Finanças da Petrobras ficaram à mercê da política
Mesmo para uma grande companhia petrolífera, o
endividamento da estatal está acima do que a própria empresa considera
recomendável
O Globo
O endividamento da Petrobras está muito acima do recomendável. Mesmo no
caso de grandes empresas petrolíferas, que podem negociar suas reservas
de óleo e gás por valores expressivos em curto espaço de tempo, o
envidamento deve ter uma certa proporção em relação a seu patrimônio
líquido. A própria Petrobras tem como meta reduzir essa proporção para
30% nos próximos anos (39%, no primeiro trimestre).
Para que isso
aconteça, a empresa terá que gerar mais caixa nos próprios negócios, já
que a possibilidade de recorrer ao mercado para se capitalizar é
desaconselhada pelos especialistas, devido ao temor de desvalorização
nos preços das ações (ainda que a iniciativa pudesse melhorar as
finanças da companhia no médio e longo prazos). Isso porque a última
capitalização da empresa, que envolveu uma operação de cessão onerosa de
blocos de exploração de petróleo, por parte de seu principal acionista
(o Tesouro), teve uma repercussão negativa que se reflete ainda hoje nas
bolsas de valores.
Assim, não resta à Petrobras outra opção que
não a de se financiar com lucros e a evolução dos seus negócios. Mas,
para se tornar mais lucrativa, possivelmente a empresa terá de reduzir
seu endividamento, o que a obriga a quebrar o círculo vicioso que a
envolveu desde o início do governo Lula.
Como os preços dos
combustíveis que a empresa mais vende internamente (gasolina e diesel)
permanecem desalinhados em relação aos que vigoram no mercado
internacional, a companhia acaba acumulando prejuízos, já que, para
atender ao consumo doméstico, é a responsável por importar grandes
volumes desses produtos (herança do anacrônico monopólio, que tornou a
Petrobras única proprietária de refinarias no país). Para aumentar a
produção desses derivados de petróleo, a estatal constrói duas
refinarias, que vão gerar receita apenas em alguns anos. Tais
investimentos agora pesam no fluxo de caixa da estatal.
O governo
negociou semana passada com a Petrobras uma ampliação das reservas à
disposição da companhia nos campos da camada do pré-sal da Bacia de
Santos que já haviam sido cedidos a ela de maneira onerosa. Isso
implicará novos desembolsos da companhia sem que tenha sido resolvido a
questão do seu alto endividamento. Foi, na verdade, mais uma operação de
contabilidade criativa, a fim de a estatal transferir para o Tesouro,
apenas este ano, R$ 2 bilhões a título de bônus pelas áreas recebidas.
A
Petrobras terá necessariamente de buscar parceiros para concretizar sua
enorme gama de investimentos, ou até mesmo vender parcial ou
integralmente alguns ativos. Nesse caso, a política deve interferir o
menos possível, pois se trata de uma questão técnica. A interferência
política comprometeu as finanças da Petrobras. A empresa só vai
conseguir se recuperar se as decisões técnicas prevalecerem. Caso o
governo deixe de utilizá-la com objetivos político-partidários.
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