O avanço das forças contrárias ao regime de Assad é entravado pela prioridade dada ao combate ao EI
Benjamin Barthe - Le Monde
ECPAD/Efe/Divulgação
Soldados do Exército da França se preparam para atuar em base no Golfo Pérsico, no dia do primeiro ataque francês contra o EI na Síria
A recuperação dos rebeldes sírios afinal durou só uma estação. Depois de ter registrado durante a primavera uma série de vitórias particularmente alarmantes para o governo, sobretudo na região de Idlib, a revolta anti-Assad mais uma vez estagnou.
As duas ofensivas que os rebeldes haviam lançado em julho para se apossarem de setores ainda sob controle lealista, nas cidades de Aleppo ao norte e de Deraa ao sul, foram suspensas passados alguns dias. Os ataques prometidos contra a planície costeira, reduto da comunidade alauíta à qual pertence o clã Assad, e contra Damasco, santuário do regime, foram adiados indeterminadamente.
Segundo vários analistas entrevistados em Gaziantep, no sul da Turquia, a perda de fôlego da dinâmica rebelde é em parte produto de pressões ocidentais. Se as tradicionais rivalidades entre grupos armados e a resistência imprevista de tropas governamentais tiveram um papel nesse refluxo, os padrinhos dos rebeldes, a começar pelos Estados Unidos, também contribuíram para congelar as linhas de frente.
"Era do interesse de Washington acalmar a situação
durante a última rodada de negociações sobre a questão nuclear iraniana
no início de julho", afirma um diplomata europeu baseado no Oriente
Médio.
Desde que esse acordo foi assinado em meados de julho, as capitais ocidentais acreditam que novos fatores têm contribuído para uma desescalada, como a vontade dos Estados Unidos de adular os protetores russos e iranianos do regime; a prioridade cada vez maior dada ao combate ao Estado Islâmico (EI); o fluxo de refugiados para a Europa desde agosto.
"Para os Estados Unidos, Damasco e Lattakia, no litoral, são linhas vermelhas", conta o assessor político de uma brigada rebelde, que mantém contato regular com diplomatas americanos.
"Nosso destino não está mais em nossas mãos. O conflito se tornou um grande jogo entre Washington e Teerã."
A Turquia é a principal opositora dessa tática de apaziguamento. Foi ela que forneceu aos rebeldes o apoio logístico que lhes permitiu se apossarem das cidades de Idlib e de Jisr al-Shoghur durante a primavera, com o consentimento da Arábia Saudita, com uma ofensiva conduzida por uma coalizão especialmente formada, a Jaish al-Fatah ("o Exército da Conquista"), liderada pela Frente Al-Nusra, com a contribuição de unidades menores e mais moderadas.
Ancara tentou reproduzir essa fórmula de sucesso em Aleppo. Segundo um especialista da ONU, a Jaish al-Fatah propôs enviar 3 mil combatentes para ajudar a libertar a cidade em troca de uma participação na futura gestão da cidade. Mas as principais facções rebeldes de Aleppo, que para se armarem dependem do "MOM", a estrutura presente no sul da Turquia que reúne os patrocinadores árabes e ocidentais da rebelião, declinaram essa oferta.
"Os Estados Unidos têm uma enorme influência sobre as brigadas de Aleppo desde que o EI as privou das receitas de petróleo e que as doações provenientes do Golfo pararam de chegar", explica essa fonte. "Os americanos e os outros membros do MOM se aproveitaram das discórdias entre os insurgentes", concorda um diplomata ocidental.
"Eles causaram indiretamente o fracasso do ataque contra os bairros do oeste de Aleppo."
Essa ofensiva, de timing particularmente oportuno, havia reacendido entre a oposição as suspeitas de coordenação entre o EI e o regime.
"Nós fornecemos à coalizão anti-EI comandada pelos americanos as coordenadas das posições jihadistas, exigindo bombardeios imediatos", afirma Abdel Jabar al-Okeidi, um coronel do Exército Sírio Libre (ESL), o braço moderado da insurreição.
"Houve alguns ataques, mas sem grande eficácia. Bem diferente de Kobani, uma cidade curda da qual o EI foi expulso em janeiro, após meses de bombardeios."
Em Deraa, foi um cenário mais ou menos parecido. A Frente Sul, uma aliança de 35 mil homens que tem o apoio do "MOC", equivalente ao "MOM" na Jordânia, foi contra a adesão de um braço local do Jaish al-Fatah ao ataque contra as bases do Exército sírio, na parte norte da cidade.
Os Estados Unidos temiam que, em caso de participação nos combates, os jihadistas da Al-Nusra, ainda que minoritários no sul, ficassem com todo o mérito de uma eventual vitória.
Já os partidários da Jaish al-Fatah, como a Arábia Saudita, irritados com a burocracia do funcionamento do "MOC", brigavam pela formação de uma frente mais ampla possível, para aumentar a pressão sobre Assad e forçá-lo a negociar.
"O MOC nos dá armas o suficiente para perturbar as tropas sírias, mas não o suficiente para entrar em Damasco", lamenta Essam al-Rayyes, porta-voz da Frente Sul.
O único fator que poderia romper o status quo seria a criação de uma zona protegida, no norte da Síria, como Ancara e Washington mencionaram em julho. Ao oferecer um santuário aos rebeldes, esse projeto tiraria do regime sua última vantagem tática, o controle do espaço aéreo.
"Há seis semanas o MOM prometeu que financiaria as brigadas de Aleppo, pensando na formação de uma zona como essa", revela um oficial internacional. "Mas nada se deu como o anunciado."
