O futuro da Lava Jato
Mesmo que possa ter falado, como registrou Sonia Racy em sua coluna
do Estadão, em encerrar suas atividades em outubro, essa data-limite
refletiria muito mais certo cansaço do Juiz do que uma possibilidade
real. A acusação de que seu amigo Carlos Zucolotto Jr., advogado e
ex-sócio de sua mulher, ofereceu facilidades a um réu da Lava Jato, o
também advogado Rodrigo Tacla Duran da Odebrecht, foragido na Espanha,
deixou Moro mais que abatido, revoltado com o que considerou uma
tentativa de usar um amigo pessoal para atacá-lo e à Operação Lava Jato.
Também o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, declarou em
reunião promovida pelo Globo, que já é possível antever o fim da Lava
Jato. E contou que uma deputada italiana com quem conversou o aconselhou
que estabelecesse um fim oficial das investigações antes que uma “mão
externa” o fizesse, por ser inevitável que as reações às investigações
em algum momento conseguissem barrá-las com ações políticas.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Fux, em entrevista
ao Globo, disse que há uma ação orquestrada no Legislativo para frear a
Lava Jato, e criticou a tentativa de reverter a decisão do Supremo de
permitir a prisão de condenados na segunda instância da Justiça. Essas
ações seriam parte da ofensiva para travar ou inviabilizar a Operação
Lava Jato.
O fato é, porém, que boa parte dos trabalhos em Curitiba já foi
feita, e a parte mais relevante hoje está no STF, dos envolvidos com
foro privilegiado, ou se espalhou em outros foros por não ter relação
com Petrobras. Mas ainda há investigações relevantes sendo feitas em
Curitiba.
O chefe dos procuradores da força-tarefa de Curitiba, Deltan
Dallagnol, em entrevista no início do mês chamou a atenção para o fato
de que existem centenas de pessoas sob investigação, e novas linhas de
trabalho não param de surgir. Algumas áreas da Petrobras, como
Comunicação e serviços terceirizados, ainda estão no começo das
investigações.
Das cerca de mil contas investigadas pelos órgãos da Suíça
encarregados de combater a corrupção, apenas cerca da metade foi enviada
ao Brasil. Mesmo admitindo que as investigações foram transferidas em
parte para outros juízos pelo país, especialmente Rio, Brasília e São
Paulo, Dallagnol ressaltou que os desmembramentos da delação premiada da
Odebrecht geraram cerca de 50 investigações em Curitiba.
Ele fala ainda de ações cíveis contra partidos políticos que estão
pendentes, e que bancos podem vir a ser chamados a responder por
prejuízos decorrentes de falhas dos sistemas de compliance, no Brasil e
no exterior.
O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, acha que a Lava Jato
não pode ser uma investigação permanente, e acredita que agora, com os
últimos episódios, já seja possível vislumbrar o final. “Nós temos já a
linha traçada de até onde a investigação pode ir, e até onde se espera
que vá. Mas não acredito que ela deva ser uma investigação permanente,
mesmo porque a sociedade brasileira e o Estado brasileiro não podem
ficar refém de uma investigação eterna”.
Ele esclarece que, ao fazer esse comentário no encontro do Globo,
quis dizer que hoje se tem uma visão mais clara de como funcionam as
várias organizações criminosas que utilizam estruturas do Estado para
desviar recursos públicos.
“Após anos de investigação, o Ministério Público Federal rastreou
todos os núcleos operacionais desse complexo esquema criminoso. Ofereceu
diversas denúncias e ainda restam algumas investigações a serem
concluídas para serem analisadas pelo Judiciário”.
Janot ressalta que,obviamente, o fim da Lava Jato não significa o fim
do combate à corrupção. “Infelizmente, ao desvendar um esquema
criminoso, outro está sendo arquitetado por outras organizações. Ainda
há muito a ser feito nessa área, inclusive com mudanças legislativas
para se obter mais agilidade e eficiência nas investigações e nos
julgamentos resultantes das denúncias oferecidas pelo Ministério
Público”.
O fato é que a força-tarefa da Lava Jato foi renovada por mais um
ano, mas os problemas financeiros têm prejudicado as investigações,
especialmente pela redução de quadros da Polícia Federal envolvidos na
Operação em Curitiba. Mas a Polícia Federal alega que as investigações
em outros Estados ganharam corpo.
Caberá à futura Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, levar a
bom termo a Operação Lava Jato antes que uma “mão externa” intervenha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário