sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Obama opta novamente por cautela em relação a ações militares na Síria
Mark Landler - NYT
Reprodução Youtube/HO/AFP
28.ago.2014 - Jihadistas do EI (Estado islâmico) executaram cerca de 200 soldados sírios, que teriam fugido da base aérea de Tabqa, capturada pelos extremistas há quatro dias 28.ago.2014 - Jihadistas do EI (Estado islâmico) executaram cerca de 200 soldados sírios, que teriam fugido da base aérea de Tabqa, capturada pelos extremistas há quatro dias
Quando o presidente Barack Obama disse na quinta-feira (28) que ainda não tinha uma estratégia para lidar com os letais militantes sunitas na Síria, ele parecia fora de sincronia com seus altos assessores e conselheiros militares, que poucos dias antes adotaram um tom mais agressivo a respeito de uma ação militar.
Isso não deveria ser uma surpresa: Obama fez o mesmo há exatamente um ano neste fim de semana. Na sexta-feira antes do Dia do Trabalho, depois que o secretário de Estado, John Kerry, condenou os ataques com armas químicas pelo presidente da Síria, Bashar Assad, contra sua própria população como sendo uma "obscenidade moral" e alertou para uma resposta dura. E, depois dele mesmo ter apresentado um forte argumento a favor de uma ação militar, Obama surpreendeu sua equipe ao dizer que estava cancelando o ataque com mísseis.
Agora, como naquela vez, o presidente nutre profundas dúvidas de que uma ação militar na Síria causará mais bem do que mal. E a todo momento em que parece que estar disposto a deixar sua relutância e agir militarmente na Síria, ele recua.
Essa realidade é mais importante do que se Obama cometeu uma gafe em sua coletiva de imprensa, ao dizer que "nós ainda não temos uma estratégia" para a Síria. Apesar da Casa Branca estar tentando esclarecer a declaração após o fato, as críticas não deram sinais de diminuir na sexta-feira. Legisladores e comentaristas de televisão expressaram espanto e alarme por Obama não ter nenhum plano para lidar com um grupo militante em um país devastado pela guerra, onde o número de mortos se aproxima de 200 mil.
Mas é improvável que a sova impiedosa por parte da mídia e de outros críticos influenciará Obama. Sua decisão de buscar a aprovação do Congresso para um ataque à Síria, após dizer que ela cruzou sua "linha vermelha" com o uso de armas químicas, também provocou duras críticas –estabelecendo uma narrativa de liderança fraca, que o perseguiu durante o ano passado.
Menos notada é que essa decisão levou a um de seus poucos sucessos na política externa: a rendição voluntária por Assad de seus arsenal de armas químicas –o resultado de uma proposta diplomática da Rússia, que Obama agarrou como alternativa ao disparo de mísseis Tomahawk, quando ficou claro que o Congresso nunca daria sua bênção aos ataques.
Apesar de Obama virtualmente não receber nenhum crédito por essa realização, a lição do episódio não passou despercebida por ele. Na quinta-feira, ao ser perguntado sobre uma ação militar na Síria, ele enfatizou o papel da diplomacia em uma estratégia eficaz contra o grupo, o Estado Islâmico.
"A questão em relação à Síria não é simplesmente militar, mas também política", disse Obama na Casa Branca. "Também é uma questão que envolve todos os Estados sunitas na região e a liderança sunita reconhecer que esse câncer que se desenvolveu é um que eles precisam estar tão dedicados a derrotar quanto nós."
Alguns antigos críticos do presidente disseram estar encorajados por sua restrição. Os comentários dele, eles disseram, reconhecem que ataques aéreos por si só não bastam para derrotar o Estado Islâmico na Síria. Isso exigirá um componente terrestre, que só teria sucesso se os Estados Unidos fortalecessem a oposição moderada na Síria.
Isso, por sua vez, exigiria persuadir Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos e outros a coordenarem seu apoio aos rebeldes. Por ora, o apoio externo vai para vários grupos, incluindo os radicais, como a Frente Nusra, que o Departamento de Estado classifica como uma organização terrorista.
Os comentários de Obama não significam que ele não atacaria os líderes do Estado Islâmico na Síria se os Estados Unidos obtivessem inteligência a respeito de seu paradeiro. Ele poderia dar essa ordem, disseram funcionários do governo, mesmo enquanto seus conselheiros elaboram uma estratégia mais ampla para lidar com a Síria.
"Quando ele diz que ainda não tem uma estratégia, eu entendo pelo significado visível", disse Frederic C. Hof, um ex-funcionário do Departamento de Estado que tem criticado a estratégia de Obama. "Eu na verdade estou um pouco aliviado pelo presidente estar buscando tratar isso por meio de uma estratégia baseada em objetivos, não como uma questão de comunicação estratégica."
Mas como uma questão de comunicação, os comentários de Obama na quinta-feira mostram que, no mínimo, a mensagem do governo não é consistente. Há uma semana, o vice-conselheiro de segurança nacional do presidente, Benjamin J. Rhodes, disse aos repórteres em Martha's Vineyard: "Se vocês saírem atrás de americanos, nós iremos atrás de vocês, sejam quem forem", acrescentando, "nós não seremos impedidos por fronteiras".
Na quinta-feira, quando Obama estava falando, Rhodes estava fora da cidade em férias –a primeira vez neste verão americano em que ele não esteve ao lado de seu chefe enquanto este reagia a uma dentre uma enxurrada de crises estrangeiras.
Hof disse estar cautelosamente otimista de que os comentários de Obama, na quinta-feira, sugerem que o presidente está revendo seriamente fortalecer a ajuda à oposição moderada.
Mas o governo já enviou esses sinais antes. No ano passado, por exemplo, ele prometeu aumentar a ajuda à oposição moderada e começou a fornecer secretamente armas leves e munição aos rebeldes.
Desde então, entretanto, o fluxo da ajuda tem sido tão rigidamente controlado que alguns líderes rebeldes disseram que ela parece designada a não a mudar a maré da guerra, mas sim a mantê-la viva e dar a impressão de que os Estados Unidos estão ajudando. 
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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