Pesquisa demonstra que os alemães endurecem suas posições diante dos migrantes
Carlos Yárnoz - El País
Joel Saget/AFP
Acampamento de refugiados ao lado da estação Austerlitz, em Paris
A sensibilidade dos cidadãos europeus diante da atual onda migratória é muito diferente conforme os países e sobretudo entre os eleitores da direita ou da esquerda. Alguns mitos caíram. O país do asilo, a França, é o mais contrário a acolher migrantes e o que propõe as medidas mais duras para conter sua chegada. Na Alemanha, a opinião pública está endurecendo suas posições rapidamente e, contrariando toda lógica aparente, sobretudo entre os simpatizantes da esquerda. Os espanhóis são os menos favoráveis a reforçar fronteiras e reprimir os clandestinos.
Estas são algumas das conclusões de uma ampla pesquisa realizada pelo Ifop (Instituto Francês de Opinião Pública) em sete países europeus (Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Espanha, Holanda e Dinamarca) entre 16 e 22 de setembro, por encomenda da Fundação Jean Aurès, ligada aos socialistas, e da Fundação Europeia de Estudos Progressistas. A amostragem foi de 1.000 pessoas em cada país.
Exceto na França, os cidadãos desses países preferem como primeira opção para abordar o problema dos migrantes que a Europa invista no desenvolvimento dos países do sul do Mediterrâneo para evitar a emigração. Essa é a opinião de 55% dos alemães e de 45% dos espanhóis, mas de apenas 29% dos franceses, que encerram a lista.
Eles também aparecem em último lugar no apoio aos programas de ajuda e acolhida a refugiados (12%). A França, por outro lado, encabeça a relação de países que preferem como primeira opção o reforço das fronteiras (30% dos cidadãos, contra apenas 8% dos espanhóis) ou a intervenção militar na Síria (29%).
A
opinião pública desses sete países se mostra muito dividida sobre a
distribuição de imigrantes por cotas. Os países que recebem mais
refugiados são os mais partidários da distribuição: a Alemanha apoia com
79% e a Itália com 77%. Na Espanha também o apoiam 67%. A França,
novamente, é um dos países menos favoráveis (46%), superado apenas pelo
Reino Unido (44%).
Na Alemanha o exercício foi repetido três semanas depois com 700 pesquisados, pois se observou que a opinião pública estava mudando para posições mais duras. No país mais exposto à onda migratória, já que a maioria dos refugiados o tem como destino, em apenas três semanas a porcentagem dos partidários do acolhimento baixou 4 pontos --de 79% para 74%.
Apesar de o número continuar elevado, "vários indicadores convergem no sentido de um endurecimento da opinião pública sobre esse assunto tão delicado", dizem os autores do estudo. Diminuiu 10 pontos (de 69% para 59%) o número dos que pensam que seu país tem meios suficientes para enfrentar esta crise. E também caiu 10 pontos a porcentagem dos que acreditam que é uma oportunidade para estimular a economia. Pelo contrário, sobem 11 pontos os que pensam que já há estrangeiros demais na Alemanha (33% a 44%).
Estranhamente, o eleitorado de esquerda é o que mais desliza nesse terreno: o de direita só baixou 3 pontos (agora em 68%) quando perguntado se a Alemanha tem meios para assimilar essa onda, mas chega a baixar 12 pontos (apesar de tudo, ainda em 75%) entre os simpatizantes da esquerda. E só subiu 1 ponto entre os democratas-cristãos (35% a 36%) quando foram questionados sobre se já há estrangeiros demais. Na esquerda, o aumento foi de 14 pontos (agora 32%).
Outro indicador do rápido endurecimento da opinião pública alemã: já são 80% (8 pontos a mais) os que desejam que os migrantes fiquem só por alguns meses ou anos. E sobe também 7 pontos a porcentagem dos que preferem reforçar as fronteiras e combater os clandestinos, embora a opção preferida seja ajudar nos países de origem.
A diferença entre esquerda e direita é muito clara em todos os países. Na Espanha, por exemplo, chegam a 81% os simpatizantes da esquerda favoráveis ao acolhimento, contra 51% entre os da direita. Na França, a diferença é de 41 pontos percentuais (70% contra 29%). Na Alemanha as diferenças não são tão grandes, porque a direita absorveu o discurso da chanceler Angela Merkel inclinado ao acolhimento.
Assim como calou, pelo contrário, o medo de que entre os refugiados se escondam terroristas, apesar de não ter sido descoberto nenhum caso. Esse temor afeta 85% dos holandeses, 69% dos espanhóis e franceses e 66% dos dinamarqueses. E como há consenso de que uma acolhida maciça dos refugiados atue como atrativo para cidadãos da África, Síria, Iraque e Afeganistão: 80% no Reino Unido, 79% na França, 78% na Itália ou 68% na Alemanha e Espanha.
Hoje, e apesar das mudanças na Alemanha, os europeus são mais inclinados a acolher os refugiados do que três meses atrás. A chave foi a difusão da foto do menino Aylan Kurdi afogado em uma praia da Turquia. "Desempenhou um papel incontestável nessa mudança de opinião", afirmam os pesquisadores. Entre julho e o final de setembro, na Alemanha e na França subiu o número de cidadãos favoráveis à acolhida 10 pontos percentuais.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Na Alemanha o exercício foi repetido três semanas depois com 700 pesquisados, pois se observou que a opinião pública estava mudando para posições mais duras. No país mais exposto à onda migratória, já que a maioria dos refugiados o tem como destino, em apenas três semanas a porcentagem dos partidários do acolhimento baixou 4 pontos --de 79% para 74%.
Apesar de o número continuar elevado, "vários indicadores convergem no sentido de um endurecimento da opinião pública sobre esse assunto tão delicado", dizem os autores do estudo. Diminuiu 10 pontos (de 69% para 59%) o número dos que pensam que seu país tem meios suficientes para enfrentar esta crise. E também caiu 10 pontos a porcentagem dos que acreditam que é uma oportunidade para estimular a economia. Pelo contrário, sobem 11 pontos os que pensam que já há estrangeiros demais na Alemanha (33% a 44%).
Estranhamente, o eleitorado de esquerda é o que mais desliza nesse terreno: o de direita só baixou 3 pontos (agora em 68%) quando perguntado se a Alemanha tem meios para assimilar essa onda, mas chega a baixar 12 pontos (apesar de tudo, ainda em 75%) entre os simpatizantes da esquerda. E só subiu 1 ponto entre os democratas-cristãos (35% a 36%) quando foram questionados sobre se já há estrangeiros demais. Na esquerda, o aumento foi de 14 pontos (agora 32%).
Outro indicador do rápido endurecimento da opinião pública alemã: já são 80% (8 pontos a mais) os que desejam que os migrantes fiquem só por alguns meses ou anos. E sobe também 7 pontos a porcentagem dos que preferem reforçar as fronteiras e combater os clandestinos, embora a opção preferida seja ajudar nos países de origem.
A diferença entre esquerda e direita é muito clara em todos os países. Na Espanha, por exemplo, chegam a 81% os simpatizantes da esquerda favoráveis ao acolhimento, contra 51% entre os da direita. Na França, a diferença é de 41 pontos percentuais (70% contra 29%). Na Alemanha as diferenças não são tão grandes, porque a direita absorveu o discurso da chanceler Angela Merkel inclinado ao acolhimento.
Assim como calou, pelo contrário, o medo de que entre os refugiados se escondam terroristas, apesar de não ter sido descoberto nenhum caso. Esse temor afeta 85% dos holandeses, 69% dos espanhóis e franceses e 66% dos dinamarqueses. E como há consenso de que uma acolhida maciça dos refugiados atue como atrativo para cidadãos da África, Síria, Iraque e Afeganistão: 80% no Reino Unido, 79% na França, 78% na Itália ou 68% na Alemanha e Espanha.
Hoje, e apesar das mudanças na Alemanha, os europeus são mais inclinados a acolher os refugiados do que três meses atrás. A chave foi a difusão da foto do menino Aylan Kurdi afogado em uma praia da Turquia. "Desempenhou um papel incontestável nessa mudança de opinião", afirmam os pesquisadores. Entre julho e o final de setembro, na Alemanha e na França subiu o número de cidadãos favoráveis à acolhida 10 pontos percentuais.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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