Reinaldo Azevedo - VEJA
Hoje
é o dia… E a se a gente pedisse desculpas a José Sérgio Gabrielli,
ex-presidente da Petrobras? O que vocês acham? Mais do que isso: a gente
poderia dar a ele uma medalha de Honra ao Mérito. O valente prestou
depoimento nesta quarta à CPI Mista da Petrobras. Afirmou, e nem poderia
ser diferente, que nada houve de errado com a compra da refinaria de
Pasadena. Até aí, vá lá. Não poderia dizer o contrário. Mas ele foi
adiante: disse, vejam que espetáculo, que a Petrobras pagou pouco pela
refinaria. Ah, bom! Gabrielli está convicto de que a empresa brasileira
passou a perna nos belgas e fez um negocião. Parece brincadeira, mas ele
tentava parecer sério.
Com a
arrogância costumeira, atacou o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens
Bueno (PR): “O senhor tem o direito de fazer o espetáculo que está
fazendo”. Embora a CPI Mista não se equipare àquela piada que é a
comissão do Senado, ainda assim, é composta por uma maioria de
governistas, que estão lá, com raras exceções, para aplaudir gente como
Gabrielli. A seriedade deste senhor veio a público, com clareza
insofismável, na campanha de 2010, quando afirmou, na condição de
presidente da Petrobras, que FHC havia tentado privatizar a empresa. É
mentira! Isso nunca aconteceu.
A tese de
que Pasadena foi baratinha é nova e espantosa. Não é o que os próprios
belgas disseram, né? No balanço que está no site da Universidade
Católica de Leuven, na Bélgica, a CNP, que comanda o grupo Astra
Transcor, dona, então, da refinaria de Pasadena, afirma que a operação
com a Petrobras foi um sucesso “além de qualquer expectativa razoável”,
conforme revelou reportagem do Jornal Nacional.
No
balanço de 2006, ano em que a Petrobras efetivamente pagou por metade
da refinaria, a Astra teve um lucro recorde. Nesse mesmo balanço, a CNP
já fala da cláusula “put option” e da possibilidade de impor à Petrobras
a compra da outra metade.
Vai ver os
belgas são muito burros, e José Sérgio Gabrielli, muito inteligente,
né? Vai ver comprador e vendedor acharam que aplicaram um belo truque no
outro. Considerando o prejuízo que a Petrobras teve de entubar,
adivinhem que estava certo.
O
respeitado jornal de economia e política belga “L’Echo” noticiou a
operação. Destacou que a Petrobras fez um péssimo negócio, “calamitoso”.
Chamou os ganhos do grupo belga de “golpe de mestre mantido em segredo”.
O dono do
conglomerado CNP é o bilionário Albert Frère. O “L’Echo” tira um
sarrinho do Brasil, dizendo que o país foi o “grande irmão” de Albert. É
um trocadilho: “frère” quer dizer “irmão”, em francês…
Mas, claro!, devemos acreditar em Gabrielli: foi um negocião!
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