Presidente da Rússia elogia milícias separatistas na Ucrânia
Andrew Roth - NYT
Em um raro discurso direto aos separatistas pró-Rússia no leste da
Ucrânia, o presidente Vladimir Putin saudou nesta sexta-feira (29) o
sucesso de uma recente ofensiva rebelde e pediu que um corredor
humanitário seja aberto, para permitir a retirada das unidades cercadas
do exército ucraniano.
Em um discurso para a milícia Novorossiya, ou Nova Rússia, que foi
postado no site do Kremlin às 1h10 da manhã, Putin disse que os rebeldes
"conseguiram um grande sucesso ao interceptar a operação militar de
Kiev", uma ofensiva que os governos ocidentais acusaram de ser liderada
por militares russos.
Diante das crescentes tensões, o
primeiro-ministro ucraniano, Arseniy P. Yatsenyuk, anunciou na
sexta-feira que um projeto de lei foi apresentado ao Parlamento para
cancelar o status da Ucrânia como país não alinhado e "restaurar suas
aspirações de se tornar membro da Otan".
"Essa lei também
reafirma a principal meta política da Ucrânia –se tornar membro da União
Europeia", disse Yatsenyuk em sua página no Facebook, que é usada como
espaço para anúncios públicos. "Essa lei proibirá o Estado ucraniano de
se tornar parte de quaisquer outras alianças econômicas, políticas ou
militares que atrapalhem a meta principal de ingresso na UE."
A
lei proibiria a entrada da Ucrânia na União Eurasiana, um bloco
econômico liderado pela Rússia que inclui o Cazaquistão e Belarus e é
promovido por Putin como uma resposta à União Europeia.
A
decisão em dezembro do ex-presidente Viktor Yanukovych de descartar o
acordo de associação à UE em prol de laços mais fortes com a Rússia
provocou os protestos na praça Maidan, em Kiev, que acabaram levando à
queda de Yanukovych.
Em sua mensagem aos separatistas, Putin
disse: "Eu peço às milícias que abram um corredor humanitário para os
militares ucranianos que foram cercados, para evitar qualquer perda
desnecessária de vidas, lhes dando a oportunidade de deixaram a área de
combate desimpedidos e voltarem às suas famílias, voltarem às suas mães,
mulheres e filhos, e que forneçam rapidamente assistência médica aos
feridos durante a operação militar".
Arte/UOL
Alexander Zakharchenko, o líder rebelde que disse na quinta-feira (28)
que mais de 3.000 russos, incluindo soldados ativos em licença, lutaram
ao lado dos separatistas, concordou rapidamente com a proposta de Putin.
"Com todo o respeito a Vladimir Vladimirovich Putin, o presidente do
país, que tem nos ajudado muito com apoio moral, nós estamos prontos a
conceder os corredores humanitários às divisões ucranianas cercadas
nesses bolsões", disse Zakharchenko.
As condições incluem a entrega de todo o armamento pesado e munição.
A contraofensiva separatista, que teve início na quarta-feira, abriu
uma nova frente militar ao longo do Mar de Azov e colocou os rebeldes a
uma distância de ataque a Mariupol, uma cidade portuária que é a segunda
maior no sudeste da Ucrânia. Os líderes separatistas também disseram
que cercaram 7.000 tropas ucranianas regulares e irregulares, que foram
isoladas devido ao rápido avanço dos tanques e artilharia rebeldes.
A ofensiva provocou novas críticas do Ocidente, e a chancelar da
Alemanha, Angela Merkel, disse na quinta-feira que a possibilidade de
imposição de novas sanções contra a Rússia seria discutida em uma cúpula
da União Europeia em Bruxelas, no sábado. Como preparação para esse
encontro, os ministros das Relações Exteriores da UE se reuniram em
Milão, na sexta-feira, para discutir a posição do bloco a respeito da
crise.
Na sexta-feira, o secretário-geral da OTAN, Anders Fogh
Rasmussen, ofereceu o apoio da aliança a Kiev e condenou o que chamou de
"escalada séria da agressão militar da Rússia à Ucrânia". Ele falou
após os embaixadores dos 28 países da aliança terem se reunido em seu
quartel-general em Bruxelas, primeiro para discutir a crise da Ucrânia
entre eles e depois conversar com os representantes do governo em Kiev.
"Apesar das negações vazias de Moscou, agora está claro que tropas e
equipamento russos cruzaram ilegalmente a fronteira para o leste e
sudeste da Ucrânia", disse Rasmussen em uma declaração. "Não se trata de
uma ação isolada, mas parte de um padrão perigoso ao longo de muitos
meses para desestabilizar a Ucrânia como nação soberana."
"As
forças russas estão envolvidas em operações militares diretas dentro da
Ucrânia", ele acrescentou. "A Rússia continua fornecendo tanques,
blindados, artilharia e lançadores de foguetes aos separatistas. A
Rússia disparou contra a Ucrânia tanto de território russo quanto de
dentro da própria Ucrânia."
Os líderes da Otan se reunirão no
País de Gales na semana que vem, e Rasmussen disse que a aliança
asseguraria ao presidente ucraniano, Petro Poroshenko, "o apoio resoluto
(da Otan) à Ucrânia".
A Otan tem uma parceria formal com a
Ucrânia baseada em acordos em 1997 e 2009, disseram representantes da
aliança, mas os ucranianos buscaram o que Rasmussen chamou de política
de "não aliança". Na sexta-feira, o chefe da Otan disse que a aliança
respeitaria os desejos da Ucrânia se decidisse mudar a política, como
Yatsenyuk sugeriu.
Em 2008, disse Rasmussen, a Otan decidiu que
"a Ucrânia se tornará membro da Otan desde que, é claro, a Ucrânia
assim deseje e desde que a Ucrânia cumpra os critérios necessários". A
ideia sempre enfrentou oposição veemente da Rússia.
"Enquanto
isso, a Ucrânia decidiu buscar uma chamada política de não aliança. Nós
respeitamos plenamente isso", disse Rasmussen. "Nós respeitamos
plenamente se o Parlamento ucraniano decidir mudar essa política, porque
seguimos o princípio de que cada nação tem o direito de decidir por
conta própria, sem interferência externa, e esperamos que outras nações
sigam o mesmo princípio."
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