quinta-feira, 26 de junho de 2014

Conselheiro da Petrobras não foi consultado sobre operação de R$ 15 bi
Mauro Cunha, conselheiro independente da estatal, afirmou que ficou sabendo da decisão do governo por meio do fato relevante enviado ao mercado
Ana Clara Costa - VEJA
Plataforma da Petrobras na Bacia de Campos, Rio de Janeiro
Plataforma da Petrobras na Bacia de Campos, Rio de Janeiro (Marcelo Sayão/EFE)
Mesmo alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) devido a suspeitas graves de desvio de dinheiro surgidas em sua diretoria executiva, a Petrobras não hesitou em repetir a cartilha de falta de transparência que tantas vezes lhe foi característica. A operação anunciada na última terça-feira pela estatal, que prevê a exploração do excedente de petróleo de quatro áreas do pré-sal, foi decidida pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em reunião presidida por Dilma Rousseff, e fará a Petrobras desembolsar 15 bilhões de reais até 2018 — o equivalente a três refinarias de Pasadena. Contudo, a decisão foi tomada sem que todos os membros do conselho de administração da companhia fossem avisados. O conselheiro independente Mauro Cunha, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), confirmou ao site de VEJA que ficou sabendo da operação por meio de fato relevante protocolado pela estatal na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), após o fechamento do pregão de terça-feira.
Participaram da reunião do CNPE a presidente Dilma, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, o ministro da Casa-Civi,l Aloisio Mercadante, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e o secretário de Petróleo e Gás do MME, Marco Antonio Almeida. Mantega é também presidente do Conselho de Administração da Petrobras, enquanto Miriam Belchior ocupa uma cadeira entre os conselheiros. A canetada que impôs à estatal (que é a empresa de petróleo mais endividada do mundo) uma conta de 2 bilhões de reais — apenas para 2014 — foi dada sem que nada fosse discutido em reunião do conselho de administração. Os outros 13 bilhões serão pagos em antecipação de barris de petróleo. Segundo a agenda do ministro Mantega, a última reunião do conselho de administração ocorreu onze dias antes da decisão do CNPE, sem que a operação tivesse sido colocada em pauta.
Procurada, a Petrobras não se pronunciou até o fechamento da reportagem. A decisão arbitrária preocupa analistas porque há o risco de a estatal ter de postergar, ou até mesmo cancelar, alguns de seus investimentos para conseguir arcar com a conta este ano. Essa foi a maior preocupação dos analistas do Itaú BBA em relatório divulgado logo após o fato relevante. Diz o texto que a operação "confirmou seus piores medos" e que não há forma de a Petrobras antecipar a produção do volume previsto no acordo a menos que adie outros projetos em seu portfólio. "Em outras palavras, a Petrobras vai pagar 15 bilhões de reais ao governo em cinco anos para barris que serão produzidos no longo prazo", a partir de 2021, afirmou banco em relatório a seus clientes.

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