Com ação aérea no momento em que EUA vacilam, russo pode projetar influência e garantir interesses econômicos
IGOR GIELOW - FSP
Os ataques aéreos na Síria coroam o movimento do presidente Vladimir Putin de intervir na guerra civil do país árabe para tentar elevar seu cacife internacional, abalado pela crise na Ucrânia. O risco de algum acidente, contudo, não é desprezível: é a primeira vez em que forças aéreas russas e americanas combatem oficialmente no mesmo teatro de operações.
Na Segunda Guerra, eram aliados e em frentes distintas, e na Guerra Fria, a disputa foi cautelosamente disfarçada ou deixada a prepostos para evitar uma escalada apocalíptica entre as duas maiores potências nucleares.
O avanço russo foi rápido. Sem aviso prévio, a Rússia ampliou e equipou uma base aérea em Latakia, área da minoria alauita do ditador Bashar al-Assad, seu aliado.
Um vídeo na internet insinua, pela silhueta sobre Hama, o uso de modelos de ataque a solo Sukhoi-24 ou Sukhoi-25 presentes em Latakia.
No campo diplomático, no fim de semana Moscou já havia pego os EUA de surpresa ao incluir o Iraque num comitê de troca de informações de inteligência sobre o Estado Islâmico, ao lado de Irã e Síria. O Iraque é aliado americano e parceiro na coalizão ocidental que mira o EI.
Com o trunfo, Putin falou grosso na sua primeira aparição na
Assembleia-Geral da ONU em uma década: só há solução para a Síria que
inclua Assad na equação.
Obama, quando discursou, só conseguiu repetir obviedades. Desde 2011, sua gestão insiste na queda de Assad para enfraquecer o Irã, tendo sido demovida por Putin de atacar o regime, limitando-se a apoiar alguns rebeldes que até há alguns anos seriam combatidos como terroristas.
No caso do EI, americanos só passaram a alvejar o grupo de forma restrita, e com apoio de outros países, porque a barbárie da facção e a crise dos refugiados se fizeram muito evidentes.
Após a fala de Putin na ONU, Obama fez seu show, convocando aliados para discutir o EI, mas a prática se viu na Síria –e com jatos russos.
Como em toda ação liderada pelo Kremlin, a agenda oculta é motivo de apreensão.
Se diz que quer erradicar o EI, o russo não conta o quanto está disposto a destruir os rebeldes de outras facções, apoiados pelos EUA e Estados do Golfo preocupados em conter a influência do Irã, não por acaso aliado russo.
O ataque russo ocorreu em região sob domínio do governo de Assad, gerando suspeita sobre os alvos, assim como ocorre em ações ocidentais.
Sobre o risco de confrontos acidentais, no caso desta quarta os ataques foram bem mais a oeste dos pontos usualmente bombardeados pela coalizão americana. Mas foi só um primeiro dia.
No que a vista alcança, Putin busca dois objetivos.
Primeiro, quer tornar-se um fator central para a estabilização do Oriente Médio, ainda que às custas de um redesenho da Síria sob linhas étnico-confessionais. Talvez incluindo o regime atual dominando um Estado menor, contando ou não com Assad, desde que ele permaneça vivo, ao contrário do que ocorreu com Gaddafi na Líbia.
Com isso, Putin estará em posição de força para tornar sua presença na Ucrânia fato consumado e tentar retirar as sanções que asfixiam a economia russa e o pressionam.
Segundo, ter presença militar lhe permitirá projetar poder sobre o Mediterrâneo e suas rotas comerciais: ali passam os hidrocarbonetos vitais para a economia russa.
Se o plano dará certo é incógnita, mas Putin largou com vantagem e obrigará o Ocidente, com os EUA à frente, a refazer sua estratégia.
Obama, quando discursou, só conseguiu repetir obviedades. Desde 2011, sua gestão insiste na queda de Assad para enfraquecer o Irã, tendo sido demovida por Putin de atacar o regime, limitando-se a apoiar alguns rebeldes que até há alguns anos seriam combatidos como terroristas.
No caso do EI, americanos só passaram a alvejar o grupo de forma restrita, e com apoio de outros países, porque a barbárie da facção e a crise dos refugiados se fizeram muito evidentes.
Após a fala de Putin na ONU, Obama fez seu show, convocando aliados para discutir o EI, mas a prática se viu na Síria –e com jatos russos.
Como em toda ação liderada pelo Kremlin, a agenda oculta é motivo de apreensão.
Se diz que quer erradicar o EI, o russo não conta o quanto está disposto a destruir os rebeldes de outras facções, apoiados pelos EUA e Estados do Golfo preocupados em conter a influência do Irã, não por acaso aliado russo.
O ataque russo ocorreu em região sob domínio do governo de Assad, gerando suspeita sobre os alvos, assim como ocorre em ações ocidentais.
Sobre o risco de confrontos acidentais, no caso desta quarta os ataques foram bem mais a oeste dos pontos usualmente bombardeados pela coalizão americana. Mas foi só um primeiro dia.
No que a vista alcança, Putin busca dois objetivos.
Primeiro, quer tornar-se um fator central para a estabilização do Oriente Médio, ainda que às custas de um redesenho da Síria sob linhas étnico-confessionais. Talvez incluindo o regime atual dominando um Estado menor, contando ou não com Assad, desde que ele permaneça vivo, ao contrário do que ocorreu com Gaddafi na Líbia.
Com isso, Putin estará em posição de força para tornar sua presença na Ucrânia fato consumado e tentar retirar as sanções que asfixiam a economia russa e o pressionam.
Segundo, ter presença militar lhe permitirá projetar poder sobre o Mediterrâneo e suas rotas comerciais: ali passam os hidrocarbonetos vitais para a economia russa.
Se o plano dará certo é incógnita, mas Putin largou com vantagem e obrigará o Ocidente, com os EUA à frente, a refazer sua estratégia.
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