Isolado, impopular e tendo de enfrentar uma onda de violência vinda das ruas, o velho líder palestino tem sido cada vez mais contestado por aqueles que disputam sua sucessão
Piotr Smolar - Le Monde
Richard Drew/AP
30.set.2015
- O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas,
discursa na Assembleia Geral da ONU, em Nova York (EUA)
As coisas estão difíceis para Mahmoud
Abbas. Aos 80 anos de idade, o presidente da Autoridade Nacional
Palestina (ANP) está enfrentando uma contestação interna sem precedentes
e perspectivas sombrias no plano internacional.
Em setembro de
2015, ele tinha como plano remodelar o espaço político sob medida para
si. O velho dirigente prometia uma renovação dos oficiais e uma
revitalização das instituições, mas nada foi feito, a exemplo do
Conselho Nacional (Parlamento), que ainda não se reuniu. Mas agora as
pessoas perderam o pudor de falar.
"Estamos assistindo a um apodrecimento acelerado", observa um diplomata ocidental.
"Abu Mazen [nome de guerra de Abbas] se enfraqueceu, ele não consegue mais colocar em prática tudo o que quer", confirma Hani al-Masri, diretor do centro de estudos Masarat. "As divisões dentro do Fatah vêm se aprofundando em torno de sua sucessão."
A ANP continua vigiando e reprimindo os focos de contestação muito intensos, tanto na mídia quanto nas universidades. O mais importante é evitar perder o controle. Por duas vezes, no final de dezembro de 2015, a polícia impediu de forma brutal a realização de manifestações ao norte de Ramallah, em frente ao assentamento de Beit El, local habitual de confrontos com os soldados israelenses.
"Em resposta, a maioria dos membros do comitê central do Fatah boicotaram a cerimônia de 1º de janeiro em Mouqata'a, sede da presidência", ressalta Hani al-Masri.
A corda bamba sobre a qual Abu Mazen tem avançado consiste em continuar com a cooperação com os israelenses na segurança, única garantia de uma tranquilidade relativa na Cisjordânia, ao mesmo tempo em que condena a ocupação.
Segundo Majid Faraj, poderoso chefe da inteligência palestina, sua agência impediu 200 ataques contra os israelenses em quatro meses. Mas essa dicotomia se tornou inadmissível para a população, especialmente os jovens.
Diante da onda de violência que começou em 1º de outubro de 2015, com quase 160 mortos do lado palestino (incluindo os agressores) e 25 do lado israelense, a ANP foi indulgente, depois tentou abraçar a fúria popular e controlá-la, certificando-se de que ela não se voltaria contra ela.
A ANP também prendeu vários ativistas do Hamas. Os israelenses estão extasiados, tendo anunciado o desmantelamento de três células do movimento islamita: duas em Hebron e uma em Abu Dis, em Jerusalém Oriental, que teria planejado ataques suicidas com explosivos.
Segundo o Exército, o Hamas estaria buscando uma escalada.
"O Hamas quer uma resistência violenta", explica Adnan Damiri, porta-voz das forças de segurança palestinas. "Estamos aqui para impedi-los na zona que está sob nosso controle. Mas como você quer que atuemos onde os israelenses não nos deixam entrar, como na zona C, que recobre 60% da Cisjordânia?"
O porta-voz acredita que os acordos feitos com os israelenses para a segurança "foram rompidos" por estes últimos, pois não foi feito nenhum esclarecimento sobre as circunstâncias nas quais alguns palestinos, precipitadamente classificados como agressores, foram mortos há quatro meses. No entanto, a coordenação continua. O Exército israelense tem elogiado a ANP para a imprensa como a um aluno bem-intencionado.
Certos membros do Fatah temem uma ruptura com o povo palestino.
"Há uma grande reviravolta dentro do partido", confirma o opositor Moustafa Barghouti, ex-candidato à presidência. "Muitos apoiam nossa ideia de que estamos diante de uma Intifada que inevitavelmente vai durar, apesar das fases de tranquilidade."
Segundo o último estudo do Centro Palestino para Política e Pesquisa, publicado em dezembro, dois terços dos palestinos querem a saída de Abbas. A mesma proporção apoia os ataques a facadas. No entanto, os militares israelenses observam que a paz tem reinado nos grandes acampamentos de refugiados, caldeirões dos levantes passados.
Mohammed Dahlan, opositor número um no exílio, vem fortalecendo suas redes à distância. Em Ramallah, Jibril Rajoub, presidente da Federação Palestina de Futebol e membro do comitê central do Fatah, começou com as hostilidades. Em uma entrevista à televisão palestina, ele exprimiu um sentimento generalizado.
"O processo de paz foi por água abaixo, e o que vai substituí-lo? As pessoas só ficam sentadas discutindo se deve ser convocado o Conselho Nacional, sobre nossas relações com o Hamas, sobre a instauração de decisões do comitê central", ele lamentou.
E, enquanto isso, a reconciliação prometida com o Hamas permanece só no papel. O Catar está iniciando uma nova mediação, para que os dois lados aceitem formar um governo de união nacional.
Diante de novos rumores sobre sua saúde fragilizada, Mahmoud Abbas quis retomar o controle das coisas.
No dia 6 de janeiro, pela primeira vez desde setembro de 2015, ele claramente descartou que a ANP estivesse em colapso, uma hipótese mencionada recentemente pelo conselho de segurança israelense e temida pelo Exército.
A ideia de entregar as chaves de toda a Cisjordânia a Israel é antiga. Ela seria um suicídio político para aqueles que, assim como presidente, dedicaram suas carreiras ao estabelecimento de um Estado palestino.
Mais uma vez, Abbas quer agir no plano internacional, em um contexto depressivo. A ANP desconfia que não haja nada a esperar do presidente americano, Barack Obama, em final de mandato. Majdi Khaldi, conselheiro diplomático de longa data do presidente Abbas, defende a linha escolhida da internacionalização do conflito.
"Em 2016, o presidente quer uma conferência internacional para acabar com a ocupação, com base na iniciativa de paz árabe de 2002", ele diz.
"Ele queria colocar em prática um mecanismo do tipo 5+1, que funcionou para a questão nuclear iraniana."
A ANP não sonha mais com uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que imponha um cronograma restritivo e parâmetros a Israel visando uma resolução do conflito. Agora o objetivo é um texto que ofereça uma proteção internacional ao povo palestino e que condene a colonização.
"Estamos assistindo a um apodrecimento acelerado", observa um diplomata ocidental.
"Abu Mazen [nome de guerra de Abbas] se enfraqueceu, ele não consegue mais colocar em prática tudo o que quer", confirma Hani al-Masri, diretor do centro de estudos Masarat. "As divisões dentro do Fatah vêm se aprofundando em torno de sua sucessão."
A ANP continua vigiando e reprimindo os focos de contestação muito intensos, tanto na mídia quanto nas universidades. O mais importante é evitar perder o controle. Por duas vezes, no final de dezembro de 2015, a polícia impediu de forma brutal a realização de manifestações ao norte de Ramallah, em frente ao assentamento de Beit El, local habitual de confrontos com os soldados israelenses.
"Em resposta, a maioria dos membros do comitê central do Fatah boicotaram a cerimônia de 1º de janeiro em Mouqata'a, sede da presidência", ressalta Hani al-Masri.
A corda bamba sobre a qual Abu Mazen tem avançado consiste em continuar com a cooperação com os israelenses na segurança, única garantia de uma tranquilidade relativa na Cisjordânia, ao mesmo tempo em que condena a ocupação.
Segundo Majid Faraj, poderoso chefe da inteligência palestina, sua agência impediu 200 ataques contra os israelenses em quatro meses. Mas essa dicotomia se tornou inadmissível para a população, especialmente os jovens.
Diante da onda de violência que começou em 1º de outubro de 2015, com quase 160 mortos do lado palestino (incluindo os agressores) e 25 do lado israelense, a ANP foi indulgente, depois tentou abraçar a fúria popular e controlá-la, certificando-se de que ela não se voltaria contra ela.
A ANP também prendeu vários ativistas do Hamas. Os israelenses estão extasiados, tendo anunciado o desmantelamento de três células do movimento islamita: duas em Hebron e uma em Abu Dis, em Jerusalém Oriental, que teria planejado ataques suicidas com explosivos.
Segundo o Exército, o Hamas estaria buscando uma escalada.
"O Hamas quer uma resistência violenta", explica Adnan Damiri, porta-voz das forças de segurança palestinas. "Estamos aqui para impedi-los na zona que está sob nosso controle. Mas como você quer que atuemos onde os israelenses não nos deixam entrar, como na zona C, que recobre 60% da Cisjordânia?"
O porta-voz acredita que os acordos feitos com os israelenses para a segurança "foram rompidos" por estes últimos, pois não foi feito nenhum esclarecimento sobre as circunstâncias nas quais alguns palestinos, precipitadamente classificados como agressores, foram mortos há quatro meses. No entanto, a coordenação continua. O Exército israelense tem elogiado a ANP para a imprensa como a um aluno bem-intencionado.
Certos membros do Fatah temem uma ruptura com o povo palestino.
"Há uma grande reviravolta dentro do partido", confirma o opositor Moustafa Barghouti, ex-candidato à presidência. "Muitos apoiam nossa ideia de que estamos diante de uma Intifada que inevitavelmente vai durar, apesar das fases de tranquilidade."
Segundo o último estudo do Centro Palestino para Política e Pesquisa, publicado em dezembro, dois terços dos palestinos querem a saída de Abbas. A mesma proporção apoia os ataques a facadas. No entanto, os militares israelenses observam que a paz tem reinado nos grandes acampamentos de refugiados, caldeirões dos levantes passados.
Internacionalizar o conflito
A agitação nos círculos políticos se deve ao mesmo tempo à governança opaca e solitária de Abbas e às ambições despertadas por sua sucessão.Mohammed Dahlan, opositor número um no exílio, vem fortalecendo suas redes à distância. Em Ramallah, Jibril Rajoub, presidente da Federação Palestina de Futebol e membro do comitê central do Fatah, começou com as hostilidades. Em uma entrevista à televisão palestina, ele exprimiu um sentimento generalizado.
"O processo de paz foi por água abaixo, e o que vai substituí-lo? As pessoas só ficam sentadas discutindo se deve ser convocado o Conselho Nacional, sobre nossas relações com o Hamas, sobre a instauração de decisões do comitê central", ele lamentou.
E, enquanto isso, a reconciliação prometida com o Hamas permanece só no papel. O Catar está iniciando uma nova mediação, para que os dois lados aceitem formar um governo de união nacional.
Diante de novos rumores sobre sua saúde fragilizada, Mahmoud Abbas quis retomar o controle das coisas.
No dia 6 de janeiro, pela primeira vez desde setembro de 2015, ele claramente descartou que a ANP estivesse em colapso, uma hipótese mencionada recentemente pelo conselho de segurança israelense e temida pelo Exército.
A ideia de entregar as chaves de toda a Cisjordânia a Israel é antiga. Ela seria um suicídio político para aqueles que, assim como presidente, dedicaram suas carreiras ao estabelecimento de um Estado palestino.
Mais uma vez, Abbas quer agir no plano internacional, em um contexto depressivo. A ANP desconfia que não haja nada a esperar do presidente americano, Barack Obama, em final de mandato. Majdi Khaldi, conselheiro diplomático de longa data do presidente Abbas, defende a linha escolhida da internacionalização do conflito.
"Em 2016, o presidente quer uma conferência internacional para acabar com a ocupação, com base na iniciativa de paz árabe de 2002", ele diz.
"Ele queria colocar em prática um mecanismo do tipo 5+1, que funcionou para a questão nuclear iraniana."
A ANP não sonha mais com uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que imponha um cronograma restritivo e parâmetros a Israel visando uma resolução do conflito. Agora o objetivo é um texto que ofereça uma proteção internacional ao povo palestino e que condene a colonização.
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