domingo, 3 de janeiro de 2016

2015: o ano em que 651 doentes ficaram curados da hepatite C
Ana Maia - DN
José Carlos Saldanha, doente com hepatite C que esteve na Comissão Parlamentar de Saúde, negativou do vírus  |  Júlio Lobo Pimentel / Global Imagens
Desde a assinatura do protocolo em fevereiro, 5322 pessoas iniciaram tratamento. Segundo Infarmed, 32 não ficaram curados
A 10 de janeiro José Carlos Saldanha vai fazer a última análise. A que vai confirmar em definitivo, aquilo que o médico já lhe disse mas que quer ter todas as certezas antes de gritar vitória: que está curado da hepatite C.
José Carlos Saldanha, que há dez meses gritou no Parlamento ao então ministro da Saúde Paulo Macedo "não me deixe morrer", fará então parte da lista de doentes curados. A mesma que conta já com 651 pessoas. O balanço da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), a 28 deste mês, dá conta de 5322 tratamentos iniciados, dos quais 683 estão concluídos. Há 32 doentes não curados.
Este ano acaba por ser um marco. Uma vitória que também é de José Carlos Saldanha. "Só fiz a minha parte, com a convicção que temos de lutar até tombar. É claro que esta é uma vitória e sinto que fiz parte desta luta. Mas não estive sozinho Não imagina a quantidade de pessoas que vêm ter comigo... É isto que me dá vida", diz. José, que tem uma loja de relógio - paixão de há muitos anos - está negativo ao final do segundo de seis meses de tratamento com o sofosbuvir e declastavir. Está na lista para transplante, embora ainda haja alguma esperança de o fígado regenerar mais.
Para 2016 espera que a lista de doentes curados cresça mais. E não só. "No início do ano vamos pedir uma audiência ao novo ministro da Saúde. Temos de atender os doentes de acordo com as suas necessidades. Temos de avançar com um rastreio para sabermos quantos somos, quais os genotipos para partirmos para o diálogo com a indústria farmacêutica", defende.
Medicina da felicidade
O acordo entre o Ministério da Saúde e o laboratório Gilead, que comercializa o sofosbuvir e o ledipasvir + sofosbuvir, foi assinado em fevereiro, após intensas negociações. Poucos meses depois, Rui Tato Marinho, hepatologista no hospital de Santa Maria, falava de medicina da felicidade. "É impressionante, não há quase ninguém que não fique curado e quase sem efeitos secundários. É mesmo uma medicina da felicidade. É a primeira infeção crónica vírica, que pode provocar cancro, que conseguimos curar. É um marco." O médico explica que três meses depois do final do tratamento, se a análise estiver negativa o doente está curado. Até ao momento, Santa Maria tratou mil doentes. "Desde fevereiro tratei 350. Acho que em dez anos tinha tratado 300. É importante aumentar a oferta para outros genotipos do vírus", refere.
Luís Figueiredo está na última caixa do tratamento. As análises dos primeiros três meses deram negativas. "Acho que é quase impossível voltar, mas ainda não posso fazer a festa. Mudei de vida, de alimentação, estou a fazer desporto. A 20 de janeiro vou fazer a TAC ao fígado para ver como está. Isto é ótimo, mas podia ter sido mais cedo e com menos sofrimento. Estivemos oito meses à espera por políticas económicas. Falta uma política comum europeia que permita fazer a compra para toda a Europa. Já era tempo de ver estes resultados, mas ainda tenho amigos que se queixam de dificuldades de acesso", conta, defendendo também ele a implementação urgente do rastreio.
A maioria dos 5322 tratamentos está a ser feito com os dois medicamentos do acordo, adianta o Infarmed, referindo que para situações especificas estão a ser usados daclatasvir, dasabuvir, simeprevir, boceprevir e ombitasvir+paritaprevir+ritonavir, disponíveis através de autorização especial "enquanto decorre a avaliação com vista ao financiamento pelo SNS". Sobre os 32 doentes não curados, "não foram comunicados pelos hospitais as causas para a não resposta ao tratamento, sendo que têm disponíveis outros medicamentos". Quanto ao pagamento - o valor é secreto - será por doente tratado. O acordo "estabeleceu uma linha de financiamento centralizada através da qual os hospitais são financiados com os montantes que tem a pagar".

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