terça-feira, 29 de março de 2016

Adeus, PT! “Nós” sempre fomos bons, com todos os nossos defeitos. “Eles” sempre foram maus, com todas as suas qualidades
Os tais “eles”, que chamavam de “nós”, não eram pessoas boas. Ao contrário. Eles assaltavam a Petrobras. Eles cobravam propina. Eles usavam o patrimônio público em proveito próprio. Eles fraudavam as regras do estado de direito. Eles transformaram toda crítica honesta em sabotagem. Eles nos convidavam a deixar o país se estávamos descontentes
Reinaldo Azevedo - VEJA
O PT, Lula muito particularmente, dividiu o mundo em dois grupos: aqueles a que chamava “nós” — que são os petistas — e “eles”, que era o restante dos brasileiros, os que não estavam afinados com as teses do partido.
Ora, meus caros, desde sempre, o grupo dos não petistas era uma esmagadora maioria, certo? Desde sempre, houve mais não petistas do que petistas no Brasil. Mas, durante um largo período, sempre pareceu o contrário. A minoria se impunha na base do berro, da formação de verdadeiras milícias — físicas, mesmo, ou nas redes sociais — e do assédio moral.
Alguém poderia indagar: “Ora, Reinaldo, se eles ganharam quatro eleições, como você pode chamá-los de minoria?”.
Pois é, desde sempre, é preciso não confundir o eleitor com o militante. O fato de a maioria ter dado ao PT quatro mandatos não implica que o partido tenha obtido nas urnas o direito de roubar, de extorquir, de chantagear, de assaltar o estado de direito, de fraudar as regras da democracia, de desmoralizar as instituições.
E isso, com efeito, os petistas nunca entenderam. Afinal, eles, que chamavam a si mesmos de “nós”, eram a fonte de onde emanava todo bem, pouco importava o que fizessem, crime ou não. E “nós”, que eles designavam como “eles”, éramos, ao contrário, a morada do capeta.
Hoje, alguns imbecis falam no clima de perseguição que haveria contra os petistas e num tal “preconceito”. Evidentemente, repudio qualquer forma de perseguição política, até porque eu soube o que é enfrentar esses caras quando estão por cima. Imodestamente, eu antevia os desastres do PT quando o governo Lula tinha 86% de ótimo e bom. O arquivo do blog está à disposição.
Pediram a minha cabeça nas redes sociais.
Cobraram a minha demissão.
Atribuíram-me vínculos que nunca tive.
Não me dedicarei a prática semelhante. Nunca quis silenciá-los. Sempre quis vencê-los pela força do argumento.
À medida que as falcatruas apuradas pela Lava Jato vão vindo à luz, o que é que se constata, de maneira assombrosa?
Os tais “eles”, que chamavam de “nós”, não eram pessoas boas. Ao contrário. Eles assaltavam a Petrobras. Eles cobravam propina. Eles usavam o patrimônio público em proveito próprio. Eles fraudavam as regras do estado de direito. Eles transformaram toda crítica honesta em sabotagem. Eles nos convidavam a deixar o país se estávamos descontentes.
E, no entanto, com todos os nossos defeitos, com todas as nossas falhas, com todas as nossas distrações, somos boas pessoas, não é?
Lutamos dia a dia para ganhar a vida. Pagamos os nossos impostos. Esforçamo-nos para não invadir os direitos alheios. Tentamos planejar o futuro. Não metemos a mão no que não nos pertence. Não usamos o fruto do trabalho de terceiros em benefício próprio. Procuramos seguir as leis.
Muitos de nós, dessas pessoas boas, votaram no PT. E não o fizeram para ser roubadas. Ao contrário: deixaram-se encantar pela retórica das promessas. Deixaram-se levar pela mentira de que eles eram mais morais do que os outros. Deixaram-se enredar pela história do homem de origem pobre que viria para redimir os oprimidos.
Não! A esmagadora maioria das pessoas que votaram no PT não o fez por maus motivos. Ao contrário: as demandas a que o partido prometia responder existiam e eram justas.
E é por isso que o partido vai deixar o poder pela porta dos fundos, por mais que suas milícias tentem impedir.
Quando o PT falou mal de nós, os maus eram eles.
Quando o PT enveredou para o mundo do crime, traiu seus eleitores.
Quando o PT tentou fraudar a democracia, encontrou a resistência da sociedade. E resistimos todos: tanto os que nunca votaram no partido como os que foram traídos.
Adeus, PT! Já vai tarde.

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