domingo, 31 de agosto de 2014


Mortes por heroína crescem em NY; perfil de usuários mudou
J. David Goodman - NYT
A crise por conta do consumo de heroína que aflige comunidades por todo o país se aprofundou em Nova York no ano passado, quando mais pessoas na cidade morreram de overdose da droga do que em qualquer ano desde 2003.
Ao todo, 420 pessoas tiveram overdoses fatais de heroína em 2013, de um total de 782 overdoses por drogas, um número que não era visto há uma década tanto em termos absolutos quanto proporcionalmente à população, de acordo com dados anuais preliminares do departamento de saúde do município.
A taxa de mortes por heroína mais do que dobrou ao longo dos últimos três anos, apresentando um desafio crescente para os oficiais da cidade que até agora não conseguiram reverter a tendência. Por outro lado, em meio a um esforço para conter o abuso de remédios controlados, especialmente em Staten Island, as overdoses de comprimidos de opiáceos não cresceram durante o mesmo período, com 213 mortes registradas em 2013.
Os dados, que serão divulgados na quinta-feira, acompanham o alastramento da heroína em novas áreas da cidade, que atingiu mais os novaiorquinos brancos e de maior renda, mas também aumentou entre os usuários hispânicos mais velhos no Bronx.
O maior aumento foi em Queens, onde 81 pessoas morreram no ano passado em comparação com 53 no ano anterior, um aumento que o departamento de saúde atribuiu principalmente a um uso crescente entre jovens brancos do sexo masculino. Esta tendência é mais pronunciada em Staten Island, onde todos menos dois dos 32 residentes que tiveram overdoses fatais de heroína eram brancos.
O perfil do usuário médio mudou nos últimos dez anos, disse o Dr. Andrew Kolodny, especialista em drogadicção que trabalhou no departamento de saúde em 2003, quando as overdoses de heroína passaram das 400 por ano.
"Era algo presente quase que exclusivamente no centro do Brooklyn, sul do Bronx, leste do Harlem e coincidia com os bairros mais necessitados da cidade de Nova York", disse Kolodny, hoje diretor-médico da Phoenix House Foundation, um centro de tratamento para usuários de drogas. "O resto da cidade - Staten Island, Queens, a maior parte de Manhattan - quase não tinha casos."
Mesmo antes da divulgação dos dados recentes, a amplitude do problema da heroína já estava aparente nas ruas, em centros de tratamento e nas delegacias de polícia.
Convulsões causadas pela heroína aumentaram à medida que a cidade se tornou um pólo do tráfico ao longo da Costa Leste. Vítimas de overdose começaram a aparecer em bairros desde East Tremont no Bronx até Tottenville no sul de Staten Island, levando o Departamento de Polícia de Nova York a equipar os policiais com naloxona este ano, um medicamento que reverte os efeitos de uma overdose tanto de heroína quanto de comprimidos de opiáceos.
Em uma entrevista na quarta-feira, Mary T. Bassett, comissária de saúde da prefeitura, celebrou a eficiência da naloxona, que foi usada para reverter mais de 500 overdoses desde 2010, quando a prefeitura começou um esforço maior para colocá-la nas mãos das pessoas mais próximas aos usuários de drogas.
Ela também observou uma queda significativa no número de overdoses de medicamentos controlados e uma redução modesta nas mortes por heroína em Staten Island, dizendo que o esforço de porta em porta, médicos e educação sobre o abuso de heroína ajudaram a reverter a tendência no bairro.
"Vamos nos concentrar em usar algumas dessas estratégias no Bronx", disse Bassett.
De 2003 a 2010, as overdoses de heroína diminuíram na cidade à medida que os usuários mais velhos morreram ou fizeram tratamento, e a aprovação da droga caiu nas comunidades que haviam sido devastadas durante a última epidemia de uso, nos anos 70.
Mas os usuários mais velhos não desaparecera e, na verdade, continuam a representar uma grande porcentagem dos usuários.
No Bronx, homens hispânicos entre os 40 e 50 e poucos anos de idade foram mais vitimados pela droga no ano passado, contribuindo para a alta taxa de overdoses no bairro, onde 94 pessoas morreram em 2013, uma a mais do que no ano anterior.
Por toda a cidade, usuários hispânicos mostraram o maior aumento nas mortes por overdose - de 64 em 2010 para 146 no ano passado.
"Temos um perfil de usuário bem mais velho", disse Deborah Witham, diretora de programas do VIP Community Services, um centro de tratamento no Bronx onde a maioria dos pacientes está no Medicaid. Mas, ela acrescentou, há cada vez mais usuários jovens, como os que chegam no centro com problemas de saúde mental, o que complica o tratamento.
Áreas afluentes do norte do Bronx e leste do Queens se também se tornaram pontos importantes, refletindo o alto abuso de comprimidos de opiáceos de o uso de heroína nos subúrbios próximos em Westchester County e Long Island.
"Acho que vai piorar", disse Kathleen A. Riddle, chefe do Outreach Project, que coordena centro de tratamento no Brooklyn, no Queens e em Long Island.
É uma situação que se repete por todo o país: uma nova geração de usuários jovens e com frequência mais ricos começou usando medicamentos controlados que contém opiáceos que têm os mesmos efeitos da heroína e depois passou para a droga ilegal porque ela oferece um efeito mais forte por menos dinheiro, às vezes tão barata quanto US$ a dose.
Esta progressão sombria caracterizou o aumento no abuso de heroína em Staten Island, onde o abuso de medicamentos controlados era, de longe, o mais alto da cidade. Nos últimos anos, as autoridades fecharam muitas clínicas corruptas de tratamento de dor, onde usuários jovens conseguiam obter receitas falsas, e prendeu traficantes que vendiam nas ruas.
Esses esforços coincidiram com a introdução, em agosto passado, de um maior monitoramento das receitas médicas. Muitos especialistas em tratamento preveem um aumento no uso de heroína à medida que o suprimento de comprimidos secar.
"Pessoas que estão acostumadas a se drogar não vão parar de uma hora para a outra", disse William A. Fusco, diretor da Dynamic Youth Community, um centro de tratamento para usuários de drogas no Brooklyn, onde muitos jovens viciados de Staten Island vão parar.
"As drogas que você usa são as drogas que você encontra."
Tradutor: Eloise De Vylder

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