domingo, 1 de junho de 2014

Quase 10% dos venezuelanos vivem na extrema pobreza, diz instituto de estatísticas
Alfredo Meza - El País 
Ao se completarem os primeiros 12 meses do mandato do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cerca de 10% dos 30 milhões de habitantes do país vivem em condições precárias e sofrem uma inflação histórica que supera os 50%
O primeiro ano de Nicolás Maduro à frente do governo da Venezuela, que se completou em 19 de abril passado, produziu dados que não causam orgulho ao chavismo: uma inflação anual de 56,2% --a mais alta de toda a era bolivariana--, o incessante crescimento dos homicídios e um índice de escassez de 25,3% (que reflete o desabastecimento de todos os produtos oferecidos no país).
No fim de semana, somou-se outro dado a essa coleção de adversidades. O INE (Instituto Nacional de Estatísticas) revelou que o índice de pobreza extrema passou de 7,1% no segundo semestre de 2012 para 9,8% no mesmo período de 2013. Isso quer dizer que 737.364 venezuelanos se somaram ao grupo dos que vivem na extrema pobreza. Hoje, eles são, no total, 2.791.292 cidadãos em uma população de pouco mais de 30 milhões.
O chavismo se gabou da diminuição desses indicadores durante a década passada. Animadas por uma expansão do gasto público e um aumento das receitas do petróleo, muitas famílias saíram da pobreza extrema. De acordo com o censo de 2001, 11,36% das famílias venezuelanas se encaixavam nesse indicador. Dez anos depois, o censo de 2011 projetou que apenas 6,97% das famílias pertenciam a esse grupo. Foi um sucesso que a máquina de propaganda oficial se encarregou de promover em todo o mundo, apesar das críticas da oposição, que denunciou a mudança de método para calcular a pobreza.
E tudo indica que a crise econômica se agravou para os que têm menos. A inflação, que no ano passado fechou em 56,2%, foi muito mais elevada em 2013 se levarmos em conta só os alimentos (73,8%). O INE também afirma que o número de famílias na extrema pobreza aumentou de 6% para 8,8% em um ano, o que significa que mais 189.086 famílias carecem dos recursos suficientes para adquirir a cesta alimentar básica. Para junho de 2013, esse indicador havia superado a barreira dos dois dígitos, situando-se em 11,8%, limite que não tocava desde o primeiro semestre de 2006.
O aumento da pobreza extrema talvez seja a prova mais evidente dos problemas que o governo enfrenta para manter o modelo econômico de Hugo Chávez. De cada US$ 100 (cerca de R$ 220) que ingressam nos cofres nacionais pelas exportações, US$ 96 vêm do petróleo. As exportações que não sejam do produto bruto quase desapareceram, e a atividade econômica privada se reduziu ao mínimo em consequência do duro controle do câmbio imposto pelo governo há 11 anos.
A isso deve-se somar uma produção de petróleo que não pôde aumentar, de acordo com os planos que tinha a Petróleos de Venezuela e com a grande quantidade de subsídios que mantêm a economia prostrada. O governo se nega a admitir o preço do combustível que lhe custa cerca de US$ 12 bilhões (cerca de R$ 26 bilhões) anuais. Além disso, vende o produto bruto em condições preferenciais aos países do Caribe e paga com petróleo os empréstimos desembolsados pela China para a execução de grandes obras de infraestrutura.
Tudo isso deixa o Executivo quase sem fluxo de caixa para poder substituir com importações o que o setor privado não produz devido à falta de incentivos. Em um contexto de oferta tão precária, os preços dos alimentos aumentaram muito.
As críticas se fizeram sentir de imediato. O ex-candidato presidencial e governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, utilizou sua conta no Twitter para se referir às cifras publicadas pelo INE, que só foram descobertas depois de uma reportagem publicada no jornal local "El Universal" em sua edição de sábado.
"Foram aprovados US$ 20 bilhões [R$ 44 bilhões] através da Cadivi [um departamento estatal desaparecido que devia aprovar as solicitações de divisas por empresas e particulares] que nunca entraram no país. Onde estão os que os roubaram?", perguntou.
Capriles acrescentou que o desfalque à nação representa "95% das reservas internacionais".
A Provea, uma organização de defesa dos direitos humanos, exigiu explicações do governo, que constantemente justifica seu caráter popular pela criação de programas sociais chamados Missões. "A desvalorização da moeda em fevereiro de 2013 [de 4,30 bolívares para 6,30 por dólar], a interrupção no fornecimento de serviços básicos e a escassez de produtos alimentares e de uso pessoal, entre outros, sem dúvida incidem no aumento da pobreza no país refletido no relatório apresentado pelo INE", afirmou a organização em uma nota à imprensa.
A Provea pediu também que a Assembleia Nacional interpele o vice-presidente para a Área Social, Héctor Rodríguez, e solicite uma explicação do chefe de Estado. Em seu programa semanal, Maduro não mencionou diretamente esses resultados.
Em linhas gerais, voltou a denunciar que seu governo enfrenta uma conspiração, uma guerra econômica que impede o aumento da oferta de alimentos, e anunciou o lançamento de um novo programa, a Grande Missão Lares da Pátria, "para proteger mães e crianças pequenas". Trata-se da fusão de várias Missões para reforçar a assistência social, que vive suas horas mais minguadas em muitos anos.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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