domingo, 31 de agosto de 2014


Estudo: surto de ebola começou por contato direto entre um animal e uma pessoa  
O estudo genético da epidemia permite traçar sua trajetória. Os casos duplicam a cada mês
El País
Avener Prado
18.ago.2014 - Em Hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kailahun, funcionários preparam refeições 18.ago.2014 - Em Hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kailahun, funcionários preparam refeições
A análise genética de 99 amostras do vírus ebola obtidas em Serra Leoa e na Guiné permitiu que uma equipe internacional de pesquisadores (há participantes de Harvard, de outros centros dos EUA, de Serra Leoa e da Nigéria) traçasse a trajetória da epidemia. A principal conclusão que foi publicada na revista "Science" é que, "ao contrário do que ocorreu em outros surtos", o atual se deve a um único contato entre o reservatório (um animal, provavelmente morcego) e uma pessoa.
Esse tipo de trabalho compara zonas concretas do genoma dos vírus em busca de variações. O fato de essas amostras serem muito uniformes indica que têm uma origem comum. Além disso, a genética também serve de relógio biológico.
Uma vez que se estabelece em que intervalo médio de tempo ocorre uma mutação, contando o número de mudanças pode-se determinar há quanto tempo o vírus se separou do tronco comum. Comparando-o com amostras de outros surtos, calculou-se que este último e os dois anteriores da variante Zaire (na República Democrática do Congo em 2007 e 2008) se separaram ao redor de 2004. 
O ciclo do ebola
O estudo ainda não permite explicar por que a mortalidade deste surto está em 50,5%, o de 2008 de 44% e o de 2007 de 71%, dizem os autores. A média está ao redor de 78%, acrescentam, mas chegou a 90% (no Congo em 2003). Mas o sequenciamento genético é o primeiro passo para buscar essas explicações.
Os pesquisadores também destacam que o atual surto progride de maneira geométrica, com o número de casos duplicando a cada 34 dias. Essa cifra se mantém constante (com as variações estatísticas: vai de 24 a 36 dias, segundo cálculos de "El País").
Os últimos dados da OMS, referentes a 26 de agosto confirmam: nessa data havia 3.069 casos registrados, dos quais 1.552 morreram. A contagem não inclui o último caso da Nigéria: um médico que se infectou por contato com o caso índice (o do homem que levou o vírus ao país), mas que morreu em Port Harcourt, tornando-se a primeira vítima na Nigéria fora de Lagos.
Na Espanha, a boa notícia foi que Juliana Bonoha, a religiosa que foi repatriada da Libéria junto com Miguel Pajares e que não estava infectada pelo ebola, recebeu alta ontem, depois de passar 21 dias – o tempo da incubação do vírus - em observação. 
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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