domingo, 31 de agosto de 2014


Agricultores da Europa sentem o peso do boicote da Rússia  
Os exportadores de queijo franceses representam uma fatia pequena do mercado agrícola europeu atingido pelo boicote russo sobre produtos alimentares selecionados por causa do conflito na Ucrânia.
Celestine Bohlen- TINYT
Ivan Sekretarev/AP
7.ago.2014 - Russas compram tomates holandeses em supermercado no centro de Moscou. O governo russo proibiu as importações de carne, peixe, leite e derivados, frutas e legumes dos Estados Unidos, União Europeia, Austrália, Canadá e Noruega 7.ago.2014 - Russas compram tomates holandeses em supermercado no centro de Moscou. O governo russo proibiu as importações de carne, peixe, leite e derivados, frutas e legumes dos Estados Unidos, União Europeia, Austrália, Canadá e Noruega
Em 7 de agosto, caminhões carregando queijo francês foram recusados na fronteira russa e obrigados a fazer a viagem de volta de 2.000 quilômetros com carregamentos perecíveis de brie, camembert, roquefort e outras iguarias.
"A peculiaridade desta decisão foi que foi implementada imediatamente, de um dia para o outro", lamentou Johann Hugon, gerente de exportação da Fromi Rungis, uma exportadora de queijos franceses que teve dificuldades para descarregar dez toneladas de queijo. "Sentimo-nos impotentes."
O setor de queijos francês é apenas uma fatia do mercado agrícola europeu que está sentindo o peso de um boicote russo sobre produtos alimentares selecionados da União Europeia, bem como dos Estados Unidos, Austrália, Noruega e Canadá. As sanções foram impostas como parte da disputa pelo futuro da Ucrânia.
Em 2013, a França exportou 109 milhões de euros (ou US$ 114 milhões) em laticínios – a maior parte queijo – para a Rússia, cerca de 5% do total das exportações de laticínios. Para a Fromi Rungis, a Rússia responde por 10% de suas vendas ao exterior.
Jean-Charles Arnaud, proprietário da Fromagerie Arnaud em Poligny, ao nordeste de Lyon, está contando seu prejuízo. Ele inclui não só um caminhão com 18 toneladas de queijo que voltou da fronteira russa, mas dois anos de trabalho educando os consumidores russos a apreciar os queijos comté, morbier, mont d'or e outras especialidades das Montanhas Jura.
"Devemos ter passado milhares de dias fazendo apresentações em lojas na Rússia explicando como fazemos nosso queijo", disse Arnaud. "Nosso queijo não é só proteína e gordura. É uma cultura, uma tradição, produzido com um alto controle de qualidade."
"Por exemplo, nós exigimos 10 metros quadrados de pasto por vaca", ele continuou. "Dessa forma, podemos garantir que nossas vacas fiquem felizes, tenham alimento suficiente e diversidade suficiente. O sabor específico de cada queijo vem das flores em nossas montanhas."
Ao longo dos últimos 20 anos, esse tipo de venda conseguiu persuadir os consumidores russos a buscar variedades mais sofisticadas e caras de queijo. Agora esse esforço encontrou um obstáculo. Entrar no mercado russo, antes de mais nada, não é nada fácil, disseram vários exportadores.
"É preciso energia, paciência e persistência", disse Hugon.
Os inspetores sanitários russos – que testam a radioatividade dos alimentos, por exemplo – são meticulosos, caprichosos e, às vezes, políticos (quatro filiais do McDonald's em Moscou, vistas por muitos como um símbolo do Ocidente, foram temporariamente fechadas por violações do "código sanitário").
"Em nenhum lugar é fácil", disse Arnaud, "mas a Rússia tem exigências especiais."
Os criadores de porcos da Europa que o digam, uma vez que suas exportações para a Rússia foram suspensas em fevereiro, depois que porcos selvagens infectados com a doença suína africana foram vistos na Polônia e em estados do Báltico. Todos os 28 países da União Europeia – muitos deles bem distantes dos porcos infectados – foram afetados.
A indústria suína francesa antecipa perdas de 400 milhões de euros este ano por causa dos embargos russos, mais 200 milhões de euros em perdas para abatedouros e outras empresas do setor.
Agora, as esperanças de retirada do embargo sobre a carne de porco caíram por terra com as novas sanções de um ano, ameaçando mais perdas para os criadores e abatedouros.
"Não estamos felizes, nem um pouco felizes", disse Paul Auffray, presidente da associação nacional de criadores de porcos e criador de Brittany. "Estamos reféns de uma situação que está fora do nosso controle."
Nem todos os fazendeiros franceses estão sofrendo. Os fabricantes de queijos próximos da cidade de Annecy, no sudeste de França, foram menos afetados porque seu principal produto, o reblochon, é frágil demais para ser exportado para a Rússia. Vinhos e bebidas destiladas ficaram isentos das sanções, o que é uma boa notícia para os produtores de vinhos franceses, que em 2013 tinham uma fatia de 21,7 do mercado russo.
A União Europeia prometeu 125 milhões de euros para comprar o excesso de frutas e vegetais criado pelas sanções russas. Mas o medo é que um mercado antes promissor logo seja atendido por produtos concorrentes de outros países – como a Suíça – que não está na lista das sanções. "Um ano é muito tempo", disse Arnaud.
Os produtores agropecuários franceses são famosos por reclamar, mas desta vez, estão mais decepcionados.
"Perceba que isso não está afetando o petróleo ou o gás, armas, finanças, vinhos ou itens de luxo", disse Auffray. "Apenas nós, camponeses, que fomos pegos no meio desse imbroglio."
Tradutor: Eloise De Vylder

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