Gilles Lapouge - OESP
Recolhamos os mortos e contemos os
mutilados após a eleição para o Parlamento Europeu. O mais estropiado de
todos é o socialista François Hollande, presidente da França. No
entanto, o conservador David Cameron, premiê britânico, também foi
atingido por estilhaços de obuses, pois o líder populista Niguel Farage
conseguiu arrebatar 28% dos votos.
Se por um lado essas eleições europeias levaram ao pináculo os populistas de extrema direita (como Marine Le Pen) e desorientaram os partidos tradicionais, o jovem premiê italiano realizou uma dupla façanha: derrotou o populista Beppe Grilo (teve 40,8% dos votos, enquanto Grillo obteve 21,25%) e esmagou o acrobata Silvio Berlusconi, que, aos 77 anos e com apenas 17% dos votos, terá dificuldade para voltar a montar em seu cavalo.
Na queda das esquerdas europeias, Renzi surge como um milagre, talvez salvador. Ele deverá assumir o papel de líder da esquerda na UE, ocupando o lugar até agora de Hollande, que hoje está queimado, assado e calcinado. Em 1.º de julho, exatamente a Itália assumirá a presidência rotativa do bloco.
Renzi representa a esperança das esquerdas europeias. Uma proeza, porque se Hollande é um "filho do socialismo", a trajetória do italiano é mais curiosa: esse ex-prefeito de Florença não só chegou ao poder sem passar pelo veredicto das urnas, mas outrora foi escoteiro e militante da defunta Democracia Cristã, uma formação de direita.
O jovem Renzi é um homem que tem pressa. Não teme defender a memória do antigo dirigente comunista Enrico Berlinguer, homem realmente notável. Em seus discursos, afirma que não é um homem de esquerda, mas faz coisas de esquerda. Não devemos esquecer que seu atual partido nasceu em 2007 da fusão entre os antigos comunistas e os velhos democratas-cristãos de esquerda.
São reformas mais à esquerda as que ele empreende com energia e rapidez desde que assumiu e, ele espera, chegarão a outros países. Renzi gostaria de assumir a chefia de uma "frente antiausteridade (que as mãos débeis de Hollande não podem mais conduzir), com base no modelo que adotou para a Itália: flexibilização das restrições orçamentárias, redução de 10% nos encargos das empresas e corte de 10 bilhões (R$ 32,4 bilhões) no imposto de renda para as pessoas que ganham menos de 1,5 mil. Ele vai injetar 90 bilhões numa economia italiana cujo crescimento é quase nulo há 20 anos.
Quais suas intenções? Colocar a Itália como uma das líderes da esquerda europeia, sem dúvida, mas seus sonhos não vão além disso? Imaginemos, por exemplo, Renzi substituindo o motor "franco-alemão" por um "italo-alemão". Claro que Merkel, de palavras compassivas para o valente Hollande, deve se sentir muito só nesse "calhambeque franco-alemão".
Renzi defende-se diante de tais disparates e procura destacar sobretudo a solidariedade das esquerdas. Um dos seus assessores, Sandro Gozi, lamenta que o eixo franco-alemão tenha conseguido, diante da supremacia de Merkel, levar a esquerda a "apoiar políticas de direita".
Pragmatismo. A equipe italiana vai mais longe, afirmando ser nocivo para a UE o hábito de construir alianças entre dois ou três países. Por exemplo, o que poderia ser um eixo ítalo-alemão em detrimento da França. E como não aprovar essa ideia? Nada é mais prejudicial ao conceito europeu do que as diplomacias internas da UE que visam a composição de pequenas alianças entre essa ou aquela peça do quebra-cabeça indecifrável que se tornou a Europa. Enfim, Renzi era um democrata-cristão há alguns anos. Hoje é um democrata. Um pragmático.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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