Ángeles Espinosa - El Paìs
BBC
A conquista de Kunduz pelo Taleban nesta semana salientou que grupo insurgente afegão está ganhando terreno. Na realidade, há meses que ele expande sua presença por um país do qual nunca desapareceu, porque faz parte dele. A expectativa de um entendimento com o governo afegão não deu em nada e sua atividade aumentou após a saída das tropas de combate estrangeiras no final de 2014, aproveitando a fragilidade das forças de segurança afegãs. Veja uma revisão dos principais fatores que levaram à crise atual.
Nunca foram embora
Apesar de a
intervenção americana os ter tirado do poder no final de 2001, eles
nunca aceitaram o governo apoiado pelo Ocidente e sempre combateram as
forças de segurança e seus aliados estrangeiros. Pouco a pouco se
reagruparam e estenderam sua influência e seu controle nos territórios
do norte e do noroeste do Afeganistão.
Até agora se concentraram na periferia do país, nas zonas rurais e nas regiões menos povoadas. "São mais fortes do que se admite oficialmente", afirma Thomas Ruttig, codiretor do Afghanistan Analysts Network (AAN, Rede de Analistas do Afeganistão). Esse analista, que conhece o país desde a época da ocupação soviética, estima que embora só controlem uma dezena das 400 comarcas em que se divide o país, pelo menos outras 150 são vulneráveis a seus ataques e nas demais têm algum tipo de presença.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Até agora se concentraram na periferia do país, nas zonas rurais e nas regiões menos povoadas. "São mais fortes do que se admite oficialmente", afirma Thomas Ruttig, codiretor do Afghanistan Analysts Network (AAN, Rede de Analistas do Afeganistão). Esse analista, que conhece o país desde a época da ocupação soviética, estima que embora só controlem uma dezena das 400 comarcas em que se divide o país, pelo menos outras 150 são vulneráveis a seus ataques e nas demais têm algum tipo de presença.
Kunduz
A ofensiva atual é a terceira intentona sobre essa cidade, um cruzamento estratégico entre a capital, Cabul, e o norte do país. As forças afegãs conseguiram contê-los anteriormente, mas só depois de recorrer às milícias que envenenam a vida política dessa província, uma das mais complexas por sua mistura de etnias e facções. Sem chegar às manchetes, a segurança foi flutuante desde 2009. Os talibãs sempre estiveram interessados em Kunduz. Foi o último reduto que perderam em 2001 e prova que têm apoio além de seus feudos no sul e no leste do país.Apoio local
Trinta por cento da população de Kunduz são pashtun, a etnia na qual surgiu o grupo islâmico radical. "O apoio entre eles tem muito a ver com o sofrimento dessa minoria sob o novo governo que é controlado pelos do norte", explica Ruttig, em referência à Aliança do Norte, que se opôs ao regime do Taleban. "Alguns de seus integrantes têm milícias que a população considera piores que os talibãs", acrescenta o especialista. É um terreno propício para que se desate uma espiral de vinganças.Fraqueza institucional
Saúde, educação, agricultura ou reconstrução não recebem atenção suficiente das autoridades estaduais e locais. Ao chegar ao governo no ano passado, o presidente afegão, Ashraf Ghani, identificou Kunduz como uma das cinco províncias prioritárias em seu programa de segurança, mas o governador que nomeou (um pashtun) não se dá bem com o chefe da polícia provincial (um tayico). A falta de coordenação entre as autoridades influiu para que os talibãs pudessem tomar a cidade, apesar de contarem com menos homens (apenas algumas centenas) que as forças de segurança. "Os serviços secretos afegãos não detectaram este último ataque", indica Ruttig.E o investimento ocidental?
Apesar dos esforços realizados pela coalizão de países que até o ano passado participou da missão de assistência à segurança, "a transformação do Afeganistão foi menor do que nos disseram nossos governos", afirma Ruttig. "Os projetos de desenvolvimento melhoraram as condições econômicas de muitos afegãos", admite o especialista, que entretanto duvida de sua sustentabilidade. Em todo caso, considera um fracasso que as quantias investidas não tenham conseguido melhores resultados. No terreno militar, opina que o resultado é pior, já que no caso concreto de Kunduz, onde o Exército alemão esteve à frente da Equipe de Reconstrução Provincial, "os talibãs se reagruparam e cresceram embaixo de seus narizes a partir de 2006".Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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