Em meio a crise no Iraque, premiê se recusa a fazer concessões e perde apoio
Rod Nordland e Suadad Al Salhy - NYTLíderes políticos xiitas começaram a se reunir na quinta-feira (26) para chegar a um acordo a respeito de quem apoiar para primeiro-ministro em um novo governo, com até mesmo alguns apoiadores do primeiro-ministro, Nouri Al-Maliki, colocando em dúvida a possibilidade de ele ser escolhido para um terceiro mandato, segundo importantes autoridades xiitas.
As consultas deles ocorrem tendo como fundo novo caos causado pela insurreição liderada por sunitas, que sacudiu o país e aprofundou as divisões sobre se Al-Maliki, líder do governo dominado pelos xiitas há sete anos, é capaz de resgatar o Iraque de sua pior crise desde que as forças armadas americanas partiram em 2011.
As forças do governo alegaram ter conseguido uma rara vitória sobre os extremistas escondidos em uma universidade em Tikrit, no norte, enquanto nove homens jovens não identificados foram encontrados mortos a tiros em uma cidade ao sul de Bagdá e uma bomba matou pelo menos oito em um bairro xiita na capital.
Diplomatas ocidentais, assim como poderosos clérigos da maioria xiita do Iraque, pediram ao governo interino de Al-Maliki que acelerasse a formação de um novo governo, encorajando Al-Maliki a atrair os sunitas e curdos para lhe dar mais credibilidade na luta contra os extremistas sunitas.
Mas até o momento ele se recusa a fazer quaisquer concessões aos sunitas e curdos, provocando alarme até mesmo entre outros grupos xiitas. Alguns tentaram formar uma aliança com sunitas e curdos para substituir o primeiro-ministro.
Isso parece difícil. O partido Estado de Direito de Al-Maliki controla pelo menos 92 das 328 cadeiras do Parlamento, enquanto vários dos outros partidos não contam com mais de 33 cada. Uma maioria de 165 cadeiras é necessária para a formação de um governo.
Mas pelo menos dois membros do bloco Estado de Direito expressaram publicamente preocupação com a viabilidade de um terceiro mandato de Al-Maliki.
"Será muito difícil para Maliki manter sua posição", disse Abdul Karim al-Anzi, um ex-ministro da segurança nacional e um proeminente legislador xiita da coalizão Estado de Direito. "A situação é muito complicada e as conversações ainda estão longe de chegar a uma solução. O primeiro-ministro continua dizendo que tem o maior bloco, mas os outros não estão satisfeitos em vê-lo mantendo sua posição. Tanto os curdos quanto os sunitas pedem para que ele seja substituído. Os sunitas e curdos têm sérias objeções a ele."
Quatro outros importantes políticos xiitas –dois do bloco de Al-Maliki e dois de partidos aliados– também expressaram reservas com a manutenção de Al-Maliki para um terceiro mandato, mas não quiseram que seus nomes fossem citados porque as discussões políticas são muito sensíveis.
Os resultados da eleição de 30 de abril foram confirmados pela mais alta corte do Iraque em 17 de junho e a Constituição exige que o Parlamente se reúna em até 15 dias, de modo que terça-feira, 1º de julho, seria o limite do prazo. O Parlamento primeiro escolhe seu presidente, depois o presidente do Iraque, o vice-presidente e então o primeiro-ministro, em um processo que pode levar meses, a julgar por eleições anteriores.
Muitos líderes políticos e diplomatas expressaram esperança de que a formação de um governo possa ocorrer mais rapidamente do que no passado, dada a ameaça ao país pelos militantes islâmicos, que avançaram até menos de 80 quilômetros da capital desde que tomaram a cidade de Mosul, no norte, em 10 de junho.
Assim que a data para o Parlamento foi confirmada, a Aliança Nacional Xiita, que inclui o partido de Al-Maliki assim como outros partidos xiitas, começou a se reunir em um esforço para chegar a um acordo sobre quem ocuparia as principais cadeiras, incluindo a de primeiro-ministro, para apresentar os nomes na segunda-feira, na esperança de formar rapidamente um governo.
Mas o principal grupo sunita, a coalizão Muttahidoon, fez uma declaração na quinta-feira, colocando em dúvida sobre se até mesmo estaria presente no Parlamento se a Aliança Nacional Xiita não decidir a respeito do primeiro-ministro, aparentemente se referindo a uma substituição de Al-Maliki, a quem o Muttahidoon é contrário.
"A participação dos parlamentares da coalizão nas atividades da primeira sessão depende da Aliança Nacional concordar em um candidato para o cargo de primeiro-ministro", disse a declaração do Muttahidoon.
Nabil Salim, um cientista político da Universidade de Bagdá, disse: "É um período muito perigoso e ninguém sabe o que acontecerá. É preciso haver um pacote de acordo, e tudo depende do que acontecerá hoje na reunião do bloco xiita, se vão escolher Maliki ou outra pessoa".
Muitos sunitas em particular querem ver uma mudança na Constituição para limitar futuros primeiros-ministros a dois mandatos. Os sunitas também querem uma garantia de um dos principais ministérios de segurança, seja o da Defesa ou o da Polícia, e a soltura dos presos que permanecem detidos sem acusações ou mesmo, em muitos casos, após suas absolvições.
Os curdos estão buscando concessões que permitam que exportem e vendam petróleo encontrado nas áreas curdas, sem permissão do governo central.
Até o momento, Al-Maliki provou não estar disposto a fazer nenhuma concessão satisfatória aos sunitas e curdos.
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