Oliver Berg - 9.jan.2016/Efe | ||
Manifestantes protestam contr assédio a mulher em Colônia, na Alemanha |
"Duas amigas foram seguidas por dois homens que pareciam árabes. Depois
disso, comecei a ter medo", diz Gatto, que mora há um ano em Gütersloh,
no oeste do país.
Em poucos dias Gatto vai se mudar para Colônia, a 150 quilômetros dali. A quarta maior cidade do país (tem mais de 1 milhão de habitantes) foi palco, há duas semanas, de um incidente que esquentou o debate sobre a questão das centenas de milhares de refugiados que chegaram ao país.
Nas celebrações de Ano-Novo, uma multidão de cerca de mil homens –a maioria de "aparência árabe ou do norte da África" e alcoolizados, segundo relatos– se instalou na praça da catedral.
Vários deles assaltaram e agrediram sexualmente centenas de mulheres –sem intervenção efetiva da polícia.
"Estrangeiros abordaram a mim e uma amiga, um deles tocou meu ombro, mas saímos logo. Vimos mais grupos, também com aparência árabe e mudamos de lugar várias vezes por medo de assaltos", diz a brasileira Débora Lima, 30, há um ano em Colônia.
Houve duas denúncias de estupro. Mulheres relataram que tiveram partes íntimas tocadas e roupas rasgadas. Até o momento, são 650 queixas, 45% delas por agressão sexual. Outros incidentes foram registrados em Hamburgo.
Lojistas de Colônia afirmam que, depois dos episódios, os estoques de spray de pimenta foram vendidos em poucas horas. Muitos clientes eram homens que compraram as latas para suas mulheres e filhas.
A polícia afirma que desde 1º de janeiro foram feitos 300 pedidos de autorização para a compra de pistolas de pressão (mais fáceis de serem obtidas do que armas comuns), ante 408 nos 12 meses de 2015.
Para Gatto, nem o spray basta para conter a apreensão. "Meu namorado disse que posso fazer aulas de defesa pessoal para me sentir mais segura. Nunca tinha visto algo assim na Alemanha. Estou com tanto medo desse povo que fez isso quanto dos neonazistas", afirma.
PRESSÃO POLÍTICA
Na semana passada, um protesto organizado pelo Pegida, grupo considerado xenófobo, reuniu 1.700 pessoas, que entraram em confronto com 1.300 manifestantes pró-imigrantes. Também houve registro de agressões a refugiados, ferindo dois paquistaneses e um sírio.
Além da compra de produtos para defesa pessoal, o incidente provocou queixas contra o governo local.
Em um primeiro momento, as autoridades de Colônia afirmaram não haver indícios de que os agressores eram recém-chegados, mas dados da própria polícia mostram que, dos 31 detidos por causa de assaltos, 18 tinham status de "tolerados" (pessoas que pediram asilo, mas ainda não tiveram o caso analisado) e a maioria era do norte da África. Havia também dois alemães entre os detidos.
Não houve análise similar entre suspeitos de agressões sexuais. Dias após os incidentes, o chefe da polícia de Colônia deixou o cargo.
A crise colocou mais pressão na chanceler Angela Merkel, que no ano passado anunciou uma política de boas-vindas para refugiados da Síria. No momento, ela enfrenta a insatisfação até de membros do seu partido, a UDC (União Democrática Cristã), que pedem regras mais rígidas para deter o fluxo de refugiados. Em 2015, o país recebeu 1,1 milhão de pedidos de asilo.
"Após um período de política de braços abertos, o tempo acabou mudando o tom. Agora, os temas são expulsões e endurecimento da lei", afirma Tilman Mayer, cientista político da Universidade de Bonn, que prevê um alto preço político para Merkel.
"Existe até a possibilidade de que ela seja derrubada depois das eleições estaduais que devem ocorrer ao longo do ano. Temos uma chanceler que não diz que 1 milhão de refugiados já é suficiente."
Há também um debate sobre a cultura dos refugiados (muitos deles islâmicos) ser compatível com os valores da Alemanha. "Os alemães importaram ingenuamente violência machista, sexismo e antissemitismo", afirma Alice Schwarzer, fundadora da revista feminista "Emma", com sede em Colônia.
Uma pesquisa da rede N24 mostrou que 68% dos alemães veem conexão entre a cultura islâmica ou árabe dos agressores com os ataques.
As autoridades alemãs já tomaram medidas para diminuir o ingresso de refugiados, como entrevistas mais detalhadas com os requerentes. Merkel também apoia mudanças nas leis para agilizar a deportação de imigrantes que se envolverem em crimes.
