Tudo conspira contra o investimento
O alto custo de investir é obstáculo para o Brasil crescer mais e se inserir nas cadeias globais de produção
PEDRO LUIZ PASSOS - FSP
Estudo
recém-concluído pelo Iedi e que em breve será divulgado merece a
atenção dos formuladores de nossa política econômica. Sua principal
conclusão é preocupante: se quase três décadas atrás o Brasil era um dos
países mais baratos em que investir, hoje é um dos mais caros,
distanciando-se, em consequência, das outras economias emergentes e
mesmo das desenvolvidas.
O levantamento mensurou os custos
relativos em 50 países para a construção e a aquisição de máquinas e
equipamentos necessários em projetos de investimento.
Quanto mais
próximo do topo da lista, maior a conta a ser paga. As últimas
colocações significam condições melhores para a atração de capital
produtivo. No ano inicial do estudo, 1985, ocupávamos a 44ª posição e
ficávamos entre os países com menor custo para investir.
Até
1998, vários países tornaram-se mais baratos, enquanto o Brasil fez o
caminho inverso, tornando-se o 30º mais caro do mundo para investimento
produtivo.
Os países avançados, sem exceção, permaneceram com
custo relativo maior, mas os emergentes tiveram melhor sorte, ao
aproveitar o vigoroso processo de globalização que então se iniciava. E o
Brasil? Perdeu competitividade nesse campo e gradativamente foi ficando
menos atrativo para os investimentos.
Em todos os países do
bloco dos Brics (China, Índia, Rússia e África do Sul, além do Brasil),
assim como em outros emergentes de destaque, como Coreia do Sul, México e
Chile, o investimento passou a exigir menos desembolsos, comparado a
seu custo na economia brasileira.
Finalmente, em 2011, último ano
em que os dados estão disponíveis, o Brasil era o 8º do mundo com maior
custo relativo do investimento produtivo. Poucos países, todos ricos e
com menos oportunidades, tipo Japão, Suécia e Austrália, mantêm-se em
patamar superior ao brasileiro.
Se em nosso caso houve essa
mudança radical em quase 30 anos, outras economias se esmeraram para
transformar os investimentos internos e externos em mola propulsora de
seu crescimento. O barateamento do investimento foi instrumento para
atingir esse objetivo.
A China, por exemplo, praticamente manteve
inalterada sua posição: ocupava o 46º lugar em 1985 e assim permaneceu
em 2011 (48º). Em outros casos houve melhora relativa, a exemplo da
Coreia do Sul (que passou do 32º para o 42º lugar), do Chile (do 23º
para o 36º) e da Malásia (do 43º para o 49º).
Quais as
repercussões desse cenário? Primeiro, ele ajuda a explicar a baixa taxa
de investimento no Brasil, que oscila em torno de 18% do PIB. Além
disso, em razão do alto custo, os investimentos de maior risco tendem a
ser evitados. Os aportes em projetos de alta tecnologia se enquadram
nesse caso, assim como os com longo prazo de maturação.
Outra
consequência: tanto empresas estrangeiras como nacionais passaram a
direcionar as inversões para setores com maior expectativa de retorno,
além de mais protegidos ou mais beneficiados por incentivos. Isso fez o
pêndulo se inclinar para os segmentos voltados ao mercado interno,
sobretudo da área de serviços, pouco expostos à concorrência externa. A
contrapartida é o menor investimento industrial, que, por isso, não
amplia sua produtividade e reduz a sua participação no PIB.
Numa
economia globalizada, a decisão sobre o local de produção se baseia no
custo de instalação e nas facilidades disponíveis para atuar em
diferentes pontos do mundo. Sem tais condições, o país vai se
distanciando do radar de investimentos dos grandes grupos internacionais
na formação de suas cadeias globais.
Muitas vezes, medidas
pensadas para melhorar esse cenário mais atrapalham do que ajudam, ao
criar um mundaréu de subvenções, exceções tributárias e subsídios.
Poderíamos ter uma regulação econômica mais horizontal e mais simples
se, em vez de lançar mão de paliativos, atacássemos as causas do alto
custo dos bens de investimento.
Na construção ou na aquisição de
máquinas e equipamentos no Brasil, a inversão é cara porque sobre ela
incidem tributos. Desonerar plenamente o investimento, incluindo aí os
impostos estaduais (ICMS) e municipais (ISS), seria um bom começo,
embora não suficiente. É urgente remover os empecilhos que travam o
investimento produtivo e impedem o aumento da formação de capital para
um nível mais próximo das necessidades do país.
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