NYT
Ataques a bomba deixam mortos na Indonésia
O Estado Islâmico (EI) reivindicou a responsabilidade por um ataque
terrorista na capital da Indonésia na quinta-feira (14), aumentando o
temor de uma presença expandida do grupo no Sudeste Asiático.
A guerra civil na Síria se tornou uma fonte de inspiração para os islamitas violentos na Indonésia, e centenas aqui viajaram para a Síria para se juntarem ao Estado Islâmico nos últimos anos. Mas recentemente parece estarem buscando alvos mais próximos de casa. Extremistas que alegam representar o Estado Islâmico executaram ataques em pequena escala na Indonésia e nas Filipinas no ano passado.
"Nos últimos seis meses, vimos um aumento do planejamento de violência na Indonésia", disse Sidney Jones, uma especialista em terrorismo e diretora do Instituto para Análise de Políticas para Conflitos, em Jacarta. "É um desejo de provar que os grupos jihadistas ainda estão vivos e bem na Indonésia, e que estão dispostos a executar a agenda do EI."
No ataque no centro de Jacarta, os militantes visaram um posto de trânsito da polícia perto de uma rica área comercial, depois detonaram explosões em um aparente ataque suicida no lado de fora de um café Starbucks próximo. Pelo menos sete pessoas morreram, inclusive cinco dos agressores, e 23 pessoas ficaram feridas, disse a polícia.
O Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque em uma declaração divulgada no "Telegram", um aplicativo encriptado para telefone.
O general Tito Karnavian, chefe da Polícia Provincial de Jacarta e um ex-chefe da unidade de elite de contraterrorismo da polícia nacional, disse em uma coletiva de imprensa na quinta-feira que os perpetradores eram ligados aos líderes do Estado Islâmico em Raqqa, Síria, e alertou que o grupo está expandindo suas operações por toda a região, inclusive na Indonésia, Malásia, Filipinas e Tailândia.
Ele identificou o organizador como um cidadão indonésio que acredita-se que esteja na Síria. O suspeito, Bahrun Naim, é um dos líderes do Katibah Nusantara, uma unidade militar baseada no Sudeste Asiático sob comando do Estado Islâmico, disse Karnavian. A polícia parece ter conhecimento de Bahrun há algum tempo.
Pelo menos 16 suspeitos de terrorismo foram presos na Indonésia apenas no último mês, e a polícia disse ter recebido informação no final de novembro de que o Estado Islâmico planejava um "concerto" na Indonésia, o que possivelmente significava um ataque.
Apesar do medo causado por disparos e explosões no meio de uma grande cidade asiática, as baixas limitadas na quinta-feira levantaram questões sobre a capacidade destrutiva dos terroristas. A polícia disse que os explosivos usados foram pequenas bombas ou granadas, muito menos poderosas do que as usadas em ataques anteriores no país, incluindo o realizado com um grande carro-bomba na ilha turística de Bali, em 2002, que matou mais de 200 pessoas, estrangeiros em sua grande maioria.
A Indonésia é o país de maioria muçulmana mais populoso do mundo, com uma tradição de tolerância com outras religiões. Uma fração minúscula da população é radicalizada, dizem os analistas, mas nos últimos anos o país tem lidado com as crescentes tensões entre os moderados e os grupos linhas-duras, alguns deles pacíficos e outros militantes, que promovem o que dizem ser uma interpretação mais pura do Islã.
Os militantes dentro da Indonésia com frequência atacam igrejas, templos budistas, embaixadas, empresas e turistas ocidentais –os próprios símbolos da abertura e pluralidade do país. O ataque de quinta-feira foi o maior em Jacarta desde o duplo ataque a bomba a dois hotéis em 2009.
Bahrun cumpriu pena de prisão na província de Java Ocidental, na Indonésia, em 2011 e 2012, por posse ilegal de armas de fogo e explosivos, e ele é identificado como o autor de uma recente postagem em blog elogiando os ataques terroristas de novembro em Paris e seu alto número de mortos. A postagem, intitulada "Lições dos Ataques em Paris", pede aos indonésios para que "estudem o planejamento, alvos, 'timing', coordenação, segurança e coragem das equipes de Paris", segundo um artigo de autoria de Jones, a especialista em terrorismo.
Em abril de 2015, combatentes do Katibah Nusantara capturaram território mantido pelas forças curdas na Síria, uma bênção para seu esforço online para recrutar novos combatentes e simpatizantes entre as pessoas de língua malaia no Sudeste Asiático, segundo uma pesquisa publicada no ano passado pela Escola S. Rajaratnam de Estudos Internacionais, em Singapura.
"O crescente alcance do Katibah Nusantara poderia levar a uma maior influência no processo de tomada de decisão do Estado Islâmico, por sua vez levando o EI a dar maior prioridade ao Sudeste Asiático como sua zona de guerra", disseram os pesquisadores.
Pelo menos um agressor disparou contra o posto da polícia. As forças de segurança indonésias tomaram a área e a polícia posteriormente disse ter prendido quatro suspeitos. Uma emissora de televisão indonésia noticiou na manhã de sexta-feira que a polícia tinha prendido mais três pessoas suspeitas de estarem ligadas ao ataque.
Os dois civis mortos no ataque eram um canadense e um indonésio, disse o secretário de Gabinete do presidente Joko Widodo, Pramono Anung, em uma coletiva de imprensa. O Ministério das Relações Exteriores do Canadá não confirmou imediatamente a morte de um cidadão canadense.
Um holandês, um especialista em gestão de florestas e ecossistemas da Organização das Nações Unidas, ficou gravemente ferido e estava na unidade de terapia intensiva após cirurgia, disse um funcionário da ONU em Jacarta. A ONU se recusou a identificar o homem, mas disse que ele estava "lutando por sua vida".
A divisão de relações públicas do departamento de polícia disse em uma postagem em sua página oficial no Facebook que 23 pessoas foram tratadas por ferimentos, inclusive cinco policiais, quatro estrangeiros e 14 outros civis.
Os radicais islâmicos violentos da Indonésia são formados por pelo menos três grupos pró-Estado Islâmico, incluindo o Ansharut Daulah Islamiyah, uma espécie de grupo coordenador que alega ser a principal estrutura do Estado Islâmico na Indonésia; o Mujahidin do Leste da Indonésia, baseado em Poso, na ilha de Sulawesi, cujo comandante, Santoso, lidera um bando de cerca de 30 homens armados, incluindo vários da etnia uigur; e um grupo baseado na região central de Java, que supostamente recebe instruções diretamente de um combatente indonésio integrante do Estado Islâmico na Síria.
O país também é lar do Jemaah Islamiyah, um grupo que é culpado de vários ataques mortais na Indonésia, segundo Jones. Ele apoia a afiliada da Al Qaeda na Síria, a Frente Nusra, e não o Estado Islâmico. Apesar de o grupo estar se reconstruindo, ele não parece interessado no momento na violência na Indonésia, ela disse.
Os ataques mais severos por militantes islâmicos ocorreram em Bali em 2002 e de novo em 2005, quando 25 pessoas foram mortas.
Em 2003, um ataque a um hotel em Jacarta deixou 12 pessoas mortas. O hotel foi atacado de novo em 2009, quase simultaneamente ao hotel Ritz-Carlton em Jacarta, com oito pessoas sendo mortas.
Yohanes Sulaiman, um analista político, disse que o governo da Indonésia não fez o suficiente para conter os radicais islâmicos nos últimos anos. Ele disse que a polícia fez "um bom trabalho de prevenção desses ataques, considerando que a Indonésia é um lugar um tanto complicado. O que o governo não está fazendo é deter o radicalismo".
Os extremistas indonésios são conhecidos por terem treinado e lutado no Afeganistão nos anos 80 e 90, no sul das Filipinas, possivelmente na Bósnia e, agora, na Síria.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
A guerra civil na Síria se tornou uma fonte de inspiração para os islamitas violentos na Indonésia, e centenas aqui viajaram para a Síria para se juntarem ao Estado Islâmico nos últimos anos. Mas recentemente parece estarem buscando alvos mais próximos de casa. Extremistas que alegam representar o Estado Islâmico executaram ataques em pequena escala na Indonésia e nas Filipinas no ano passado.
"Nos últimos seis meses, vimos um aumento do planejamento de violência na Indonésia", disse Sidney Jones, uma especialista em terrorismo e diretora do Instituto para Análise de Políticas para Conflitos, em Jacarta. "É um desejo de provar que os grupos jihadistas ainda estão vivos e bem na Indonésia, e que estão dispostos a executar a agenda do EI."
No ataque no centro de Jacarta, os militantes visaram um posto de trânsito da polícia perto de uma rica área comercial, depois detonaram explosões em um aparente ataque suicida no lado de fora de um café Starbucks próximo. Pelo menos sete pessoas morreram, inclusive cinco dos agressores, e 23 pessoas ficaram feridas, disse a polícia.
O Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque em uma declaração divulgada no "Telegram", um aplicativo encriptado para telefone.
O general Tito Karnavian, chefe da Polícia Provincial de Jacarta e um ex-chefe da unidade de elite de contraterrorismo da polícia nacional, disse em uma coletiva de imprensa na quinta-feira que os perpetradores eram ligados aos líderes do Estado Islâmico em Raqqa, Síria, e alertou que o grupo está expandindo suas operações por toda a região, inclusive na Indonésia, Malásia, Filipinas e Tailândia.
Ele identificou o organizador como um cidadão indonésio que acredita-se que esteja na Síria. O suspeito, Bahrun Naim, é um dos líderes do Katibah Nusantara, uma unidade militar baseada no Sudeste Asiático sob comando do Estado Islâmico, disse Karnavian. A polícia parece ter conhecimento de Bahrun há algum tempo.
Pelo menos 16 suspeitos de terrorismo foram presos na Indonésia apenas no último mês, e a polícia disse ter recebido informação no final de novembro de que o Estado Islâmico planejava um "concerto" na Indonésia, o que possivelmente significava um ataque.
Apesar do medo causado por disparos e explosões no meio de uma grande cidade asiática, as baixas limitadas na quinta-feira levantaram questões sobre a capacidade destrutiva dos terroristas. A polícia disse que os explosivos usados foram pequenas bombas ou granadas, muito menos poderosas do que as usadas em ataques anteriores no país, incluindo o realizado com um grande carro-bomba na ilha turística de Bali, em 2002, que matou mais de 200 pessoas, estrangeiros em sua grande maioria.
A Indonésia é o país de maioria muçulmana mais populoso do mundo, com uma tradição de tolerância com outras religiões. Uma fração minúscula da população é radicalizada, dizem os analistas, mas nos últimos anos o país tem lidado com as crescentes tensões entre os moderados e os grupos linhas-duras, alguns deles pacíficos e outros militantes, que promovem o que dizem ser uma interpretação mais pura do Islã.
Os militantes dentro da Indonésia com frequência atacam igrejas, templos budistas, embaixadas, empresas e turistas ocidentais –os próprios símbolos da abertura e pluralidade do país. O ataque de quinta-feira foi o maior em Jacarta desde o duplo ataque a bomba a dois hotéis em 2009.
Bahrun cumpriu pena de prisão na província de Java Ocidental, na Indonésia, em 2011 e 2012, por posse ilegal de armas de fogo e explosivos, e ele é identificado como o autor de uma recente postagem em blog elogiando os ataques terroristas de novembro em Paris e seu alto número de mortos. A postagem, intitulada "Lições dos Ataques em Paris", pede aos indonésios para que "estudem o planejamento, alvos, 'timing', coordenação, segurança e coragem das equipes de Paris", segundo um artigo de autoria de Jones, a especialista em terrorismo.
