A tempestade perfeita
Bernardo Pires de Lima - DN
É
difícil escrever sobre a Europa em 2016 sem evitar o catastrofismo. As
suas cinco crises existenciais estão a consumi-la e a assustá-la, como
se um tornado estivesse em rota de colisão com os edifícios estruturais e
cada país fugisse para seu lado ou se escondesse onde der. E não há
nenhum sinal sólido de inversão desta tempestade perfeita.
Primeiro, a
estabilidade da zona euro continua por demonstrar. Cumprir planos da
troika não é o mesmo que tornar sólido o espaço político do euro: quanto
muito desvia a atenção dos problemas de um certo país, mas não
tranquiliza ninguém quanto às etapas políticas que faltam cumprir para
blindar a moeda única. E não há razões para dormir descansado sobre as
crises grega, portuguesa ou espanhola, um hipotético cordão de segurança
a Itália ou França, ou uma restauração de confiança no euro pelos
restantes Estados membros. Segundo, o extremismo anti-UE continua a
galopar tanto o discurso da Frente Nacional como o exercício de poder de
Viktor Orbán, o ideólogo-mirim da ala putinista da Europa iliberal.
Polónia e Eslováquia estão já em deriva perigosa e os Balcãs entraram na
fase-chave das adesões euro-atlânticas, reavivando mais uma ferida
entre o Ocidente e Putin que, com legislativas em setembro, tudo fará
para atear fogos na Europa, aparecer depois como apaziguador e ganhar
popularidade caseira. A Ucrânia, como terceira crise, é a etapa maior
desta piromania. As duas últimas, refugiados e brexit, estão
interligadas, pois Londres quer tanto fugir de Bruxelas como da vaga
mediterrânica. Se a caótica gestão comunitária está a consumir
politicamente a UE e a atiçar a xenofobia partidária, um hipotético
brexit vai pressionar ainda mais Berlim a compor unilateralmente os
cacos europeus e a expor a dificuldade de Paris em continuar a partilhar
a gestão do condomínio. 2016 vai ser o ano mais importante na história
da UE.
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