A aplicação desse plano parece depender das divergências entre a Turquia e os Estados Unidos, uma vez que a primeira quer confiar aos salafistas de Ahrar al-Sham um papel importante na região, contrariando os segundos.
Enquanto a presença militar russa na Síria está em plena expansão, a Casa Branca, com essa estratégia de desengajamento, corre o risco de despertar os fantasmas do Afeganistão. Foi a intervenção das tropas soviéticas nesse país, em 1979, que incitou a primeira jihad do mundo.
"A chegada dos russos em peso ameaça engrossar a onda de jihadistas", alerta o coronel Okeidi. "Prolongar a vida do regime Assad só pode levar a um desastre, tanto para a Síria quanto para a Rússia."
Desde que esse acordo foi assinado em meados de julho, as capitais ocidentais acreditam que novos fatores têm contribuído para uma desescalada, como a vontade dos Estados Unidos de adular os protetores russos e iranianos do regime; a prioridade cada vez maior dada ao combate ao Estado Islâmico (EI); o fluxo de refugiados para a Europa desde agosto.
"Para os Estados Unidos, Damasco e Lattakia, no litoral, são linhas vermelhas", conta o assessor político de uma brigada rebelde, que mantém contato regular com diplomatas americanos.
"Nosso destino não está mais em nossas mãos. O conflito se tornou um grande jogo entre Washington e Teerã."
A Turquia é a principal opositora dessa tática de apaziguamento. Foi ela que forneceu aos rebeldes o apoio logístico que lhes permitiu se apossarem das cidades de Idlib e de Jisr al-Shoghur durante a primavera, com o consentimento da Arábia Saudita, com uma ofensiva conduzida por uma coalizão especialmente formada, a Jaish al-Fatah ("o Exército da Conquista"), liderada pela Frente Al-Nusra, com a contribuição de unidades menores e mais moderadas.
Ancara tentou reproduzir essa fórmula de sucesso em Aleppo. Segundo um especialista da ONU, a Jaish al-Fatah propôs enviar 3 mil combatentes para ajudar a libertar a cidade em troca de uma participação na futura gestão da cidade. Mas as principais facções rebeldes de Aleppo, que para se armarem dependem do "MOM", a estrutura presente no sul da Turquia que reúne os patrocinadores árabes e ocidentais da rebelião, declinaram essa oferta.
"Os Estados Unidos têm uma enorme influência sobre as brigadas de Aleppo desde que o EI as privou das receitas de petróleo e que as doações provenientes do Golfo pararam de chegar", explica essa fonte. "Os americanos e os outros membros do MOM se aproveitaram das discórdias entre os insurgentes", concorda um diplomata ocidental.
"Eles causaram indiretamente o fracasso do ataque contra os bairros do oeste de Aleppo."
Divergências
No mês de junho uma primeira ofensiva em Aleppo já havia sido interrompida quando o Estado Islâmico (EI) atacou os rebeldes anti-Assad perto de Marea, um pouco mais ao norte, obrigando estes últimos a enviarem para lá reforços às pressas.Essa ofensiva, de timing particularmente oportuno, havia reacendido entre a oposição as suspeitas de coordenação entre o EI e o regime.
"Nós fornecemos à coalizão anti-EI comandada pelos americanos as coordenadas das posições jihadistas, exigindo bombardeios imediatos", afirma Abdel Jabar al-Okeidi, um coronel do Exército Sírio Libre (ESL), o braço moderado da insurreição.
"Houve alguns ataques, mas sem grande eficácia. Bem diferente de Kobani, uma cidade curda da qual o EI foi expulso em janeiro, após meses de bombardeios."
Em Deraa, foi um cenário mais ou menos parecido. A Frente Sul, uma aliança de 35 mil homens que tem o apoio do "MOC", equivalente ao "MOM" na Jordânia, foi contra a adesão de um braço local do Jaish al-Fatah ao ataque contra as bases do Exército sírio, na parte norte da cidade.
Os Estados Unidos temiam que, em caso de participação nos combates, os jihadistas da Al-Nusra, ainda que minoritários no sul, ficassem com todo o mérito de uma eventual vitória.
Já os partidários da Jaish al-Fatah, como a Arábia Saudita, irritados com a burocracia do funcionamento do "MOC", brigavam pela formação de uma frente mais ampla possível, para aumentar a pressão sobre Assad e forçá-lo a negociar.
"O MOC nos dá armas o suficiente para perturbar as tropas sírias, mas não o suficiente para entrar em Damasco", lamenta Essam al-Rayyes, porta-voz da Frente Sul.
O único fator que poderia romper o status quo seria a criação de uma zona protegida, no norte da Síria, como Ancara e Washington mencionaram em julho. Ao oferecer um santuário aos rebeldes, esse projeto tiraria do regime sua última vantagem tática, o controle do espaço aéreo.
"Há seis semanas o MOM prometeu que financiaria as brigadas de Aleppo, pensando na formação de uma zona como essa", revela um oficial internacional. "Mas nada se deu como o anunciado."
A aplicação desse plano parece depender das divergências entre a Turquia e os Estados Unidos, uma vez que a primeira quer confiar aos salafistas de Ahrar al-Sham um papel importante na região, contrariando os segundos.
Enquanto a presença militar russa na Síria está em plena expansão, a Casa Branca, com essa estratégia de desengajamento, corre o risco de despertar os fantasmas do Afeganistão. Foi a intervenção das tropas soviéticas nesse país, em 1979, que incitou a primeira jihad do mundo.
"A chegada dos russos em peso ameaça engrossar a onda de jihadistas", alerta o coronel Okeidi. "Prolongar a vida do regime Assad só pode levar a um desastre, tanto para a Síria quanto para a Rússia."
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