Bacanal na Justiça
Merval Pereira - O Globo
O PMDB, por exemplo, que dá seu
apoio oficial e o tempo de propaganda de rádio e televisão para a
candidatura presidencial de Dilma Rousseff, está coligado nos estados a
diversos partidos, apoiando ora o candidato tucano Aécio Neves ou o
socialista Eduardo Campos. Nesses casos, a propaganda oficial do partido
na parte dedicada à presidência da República só pode ser feita a favor
da candidata petista.Mas no tempo dedicado aos senadores e ao governador, como fica a situação do partido que abriu dissidência nos estados? Na Bahia, por exemplo, o candidato a governador da dissidência peemedebista é Paulo Souto, do DEM, com Geddel Vieira Lima, do PMDB disputando o Senado. A chapa regional apóia o candidato do PSDB à presidência. Não poderão fazer campanha para Aécio Neves em seus tempos de televisão?
Em São Paulo haveria o problema de o candidato ao Senado ser do PSD, que apóia nacionalmente Dilma, fazer campanha para o governador Geraldo Alckmin, mas não para o candidato a presidente tucano Aécio Neves. Como Kassab decidiu apoiar Skaff, do PMDB, está tudo certo, mas por acaso.
O Partido Progressista (PP), que formalmente apóia a presidente Dilma Rousseff, tem tantas dissidências regionais que foi obrigado a aprovar em sua convenção uma regra explícita de permissão a apoios regionais.
Com base no artigo 17 da Constituição Federal, que assegura aos partidos autonomia “para adotar critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal”, a Convenção Nacional decidiu autorizar a coligação nos estados “a um ou mais partidos, independentemente da composição de eventual coligação integrada pelo partido para a eleição para a presidência da República”.
Não fosse seu presidente honorário o senador Francisco Dornelles, que já anunciou seu apoio e o do PP do Rio à candidatura de Aécio Neves, o PP ainda colocou na decisão de sua convenção a permissão para que as executivas estaduais não apenas apóiem, mas também dividam o tempo de propaganda eleitoral no rádio e televisão, além de impressos e qualquer outro tipo de propaganda.
A tentativa do PT de neutralizar as dissidências internas na sua coligação impossibilitando que os partidos efetivem seus apoios através da propaganda de rádio e televisão é vista por muitos como um “golpe”, pois a intenção seria neutralizar as forças políticas que deixaram a base de apoio governista.
O senador Francisco Dornelles trata a questão com a seriedade que ela merece, mas dá a ela o tom irônico que denuncia o ridículo da situação: “Querem esconder o que é permitido”. Se a legislação eleitoral derrubou a verticalização, que fora decretada para a eleição de 2006 a partir de uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral do deputado Miro Teixeira, e cada partido está liberado para fazer suas coligações regionais sem ligação com a nacional, como impedir que usem seus horários partidários para divulgá-las?
Todos os partidos estão preparando suas propagandas eleitorais com base na realidade das coligações locais. Se houver alguma provocação ao TSE sobre a questão, é certo que a questão será levada até o Supremo Tribunal Federal, o que dará à eleição deste ano mais uma faceta, a da judicialização política que ajudará a radicalizar ainda mais o ambiente eleitoral.
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