Zangou os escoceses ao ameaçar retirar seus investimentos do país,
incluindo seus luxuosos campos de golfe, se os políticos britânicos o
proibirem de entrar no país.
Agora, Donald Trump está incomodando os já assediados cidadãos da Bélgica, e definiu Bruxelas, a capital do país, como "lugar dos infernos" [hellhole].
Perguntado por Maria Bartiromo, apresentadora do canal noticioso Fox Business Network, sobre a viabilidade de sua proposta de impedir que muçulmanos estrangeiros entrem nos Estados Unidos, Trump argumentou que a Bélgica e a França estavam sofrendo com o fracasso dos muçulmanos desses países em se integrar.
"Alguma coisa está acontecendo, Maria", ele disse. "Vá a Bruxelas. Vá a Paris. Vá a diferentes lugares. Alguma coisa está acontecendo, e não é boa. Eles querem a lei sharia, querem isso, querem aquilo –sabe, é preciso haver alguma assimilação. Não há assimilação. Alguma coisa ruim está acontecendo".
Ele seguiu adiante com o mesmo tema, acrescentando que Bruxelas era especialmente perigosa. A cidade –famosa pelas batatas fritas de fritura dupla e pelas 400 variedades de cerveja– não foi capaz de impedir a ação de diversos extremistas envolvidos nos ataques terroristas de novembro em Paris e nos arredores da cidade, que causaram a morte de 130 pessoas.
"Você vai a Bruxelas –estive em Bruxelas muito tempo atrás, 20 anos atrás, tão bonita, tudo tão tudo bonito– mas agora é como viver no inferno", prosseguiu Trump.
Para os belgas, que já estão sofrendo com as recentes tramas terroristas, um governo cronicamente disfuncional e acusações –pelo menos da parte de um jornal italiano– de viverem no "Belgistão", as palavras de Trump bastaram para causar um ataque de irritação digno, em certos casos, dos que Trump costuma ter.
Não demorou para que o hashtag #hellhole começasse a ganhar empuxo no
Twitter, com a reação dos belgas a Trump por meio de um arsenal de
insultos, ironias e zombarias, incluindo imagens da cerveja e chocolates
do país, muito apreciados em todo o mundo.
Um usuário do Twitter postou uma imagem de Trump com o que parecia ser um waffle belga enfiado na boca.
"Esse é o meu inferno", escreveu o consultor de relações públicas Joseph Lemaire, de Bruxelas, no Twitter, em companhia de diversas fotos, entre as quais uma que mostra a praça central da cidade, a Grand Place ou Grote Markt, flanqueada por elegantes edifícios do século 17, o próspero período mercantil da cidade.
Outro usuário do Twitter, chamado BerlayCat, postou uma imagem de uma gangue de gatos tocando tambores na Grand Place.
"Isso não é o inferno de Bruxelas"– referência a "isso não é um cachimbo", título de um quadro do pintor surrealista belga René Magritte.
Outro usuário do Twitter, identificado como Berlaymonster (Berlaymont é o complexo da sede da Comissão Europeia em Bruxelas) postou o que parecia ser uma versão alterada do verbete da Wikipedia sobre o "Inferno" de Dante. A lista de capítulos mostrava limbo, luxúria e gulodice. O quarto capítulo? Bruxelas.
Para fazer justiça a Trump, é justo afirmar que a Bélgica já vinha sendo criticada por seu fracasso em controlar a crescente radicalização. Éric Zemmour, um escritor francês, recentemente sugeriu em entrevista que em lugar de bombardear Raqqa, na Síria, a cidade que o Estado Islâmico declara como capital, a França deveria bombardear Moleenbek, o distrito operário de Bruxelas onde moravam diversos dos envolvidos nos ataques a Paris.
A maioria das autoridades belgas respondeu com discreta intransigência.
"Não reagimos aos comentários do Sr. Trump", afirmou o gabinete do prefeito de Bruxelas, Yvan Mayeur. "Tenha um bom dia".
Rudi Vervoort, presidente da região de Bruxelas, declarou por intermédio de uma porta-voz que estava surpreso com as palavras de Trump.
"Podemos reassegurar os norte-americanos de que Bruxelas é uma cidade multicultural, onde é bom viver", disse Leonôr da Silva, enumerando as virtudes da cidade: o verde, a cultura tolerante e sua localização central na Europa.
Jean-Philippe Schreiber, historiador da Universidade Livre de Bruxelas, disse que Trump estava estimulando a xenofobia. Bruxelas tem seus problemas, ele acrescentou, mas os comentários "hiperbólicos" de Trump não mereciam resposta.
De fato, os belgas têm direito a perdão por essas demonstrações de orgulho ferido. Para começar, a cidade tem a cerveja, uma galáxia de restaurantes estrelados do Guia Michelin, e um cenário fervilhante na arte e design. Bruxelas também abriga o seu muito querido Manneken Pis, uma estátua de bronze de um menino urinando, esculpida no século 17.
Incorporando o espírito provocador de Trump, Mark Meirsman, belga que trabalha para o Parlamento Europeu mas enfatizou que estava se pronunciando em nome pessoal, escreveu no Facebook que Trump deveria se posicionar diante do Maneken Pis da próxima vez que visitar Bruxelas (ainda que não como presidente, enfatizou Meirsman).
"Obrigado por insultar a população de toda uma cidade europeia. Minha cidade!", escreveu Meirsman. "Está bem, talvez não seja a mais limpa, a mais organizada, mas defini-la como um inferno?"
Agora, Donald Trump está incomodando os já assediados cidadãos da Bélgica, e definiu Bruxelas, a capital do país, como "lugar dos infernos" [hellhole].
Perguntado por Maria Bartiromo, apresentadora do canal noticioso Fox Business Network, sobre a viabilidade de sua proposta de impedir que muçulmanos estrangeiros entrem nos Estados Unidos, Trump argumentou que a Bélgica e a França estavam sofrendo com o fracasso dos muçulmanos desses países em se integrar.
"Alguma coisa está acontecendo, Maria", ele disse. "Vá a Bruxelas. Vá a Paris. Vá a diferentes lugares. Alguma coisa está acontecendo, e não é boa. Eles querem a lei sharia, querem isso, querem aquilo –sabe, é preciso haver alguma assimilação. Não há assimilação. Alguma coisa ruim está acontecendo".
Ele seguiu adiante com o mesmo tema, acrescentando que Bruxelas era especialmente perigosa. A cidade –famosa pelas batatas fritas de fritura dupla e pelas 400 variedades de cerveja– não foi capaz de impedir a ação de diversos extremistas envolvidos nos ataques terroristas de novembro em Paris e nos arredores da cidade, que causaram a morte de 130 pessoas.
"Você vai a Bruxelas –estive em Bruxelas muito tempo atrás, 20 anos atrás, tão bonita, tudo tão tudo bonito– mas agora é como viver no inferno", prosseguiu Trump.
Para os belgas, que já estão sofrendo com as recentes tramas terroristas, um governo cronicamente disfuncional e acusações –pelo menos da parte de um jornal italiano– de viverem no "Belgistão", as palavras de Trump bastaram para causar um ataque de irritação digno, em certos casos, dos que Trump costuma ter.
Benoit Tessier/Reuters | ||
Em Bruxelas, na Bélgica, soldados patrulham as ruas do centro após o ataque terrorista em Paris |
Um usuário do Twitter postou uma imagem de Trump com o que parecia ser um waffle belga enfiado na boca.
"Esse é o meu inferno", escreveu o consultor de relações públicas Joseph Lemaire, de Bruxelas, no Twitter, em companhia de diversas fotos, entre as quais uma que mostra a praça central da cidade, a Grand Place ou Grote Markt, flanqueada por elegantes edifícios do século 17, o próspero período mercantil da cidade.
Outro usuário do Twitter, chamado BerlayCat, postou uma imagem de uma gangue de gatos tocando tambores na Grand Place.
"Isso não é o inferno de Bruxelas"– referência a "isso não é um cachimbo", título de um quadro do pintor surrealista belga René Magritte.
Outro usuário do Twitter, identificado como Berlaymonster (Berlaymont é o complexo da sede da Comissão Europeia em Bruxelas) postou o que parecia ser uma versão alterada do verbete da Wikipedia sobre o "Inferno" de Dante. A lista de capítulos mostrava limbo, luxúria e gulodice. O quarto capítulo? Bruxelas.
Para fazer justiça a Trump, é justo afirmar que a Bélgica já vinha sendo criticada por seu fracasso em controlar a crescente radicalização. Éric Zemmour, um escritor francês, recentemente sugeriu em entrevista que em lugar de bombardear Raqqa, na Síria, a cidade que o Estado Islâmico declara como capital, a França deveria bombardear Moleenbek, o distrito operário de Bruxelas onde moravam diversos dos envolvidos nos ataques a Paris.
A maioria das autoridades belgas respondeu com discreta intransigência.
"Não reagimos aos comentários do Sr. Trump", afirmou o gabinete do prefeito de Bruxelas, Yvan Mayeur. "Tenha um bom dia".
Rudi Vervoort, presidente da região de Bruxelas, declarou por intermédio de uma porta-voz que estava surpreso com as palavras de Trump.
"Podemos reassegurar os norte-americanos de que Bruxelas é uma cidade multicultural, onde é bom viver", disse Leonôr da Silva, enumerando as virtudes da cidade: o verde, a cultura tolerante e sua localização central na Europa.
Jean-Philippe Schreiber, historiador da Universidade Livre de Bruxelas, disse que Trump estava estimulando a xenofobia. Bruxelas tem seus problemas, ele acrescentou, mas os comentários "hiperbólicos" de Trump não mereciam resposta.
De fato, os belgas têm direito a perdão por essas demonstrações de orgulho ferido. Para começar, a cidade tem a cerveja, uma galáxia de restaurantes estrelados do Guia Michelin, e um cenário fervilhante na arte e design. Bruxelas também abriga o seu muito querido Manneken Pis, uma estátua de bronze de um menino urinando, esculpida no século 17.
Incorporando o espírito provocador de Trump, Mark Meirsman, belga que trabalha para o Parlamento Europeu mas enfatizou que estava se pronunciando em nome pessoal, escreveu no Facebook que Trump deveria se posicionar diante do Maneken Pis da próxima vez que visitar Bruxelas (ainda que não como presidente, enfatizou Meirsman).
"Obrigado por insultar a população de toda uma cidade europeia. Minha cidade!", escreveu Meirsman. "Está bem, talvez não seja a mais limpa, a mais organizada, mas defini-la como um inferno?"
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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