quarta-feira, 30 de agosto de 2017

JBS deve atingir BNDES em novos anexos da colaboração premiada
Complemento pode resultar em ação por gestão temerária do banco
Vinicius Sassine  - O Globo
Os irmãos Joesley e Wesley Batista pretendem entregar à Procuradoria-Geral da República (PGR), em complementação à colaboração premiada assinada em maio, detalhes de agendas, reuniões, registros de ligações telefônicas e operações relacionadas aos contratos do grupo J&F com o BNDES. Os irmãos Batista e executivos do grupo proprietário da JBS trabalham, em conjunto com seus advogados, na elaboração de novos anexos da delação.
O acordo assinado com a PGR e homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) prevê 120 dias para complementação do que foi delatado, prazo que, segundo fontes com acesso ao trabalho de elaboração dos documentos, acaba amanhã. O grupo pretende entregar essa complementação dentro do prazo.
No caso do BNDES, haverá um anexo específico com informações relacionadas aos contratos do grupo com o banco. Os delatores, no entanto, não devem admitir pagamento de propina dentro do BNDES para a obtenção de contratos. O que está previsto é um detalhamento de reuniões e ligações telefônicas, especialmente de Joesley com o corpo técnico do banco, além de supostas provas do “empenho” e da “influência evidente” do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para a liberação do dinheiro.
Na interpretação de fontes com acesso a esta fase de elaboração de novos anexos da delação, os dados referentes aos contratos com o BNDES podem auxiliar em investigação sobre gestão temerária no banco. Nos depoimentos já prestados, Joesley afirmou que Mantega intermediou repasses ao PT a partir do êxito nos contratos do grupo com o BNDES. Segundo o delator, o grupo administrou contas no exterior para onde eram destinados repasses associados aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff.
No último dia 20, reportagem do GLOBO mostrou as iniciativas do grupo J&F para derrubar investigações sobre supostas fraudes em contratos do grupo com o BNDES no valor de R$ 8,1 bilhões. Entre essas iniciativas estavam ações na Justiça para não fornecer senha de celular apreendido e para que documentos não fossem periciados.
O entendimento da defesa é que a imunidade penal alcançada com a colaboração premiada se estende a essa investigação. Os contratos são alvo da Operação Bullish, conduzida pela Procuradoria da República no DF e que não entrou no escopo da delação. O novo anexo visa a atender à investigação da Bullish.
ACORDO DE LENIÊNCIA
O grupo também elabora uma complementação de informações referentes ao acordo de leniência, assinado com o Ministério Público Federal (MPF) em primeira instância e pelo qual se comprometeu a pagar R$ 10,3 bilhões em multa e ressarcimento ao erário público, num prazo de 25 anos. A leniência livra as empresas de ações de improbidade — é assinada com pessoas jurídicas, enquanto a delação se destina a pessoas físicas.
O novo detalhamento, que deve integrar o conjunto de informações do acordo de leniência, diz respeito a práticas de corrupção no Serviço de Inspeção Federal (SIF), ligado ao Ministério da Agricultura. Delatores já haviam relatado, colaboração premiada, o pagamento de propina no SIF.

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