Educação patina em gestão ineficiente
Setor recebe verbas em percentuais do PIB
maiores que a média da OCDE, mas país não consegue superar demandas
crônicas, especialmente no ciclo básico
O Globo
Uma análise baseada apenas nos números do relatório
“Education at a glance 2015”, divulgado no início da semana pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o
clube dos países mais desenvolvidos, para avaliar diversos aspectos da
Educação no mundo, ratifica algumas obviedades sobre o setor no Brasil. O
país ocupa, por exemplo, uma das últimas posições, entre as 34 nações
pesquisadas, na rubrica de gastos por alunos — na média, um terço do que
é aplicado no âmbito da OCDE. Apenas México, Turquia, Colômbia e
Indonésia têm perfil mais indigente.
Dificuldades no equacionamento de demandas educacionais,
relativas ao ensino em si ou relacionadas a investimentos públicos no
setor, não são novidade. O Brasil tem um contencioso crônico que os
números sistematicamente apontam. Em geral, soluções sugeridas para
enfrentar os problemas passam pelo mantra de que, para se desenvolver, a
Educação precisa ser irrigada por mais verbas. Criterioso, o estudo da
OCDE tem substância para, por meio de análises mais profundas, mostrar
que essa é, no máximo, uma meia-verdade — ou uma meia-mentira. Assim
como consagra a facilidade da frieza dos números, o levantamento fornece
combustível também para pôr em xeque esse tipo de solução mágica.
O gasto público em educação básica no Brasil tem se situado,
nesta década, na média de 5,6% do PIB (a meta é 10%). Parece pouco, mas
é um índice superior à média da OCDE (4,7%), e o quinto maior entre os
países e parceiros da organização com dados disponíveis. E,
reconhecidamente, fatias cada vez maiores do orçamento total são
destinadas ao setor. Ou seja, a irrigação não é insuficiente; o que
visivelmente falta é melhorar a colheita. Cai-se no terreno da gestão. O
país aplica mal as verbas destinadas à Educação, é evidente. A atenção
dada, por exemplo, ao ensino o básico continua falha, apesar dos
avanços, e isso se reflete em toda a cadeia de ensino. Por comparação, o
ensino superior brasileiro recebe 3,4 vezes mais recursos que os anos
iniciais do ensino fundamental (na média da OCDE, essa relação é 1,8 vez
maior). Entre as nações avaliadas no relatório, o Brasil tem a sexta
mais elevada proporção de jovens de 25 a 34 anos que não concluíram o
ensino médio. No ranking do que corresponde ao antigo segundo grau
atrelado a ensino profissionalizante, é o terceiro país, entre os
avaliados, com menos alunos nessa modalidade. Mesmo na Universidade,
mais bem irrigada, o índice de evasão ainda é alto. São demandas a
enfrentar.
O que falta à Educação brasileira não é, propriamente, mais verba, e
sim mudar os paradigmas do setor. Ou seja, investir mais em programas de
aperfeiçoamento de gestão e consolidar protocolos de prioridades (no
básico, como tem sido, e em especial no ensino médio). Há buracos na
política educacional, e a solução não é jogar mais dinheiro nesse
bueiro. Antes, há que acabar com ele.
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