, na realidade, ele havia sido
alistado à força, como todos os luxemburgueses, na Wehrmacht.
Desse
violento sentimento antieuropeu na Inglaterra, 2014 oferece belas
ilustrações. O centenário da 1.ª Guerra será comemorado em novembro,
data do armistício. Ora, o Foreign Office (Ministério das Relações
Exteriores) em Londres pediu aos diplomatas franceses do Quai d'Orsay (a
chancelaria francesa) que nesse dia, a bandeira europeia com suas 12
estrelas não ficasse muito visível (informação do Daily Telegraph).
Esta
é uma mania dos britânicos. Ela já se manifestou nas cerimônias
organizadas na Normandia (França) para o aniversário do desembarque dos
Aliados em 6 de junho de 1944. Naquela ocasião, foram hasteadas muitas
"bandeiras europeias".
Os britânicos ficaram furiosos. Por
quê? Porque consideram que a Grã-Bretanha enfrentou sozinha as legiões
nazistas, apesar dos bombardeios, mortes e privações. A seu ver, a
Europa, que na época estava totalmente dominada pelos alemães, estava
fora de combate. É preciso reconhecer que neste ponto os britânicos têm
razão.
Quem passeia pela Inglaterra, raramente verá
flutuando uma bandeira europeia, mesmo nas reuniões políticas com chefes
de Estado europeus.
Por exemplo, em janeiro, houve uma
cúpula reunindo Cameron e Hollande numa base militar inglesa. Só estavam
hasteadas na base a bandeira britânica e a bandeira francesa.
TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
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