Em abril de 2015, combatentes do Katibah Nusantara capturaram território mantido pelas forças curdas na Síria, uma bênção para seu esforço online para recrutar novos combatentes e simpatizantes entre as pessoas de língua malaia no Sudeste Asiático, segundo uma pesquisa publicada no ano passado pela Escola S. Rajaratnam de Estudos Internacionais, em Singapura.
"O crescente alcance do Katibah Nusantara poderia levar a uma maior influência no processo de tomada de decisão do Estado Islâmico, por sua vez levando o EI a dar maior prioridade ao Sudeste Asiático como sua zona de guerra", disseram os pesquisadores.
Pelo menos um agressor disparou contra o posto da polícia. As forças de segurança indonésias tomaram a área e a polícia posteriormente disse ter prendido quatro suspeitos. Uma emissora de televisão indonésia noticiou na manhã de sexta-feira que a polícia tinha prendido mais três pessoas suspeitas de estarem ligadas ao ataque.
Os dois civis mortos no ataque eram um canadense e um indonésio, disse o secretário de Gabinete do presidente Joko Widodo, Pramono Anung, em uma coletiva de imprensa. O Ministério das Relações Exteriores do Canadá não confirmou imediatamente a morte de um cidadão canadense.
Um holandês, um especialista em gestão de florestas e ecossistemas da Organização das Nações Unidas, ficou gravemente ferido e estava na unidade de terapia intensiva após cirurgia, disse um funcionário da ONU em Jacarta. A ONU se recusou a identificar o homem, mas disse que ele estava "lutando por sua vida".
A divisão de relações públicas do departamento de polícia disse em uma postagem em sua página oficial no Facebook que 23 pessoas foram tratadas por ferimentos, inclusive cinco policiais, quatro estrangeiros e 14 outros civis.
Os radicais islâmicos violentos da Indonésia são formados por pelo menos três grupos pró-Estado Islâmico, incluindo o Ansharut Daulah Islamiyah, uma espécie de grupo coordenador que alega ser a principal estrutura do Estado Islâmico na Indonésia; o Mujahidin do Leste da Indonésia, baseado em Poso, na ilha de Sulawesi, cujo comandante, Santoso, lidera um bando de cerca de 30 homens armados, incluindo vários da etnia uigur; e um grupo baseado na região central de Java, que supostamente recebe instruções diretamente de um combatente indonésio integrante do Estado Islâmico na Síria.
O país também é lar do Jemaah Islamiyah, um grupo que é culpado de vários ataques mortais na Indonésia, segundo Jones. Ele apoia a afiliada da Al Qaeda na Síria, a Frente Nusra, e não o Estado Islâmico. Apesar de o grupo estar se reconstruindo, ele não parece interessado no momento na violência na Indonésia, ela disse.
Os ataques mais severos por militantes islâmicos ocorreram em Bali em 2002 e de novo em 2005, quando 25 pessoas foram mortas.
Em 2003, um ataque a um hotel em Jacarta deixou 12 pessoas mortas. O hotel foi atacado de novo em 2009, quase simultaneamente ao hotel Ritz-Carlton em Jacarta, com oito pessoas sendo mortas.
Yohanes Sulaiman, um analista político, disse que o governo da Indonésia não fez o suficiente para conter os radicais islâmicos nos últimos anos. Ele disse que a polícia fez "um bom trabalho de prevenção desses ataques, considerando que a Indonésia é um lugar um tanto complicado. O que o governo não está fazendo é deter o radicalismo".
Os extremistas indonésios são conhecidos por terem treinado e lutado no Afeganistão nos anos 80 e 90, no sul das Filipinas, possivelmente na Bósnia e, agora, na Síria.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Nenhum comentário:
Postar um comentário