Baile de máscaras
Em programa televisivo, PSDB critica incoerências de Dilma e esquece
as próprias, enquanto fundação petista ataca a política econômica
FSP
As frases não poderiam ser mais comprometedoras e desmoralizantes: "não
penso em recriar a CPMF porque eu acredito que não seria correto"; "a
CPMF foi um engodo".
Foram pronunciadas por Dilma Rousseff (PT), primeiro como candidata,
depois como presidente, antes de ser obrigada a enfrentar as
dificuldades orçamentárias que seu próprio governo produziu –e decidir
recriar o tributo criticado.
As entrevistas em que a petista condenava a volta da Contribuição
Provisória sobre Movimentação Financeira foram reproduzidas no programa
eleitoral do PSDB, levado ao ar nesta semana.
Nenhum partido de oposição deixaria passar, sem dúvida, a chance de expor tão cabalmente a hipocrisia de seu adversário.
As incoerências dilmistas foram exploradas com notável habilidade,
aliás, pelos marqueteiros do PSDB: assustadoras máscaras de Carnaval com
o rosto da presidente, atrás das quais se revelavam cidadãs
decepcionadas, conferiram à mensagem forte impacto visual.
O PSDB fez bom trabalho de rememoração histórica; pena que tão breve e limitado no tempo.
Afinal, a CPMF começou a ser cobrada em 1993, com o nome de IPMF, quando
ninguém menos do que Fernando Henrique Cardoso ocupava o posto de
ministro da Fazenda. Já na presidência, o tucano implantou a
contribuição e elevou sua alíquota.
Do mesmo modo, soa estranho que o PSDB venha a criticar os juros "nas
alturas" (14,25% ao ano) quando, na crise que sobreveio à reeleição de
FHC, chegaram a 45%.
Se o roto condena o rasgado nessa farsa que nada tem de cômica, vale
dizer que nem por isso foram equivocadas as decisões agora trazidas à
memória. Aumentos seletivos de impostos e elevações nos juros podem ser o
menor dos males, conforme a gravidade da crise.
Mas, como a demagogia não tem limites, o PSDB não está sozinho na
diatribe contra as medidas impopulares. Se não tem compromisso com o
próprio passado, que dizer dos especialistas do PT?
Nesta semana, a Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido, divulgou um
documento condenando de alto a baixo a política econômica de Dilma.
Pode-se dizer que são relativamente coerentes com o que sempre disseram,
mas não com o presente que ajudaram a criar, nem com a política
conduzida nos primeiros anos lulistas –com a contribuição, lembre-se, de
Joaquim Levy, então secretário do Tesouro.
Não apenas de Dilma: máscaras de todos poderiam ser distribuídas e
apresentadas na TV. Para que tanto desperdício em tempos de recessão?
Basta, a cada um, que use o próprio rosto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário