domingo, 1 de junho de 2014

Após vitória nas eleições europeias, Le Pen mira palácio presidencial
Stefan Simons - Der Spiegel 
Bertrand Langlois/AFP
A ultraconservadora Marine Le Pen discursa para militantes em Paris A ultraconservadora Marine Le Pen discursa para militantes em Paris
Após seu triunfo nas eleições europeias de domingo passado (25), o partido francês Frente Nacional (FN), de extrema direita, espera aumentar seu poder em casa com Marine Le Pen, que pretende disputar a presidência em 2017. Com a popularidade de François Hollande despencando, a candidatura de Le Pen não deve ser descartada.
Marine Le Pen derramou lágrimas de alegria após seu triunfo nas eleições para o Parlamento Europeu de domingo. Quando o chefe da Frente Nacional chegou em uma boate parisiense, após a meia-noite, para celebrar sua vitória com os membros de seu partido, ela abraçou fãs e familiares antes que o champanhe começasse a ser servido. O pai de Marine, Jean-Marie, que foi reeleito para o Parlamento Europeu pela sétima vez, também estava por perto para parabenizar sua filha. "Essa foi uma vitória histórica", disse ele.
Na segunda-feira (26) de manhã, a noite emocionante já havia sido esquecida e os estrategistas estavam novamente ocupados trabalhando na sede do partido em Nanterre. Até a eleição de domingo, a Frente Nacional ocupava três assentos no Parlamento Europeu – um para Marine, outro para seu pai e mais um para Bruno Gollnisch, companheiro político de Jean-Marie – e sua existência passava, em grande parte, despercebida na periferia política de Bruxelas. Agora, porém, a bancada do partido ganhará mais 21 representantes.
Depois de obter 25% dos votos, a Frente Nacional terá agora mais assentos do que qualquer outro partido político francês no Parlamento Europeu. Marine Le Pen tem a intenção de utilizar a presença de sua agremiação na sede do parlamento em Estrasburgo e Bruxelas para obter ganhos políticos. Alguns membros da extrema-direita francesa já estão pensando em seu futuro político – e pretendem chegar até o palácio presidencial em Paris.

A "longa marcha"

O primeiro passo da "longa marcha", como Marine Le Pen chamou sua vitória, se originou em um grupo partidário no Parlamento Europeu, formado por céticos do euro, a moeda comum europeia, por opositores da UE e por populistas de direita e de extrema-direita. Esse avanço daria aos partidos um maior acesso aos recursos e aos cargos-chave e também aumentaria sua importância. Para criar um grupo como esse, pelo menos 25 deputados de sete países-membros diferentes da UE devem se unir em um bloco. Considerando-se as divergências entre as ideologias da direita europeia, essa não será uma tarefa fácil.
O único apoio verdadeiro com o qual Le Pen poderá contar é o do Partido da Liberdade, da extrema-direita austríaca. Os partidos populistas de direita da Bélgica e da Holanda não se saíram bem na eleição de domingo, alcançando apenas resultados decepcionantes. Enquanto isso, as forças políticas radicais da Dinamarca e da Grã-Bretanha disseram que não vão aderir a uma aliança com a Frente Nacional.
Apesar do triunfo de Le Pen – que as primeiras páginas dos jornais franceses descreveram como um "Big Bang", um "repúdio" e até um "terremoto" – os populistas de direita continuarão sendo uma minoria entre os 751 membros do Parlamento Europeu. "Eles não terão influência suficiente para determinar o direcionamento das políticas", disse Joel Gombin, que é especialista na Frente Nacional, durante entrevista à rádio de notícias francesa BFM. "Pelo contrário", disse o sociólogo. "O desempenho relativamente bom dos adversários euro obrigará os atuais partidos da UE a aumentarem sua cooperação".
Isso, porém, terá pouca importância para Le Pen e para a Frente Nacional. Este ciclo eleitoral demonstrou claramente que a mensagem anti-UE do partido e sua crítica a um comando central europeu que retira o poder dos estados-membros é atraente para os trabalhadores e para os eleitores mais jovens.
Para que não restem dúvidas, também pode-se dizer que o sucesso da extrema-direita francesa é produto da frustração dos eleitores franceses em relação à má situação da economia do país e à crescente desilusão com os partidos políticos consagrados. Na verdade, os socialistas e os conservadores do UMP são vistos cada vez mais como confusos, não confiáveis ou até mesmo corruptos. Para capitalizar essa percepção, Marine Le Pen reformou a ideologia da Frente Nacional de baixo para cima e, atualmente, para muitos franceses o partido parece ser uma força moderna e dinâmica.

Conquistando a França aos poucos

Por isso, o sucesso de domingo é visto como uma vitória parcial entre os líderes da Frente Nacional. Eles estão de olho em algo mais do que as instituições da UE em Bruxelas; eles também querem aumentar seu poder em casa. "Conquiste a França primeiro para, em seguida, destruir a Europa", disse sobre essa estratégia Louis Alliot, vice-líder do partido e companheiro de Marine Le Pen.
Com 4,5 milhões de votos, o partido não se saiu tão bem no domingo quanto durante a eleição presidencial de 2012, quando obteve os votos de 6,5 milhões de eleitores franceses. Mesmo assim, o partido conseguiu atrair cerca de 11% de todos os eleitores, o que aumentou as esperanças dos partidários da FN para a campanha presidencial de 2017.
A fim de posicionar Marine Le Pen como uma alternativa realista aos principais partidos, a extrema-direita está se concentrando em conquistar o país aos poucos. As eleições regionais do próximo ano podem ser decisivas. Dos 21 órgãos administrativos regionais onde as eleições serão realizadas, 20 são atualmente liderados pelos socialistas.
Se a esquerda se sair tão mal nessas eleições quanto se saiu no pleito de domingo – os socialistas conseguiram apenas 14% – a FN poderá lucrar com o seu contínuo declínio. Marine Le Pen também poderá ter uma chance real em um enfrentamento direto com o presidente François Hollande. Pesquisas atuais mostram que, com uma aprovação popular de apenas 11%, Hollande é o presidente mais impopular da França das últimas décadas.
Mas será que a tentativa de Le Pen para chegar ao palácio presidencial é pouco mais do que uma ilusão? "No passado, a Frente Nacional só tinha bastiões de apoio em determinadas áreas", disse o cientista político Gombin. "Mas, após essa eleição, a FN tornou-se um partido nacional. Ao lado da esquerda e da direita tradicionais, a Frente Nacional avançou e agora passou a ser a terceira força política da França".
Tradutor: Cláudia Gonçalves

Nenhum comentário: