A novela do Santander
HÉLIO SCHWARTSMAN - FSP
SÃO
PAULO - Não pretendia comentar a novela em torno da analista do
Santander, mas mudei de ideia por considerar que a história diz muito a
respeito da situação atual do país.
Não é preciso ser um gênio
das finanças para perceber que, assim como a Bolsa subiu com as
pesquisas eleitorais que registravam uma piora no desempenho de Dilma
Rousseff, é perfeitamente lógico esperar que ao menos parte dos ganhos
seja revertida caso a presidente some pontos nas sondagens. Nesse
contexto, a analista que alertou os clientes do banco para essa
tendência, até óbvia, não fez mais do que cumprir sua obrigação
profissional. Talvez lhe tenha faltado alguma habilidade diplomática,
mas esse não é requisito essencial para a função que exercia.
O
PT e a campanha presidencial viram no texto da moça, cujo nome está
felizmente sendo preservado, uma oportunidade para posar de vítima das
elites e do capital financeiro internacional, e resolveram explorar
eleitoralmente o episódio. Esse tipo de discurso, por incrível que
pareça, ainda funciona. Não foi uma atitude muito bonita, mas não chega a
violar as regras da democracia, como alguns andam acusando. Campanhas
não são exatamente um jogo pautado por regras de cavalheirismo.
O
problema é que o banco, em vez de defender a analista, demitiu-a e
enviou a Dilma um pedido de desculpas. O próprio presidente mundial da
instituição apareceu para fazer salamaleques ao governo. Com isso, o
Santander mostra que considera mais importante manter um bom
relacionamento com o Planalto do que aproveitar o episódio para sugerir a
seus clientes que coloca seus interesses em primeiro lugar.
Poderia
ser só uma discutível decisão de marketing, mas, nas entrelinhas,
transmite a mensagem de que não são só os marcos institucionais que
pautam o relacionamento entre bancos e governo e que mesmo grandes casas
dependem das boas graças do Planalto. Isso, sim, é preocupante.
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