A chanceler, porém, resiste a propostas que fixem um limite para a entrada de refugiados, como políticos do seu partido defendem.
Em poucos dias Gatto vai se mudar para Colônia, a 150 quilômetros dali. A quarta maior cidade do país (tem mais de 1 milhão de habitantes) foi palco, há duas semanas, de um incidente que esquentou o debate sobre a questão das centenas de milhares de refugiados que chegaram ao país.
Nas celebrações de Ano-Novo, uma multidão de cerca de mil homens –a maioria de "aparência árabe ou do norte da África" e alcoolizados, segundo relatos– se instalou na praça da catedral.
Vários deles assaltaram e agrediram sexualmente centenas de mulheres –sem intervenção efetiva da polícia.
"Estrangeiros abordaram a mim e uma amiga, um deles tocou meu ombro, mas saímos logo. Vimos mais grupos, também com aparência árabe e mudamos de lugar várias vezes por medo de assaltos", diz a brasileira Débora Lima, 30, há um ano em Colônia.
Houve duas denúncias de estupro. Mulheres relataram que tiveram partes íntimas tocadas e roupas rasgadas. Até o momento, são 650 queixas, 45% delas por agressão sexual. Outros incidentes foram registrados em Hamburgo.
Lojistas de Colônia afirmam que, depois dos episódios, os estoques de spray de pimenta foram vendidos em poucas horas. Muitos clientes eram homens que compraram as latas para suas mulheres e filhas.
A polícia afirma que desde 1º de janeiro foram feitos 300 pedidos de autorização para a compra de pistolas de pressão (mais fáceis de serem obtidas do que armas comuns), ante 408 nos 12 meses de 2015.
Para Gatto, nem o spray basta para conter a apreensão. "Meu namorado disse que posso fazer aulas de defesa pessoal para me sentir mais segura. Nunca tinha visto algo assim na Alemanha. Estou com tanto medo desse povo que fez isso quanto dos neonazistas", afirma.
PRESSÃO POLÍTICA
Na semana passada, um protesto organizado pelo Pegida, grupo considerado xenófobo, reuniu 1.700 pessoas, que entraram em confronto com 1.300 manifestantes pró-imigrantes. Também houve registro de agressões a refugiados, ferindo dois paquistaneses e um sírio.
Além da compra de produtos para defesa pessoal, o incidente provocou queixas contra o governo local.
Em um primeiro momento, as autoridades de Colônia afirmaram não haver indícios de que os agressores eram recém-chegados, mas dados da própria polícia mostram que, dos 31 detidos por causa de assaltos, 18 tinham status de "tolerados" (pessoas que pediram asilo, mas ainda não tiveram o caso analisado) e a maioria era do norte da África. Havia também dois alemães entre os detidos.
Não houve análise similar entre suspeitos de agressões sexuais. Dias após os incidentes, o chefe da polícia de Colônia deixou o cargo.
A crise colocou mais pressão na chanceler Angela Merkel, que no ano passado anunciou uma política de boas-vindas para refugiados da Síria. No momento, ela enfrenta a insatisfação até de membros do seu partido, a UDC (União Democrática Cristã), que pedem regras mais rígidas para deter o fluxo de refugiados. Em 2015, o país recebeu 1,1 milhão de pedidos de asilo.
"Após um período de política de braços abertos, o tempo acabou mudando o tom. Agora, os temas são expulsões e endurecimento da lei", afirma Tilman Mayer, cientista político da Universidade de Bonn, que prevê um alto preço político para Merkel.
"Existe até a possibilidade de que ela seja derrubada depois das eleições estaduais que devem ocorrer ao longo do ano. Temos uma chanceler que não diz que 1 milhão de refugiados já é suficiente."
Há também um debate sobre a cultura dos refugiados (muitos deles islâmicos) ser compatível com os valores da Alemanha. "Os alemães importaram ingenuamente violência machista, sexismo e antissemitismo", afirma Alice Schwarzer, fundadora da revista feminista "Emma", com sede em Colônia.
Uma pesquisa da rede N24 mostrou que 68% dos alemães veem conexão entre a cultura islâmica ou árabe dos agressores com os ataques.
As autoridades alemãs já tomaram medidas para diminuir o ingresso de refugiados, como entrevistas mais detalhadas com os requerentes. Merkel também apoia mudanças nas leis para agilizar a deportação de imigrantes que se envolverem em crimes.
A chanceler, porém, resiste a propostas que fixem um limite para a entrada de refugiados, como políticos do seu partido defendem.
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