sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Quatro perguntas importantes a respeito de Donald Trump
Nate Cohn - NYT
As celebridades que apoiam Donald Trump para presidente nos EUA
Em junho de 2015, Donald Trump confirmou que entraria na disputa republicana para ser candidato à Presidência dos EUA em 2016. Com um discurso anti-imigração e ataques contra mexicanos e muçulmanos, Trump liderou as pesquisas e angariou boa parte do eleitorado republicano mais conservador. Mesmo com opiniões polêmicas - como a ideia de construir um muro na fronteira entre EUA e México -, Trump também ganhou suporte de celebridades norte-americanas Stephen B. Morton/AP
O caminho de Donald Trump para a indicação republicana se tornou mais aberto durante o último mês. Alguns membros proeminentes do establishment sitiado do partido passaram a apoiá-lo contra Ted Cruz, além de Trump agora liderar em Iowa. Isso lhe dá a chance de vencer em todos os primeiros Estados em meio a um campo ainda dividido de candidatos.
Mas Trump enfrenta quatro perguntas importantes que decidirão se ele passará de um forte pré-candidato a candidato à Presidência pelo Partido Republicano:

Seus eleitores sairão para votar? 

Trump claramente se sai melhor entre os eleitores não frequentes. O que está menos claro é quantos sairão de fato para votar e o quanto prejudicará caso não o façam.
Em última análise, é possível que o desafio para Trump de comparecimento dos eleitores às urnas seja exagerado. Diferente de Bernie Sanders, Trump provavelmente lidera entre os eleitores tradicionais, ao menos nacionalmente.
Mesmo assim, Trump pode muito bem ter um desempenho abaixo do esperado nas urnas. O potencial de que isso possa acontecer parece maior em Iowa, um Estado onde a disputa é acirrada. Uma pesquisa recente pela Universidade Monmouth apontou que a vantagem de Trump de 7 pontos percentuais evaporaria em caso de um comparecimento normal de eleitores às urnas. Sua disputa com Ted Cruz é apertada, já que este conta com forte apoio dos eleitores republicanos tradicionais e uma forte organização.
Trump pode conquistar a indicação sem vencer em Iowa, mas será bem mais difícil. Isso lhe negaria o impulso inicial e a chance de vencer em todos os Estados iniciais. Isso fortaleceria Cruz, que estaria posicionado para se sair bem o suficiente no Sul para impedir Trump de contar com uma vantagem significativa de delegados na Super Terça-Feira [em 1º de março, quando 12 Estados realizarão primárias entre repulicanos]. Isso poderia dar ao establishment do partido o tempo que pode precisar. E também colocaria em dúvida sua posição nas pesquisas em outros lugares.

 O quanto ele se beneficiou de um ambiente favorável na mídia?

Trump se beneficiou enormemente de ter predominado na cobertura da mídia de notícias desde que entrou na disputa. E também ajudou o fato de os candidatos republicanos terem em grande parte evitado atacá-lo, mesmo enquanto gastavam dezenas de milhões de dólares em propagandas atacando um ao outro.
Isso também não elimina sua posição nas pesquisas. Não há mais muita evidência que apóie a posição de que há um teto baixo no apoio a ele. Maiorias claras de republicanos o veem de modo favorável e dizem que podem apoiá-lo. Ele agora conta com quase 40% das intenções de voto em pesquisas nacionais –um número que pode facilmente resultar em uma maioria de delegados em um campo dividido, como teria resultado para John McCain e Mitt Romney em 2008 e 2012, respectivamente.
Mas ainda não se sabe se Trump conseguiria manter toda essa força diante de ataques coordenados contra ele. Ele simplesmente ainda não enfrentou nada assim.
Por quê? Ele tem se beneficiado de um problema clássico de ação coletiva: é do interesse dos principais candidatos derrotá-lo, mas não é de interesse de nenhum candidato individual atacá-lo. O principal candidato que mais atacou Trump, Jeb Bush, o fez de modo fugaz em alguns poucos debates. O supercomitê de ação política Right to Rise ("Direito de arrecadar" dinheiro de campanha, em tradução livre), alinhado a Bush, tem gasto muito mais dinheiro atacando Marco Rubio.
Para aqueles que viram Trump desafiar todas as expectativas, a noção de que algumas poucas propagandas de campanha poderiam derrubá-lo pode parecer exagerada.
Mas para conquistar a indicação do partido, ele terá que conquistar muito mais do que a base de eleitores que o tem apoiado desde meados do ano passado. Eleitores republicanos mais tradicionais podem não querer apoiá-lo diante de novas questões sobre suas declarações, e esses ataques devem aumentar à medida que outros candidatos ascenderem e passarem a receber mais atenção do que estão tendo.

Quão rapidamente o campo estreitará e quem despontará? 

Um dos principais motivos para Trump contar com uma vantagem tão grande é o fato do establishment do partido estar profundamente dividido. Bush, Rubio, John Kasich e Chris Christie estão todos na disputa e atacando uns aos outros.
Em consequência, todos estão mais fracos: isso mantém doadores e apoios de lado, impede os candidatos de se concentrarem em atacar Trump e, acima de tudo, divide um grande número de eleitores conservadores.
Futuramente, o número de candidatos tradicionais republicanos provavelmente encolherá para um. Isso possivelmente provocará um crescimento nas pesquisas após uma onda de apoios e consolidação do voto dos eleitores tradicionais, o que deverá resultar em cobertura adicional da mídia e maior apoio.
Mas, por ora, os candidatos tradicionais permanecem amontoados próximos de 10% em New Hampshire, a oportunidade mais óbvia para os eleitores reduzirem o campo. Rubio e Kasich parecem ser os que estão mais bem posicionados para liderar esse grupo tradicional, mas ainda resta muito tempo e muitas oportunidades para Christie ou Bush ganharem terreno.
As chances de Trump melhoram quanto mais tempo levar para o establishment se acertar. Se ele vencer em Iowa, é possível que ele siga como rolo compressor até a indicação antes que o establishment tenha alguma chance.

Será que o 'partido' lutará até o final? 

O argumento contra um triunfo de Trump na campanha pela indicação sempre se apoiou na suposição de que a elite republicana –sejam os conservadores consistentes, a direita religiosa ou os moderados do establishment– se oporia a ele de forma vigorosa e uniforme até o final. O partido tem amplos motivos para se opor a ele: ele é um verdadeiro forasteiro com vulnerabilidades profundas na eleição geral e posições iconoclastas a respeito de questões centrais.
Mas agora há mais motivos do que nunca para questionar essa suposição, que antes parecia bem óbvia. Por um lado, a há muito esperada campanha contra Trump simplesmente não se materializou. Mais recentemente, muitos líderes republicanos sinalizaram que estariam dispostos a apoiá-lo, especialmente se a alternativa for Cruz. Há até mesmo sinais de que alguns acreditam que Trump é aceitável, independente da alternativa, talvez por acharem que ele é alguém com quem podem lidar.
Se Trump conseguir sair à frente na disputa, quantos líderes do partido decidirão criticar alguém que pode facilmente vir a se tornar seu candidato, e gastar os milhões de dólares em propaganda que provavelmente precisariam para derrubá-lo? Quantos cederão? No final, esta é a questão que poderá decidir a disputa.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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