Reinaldo Azevedo - VEJA
Não sou nem nunca fui fã de Renato Janine Ribeiro. Ao contrário: ele é do tipo que me irrita um tantinho. É o gato escondido com o rabo de fora. Você sabe que ali há um gato, embora se possa enxergar apenas uma parte da anatomia do bichano. Janine é um petista que não assume essa condição porque, assim, pode “petizar” à vontade como se fosse um pensador neutro. É, como costumo dizer, o petista que não ousa dizer seu nome.
Assim, ele
na Educação ou Aloizio Mercadante, convenham, tanto faz como tanto fez.
Acho que a pasta continua igualmente desguarnecida. Mas é evidente que a
lambança armada por Dilma é desrespeitosa com Janine, e isso é problema
dele, e com a Educação, e isso é problema nosso.
Se a escolha
de um professor que integra a fina flor do pensamento de esquerda
pretendia atestar, segundo os valores lá deles, o apreço que Dilma tinha
pela educação, a demissão, cinco meses depois, e a recondução de
Marcadante ao cargo que já era seu atestam o desprezo da presidente pela
área. Só neste mandato, três pessoas passaram pela pasta.
E tudo por
quê e para quê? Mercadante está voltando ao Ministério da Educação da
“Pátria Educadora” com algum especial desígnio de sua chefe? Não! É que
Dilma queria porque queria abrigá-lo em um lugar de prestígio, e a
Educação foi o que sobrou. A troca não atende à conveniência da pasta e
nada tem a ver com a suas necessidades.
Goste-se ou
não, e eu não gosto, Janine representa a academia brasileira num cargo
bastante apropriado a um professor. Bem feito para esses intelectuais
lambe-botas do petismo! O partido e a presidente demonstram o apreço que
têm por eles.
E,
convenham, não é assim só com a Educação. O mesmo se verifica na Saúde.
Já escrevi aqui e reitero que a área estará mais bem servida qualquer
que seja o substituto de Arthur Chioro. É inegável, no entanto, que ele
chegou ao ministério como quem tem uma leitura da questão — nem entro no
mérito; pode estar erradíssima.
Tudo inútil!
Também a Saúde entrou no mercadão das trocas, que buscam brecar o
processo de impeachment. E Dilma não vai agir de modo diferente com as
secretarias, com status de ministério, que lustram as convicções
politicamente corretas das esquerdas que a apoiam: as secretarias das
Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos serão fundidas numa
só.
Esquerdistas
com um mínimo de honestidade intelectual deveriam estar furiosos com a
humilhação. Mas essa gente já perdeu a vergonha faz tempo. “Ah,
Reinaldo, se eles deveriam estar bravos, você, então, deveria estar
feliz…” Errado! Esquerdistas não são meus interlocutores pelo avesso nem
meus adversários qualificados.
Eu critico a
lambança nessas áreas porque são importantes demais para estar expostas
a essas trocas pautadas pelo toma-lá-dá-cá e pela versão perversa do “é
dando que se recebe”.
O conjunto indica a degradação a que chegou o governo em seu décimo mês de gestão.
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