Tudo cresce na Ásia, e também o nacionalismo, alimentado por uma infinidade de rixas históricas
Lluís Bassets - El País
Yuya Shino/Reuters
Sacerdotes
do Santuário de Yasukuni, em Tóquio (Japão), se preparam para o
Festival Anual da Primavera. O templo seria, segundo outros países
asiáticos, um símbolo da herança colonialista do Japão na região
Ao lado de Yasukuni, onde nada menos que 2,5 milhões de deuses são venerados, há jardins magníficos com as obrigatórias cerejeiras, um teatro nô, uma quadra de sumô e um museu militar onde são exibidos desde arcos de épocas remotas até aviões e tanques da Segunda Guerra Mundial. Sua entrada é guardada por esculturas de um cavalo, um pastor alemão e um pombo, em homenagem aos animais que morreram em combate. Em um dos pavilhões está a lista de deuses, que em outras latitudes seriam mártires ou caídos. Em um canto há um pequeno monumento, rotulado só em japonês, que presta homenagem a espíritos especiais --os membros da Kempeitai, a polícia secreta do Japão totalitário, equivalente à Gestapo alemã.
Yasukuni foi fundado pelo imperador Meiji em 1872,
primeiro em memória dos mortos nos combates ocorridos na época de
abertura e modernização do país, e após as guerras de agressão
protagonizadas pelo Japão. É preciso visitar Yasukuni para se entender
por que cada vez que o primeiro-ministro se aproxima do santuário, como
fez Shinzo Abe em dezembro passado, provoca a indignação dos governos e
da opinião pública de quase toda a vizinhança asiática.Ao lado de Yasukuni, onde nada menos que 2,5 milhões de deuses são venerados, há jardins magníficos com as obrigatórias cerejeiras, um teatro nô, uma quadra de sumô e um museu militar onde são exibidos desde arcos de épocas remotas até aviões e tanques da Segunda Guerra Mundial. Sua entrada é guardada por esculturas de um cavalo, um pastor alemão e um pombo, em homenagem aos animais que morreram em combate. Em um dos pavilhões está a lista de deuses, que em outras latitudes seriam mártires ou caídos. Em um canto há um pequeno monumento, rotulado só em japonês, que presta homenagem a espíritos especiais --os membros da Kempeitai, a polícia secreta do Japão totalitário, equivalente à Gestapo alemã.
Em suas vitrines, o militarismo japonês se exibe sem pudor, com o único disfarce da autenticidade e da vitimização do nacionalismo, sempre puro e inocente. Os criminosos de guerra são deuses; os camicazes, heróis; o ataque a Pearl Harbor, fruto da intransigência americana; e Hiroshima e Nagasaki, dois bombardeios sem a importância que lhes conferiu a esquerda pacifista japonesa no pós-guerra.
A visita a Yasukuni remete ao peso do passado no continente do futuro. Moon Chang-Keuk, primeiro-ministro coreano recém-nomeado, demitiu-se por ter feito declarações sobre fatos ocorridos há mais de 70 anos. Disse que a colonização da Coreia, de 1910 até 1945, foi a "vontade de Deus".
Como os asiáticos veem seu futuro?, pergunta-se o grupo de pensadores pan-europeu Centro Europeu para Relações Exteriores, no seminário sobre Ásia que organizou esta semana em Tóquio. A resposta, dada pelas notícias políticas de cada dia, e não as econômicas, é muito simples: atirando-se uns contra os outros de cabeça.
Tudo cresce na Ásia: economia, consumo, população, orçamentos de defesa, arsenais militares ou disputas por penhascos semissubmersos; e também o nacionalismo, obrigatoriamente alimentado pelas rixas históricas. O deslocamento de poder que ocorreu no mundo, da bacia atlântica para a do Pacífico, também transferiu a carga sinistra das mesmas pulsões coletivas que outrora atormentaram a Europa, embora a Europa pareça reagir com sua própria ascensão populista e nacionalista, como se fosse sua última reivindicação do poder perdido.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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