Reinaldo Azevedo - VEJA
Quando
teve início aquele escarcéu estúpido por causa da tal mensagem do
Santander enviada a alguns correntistas — informando que os mercados
reagiam negativamente à perspectiva de Dilma ser reeleita —, defendi
aqui, basta procurar no arquivo, o direito que o banco tinha de emitir
uma opinião. O resto da história vocês já conhecem. Lula pediu a cabeça
da analista e puxou o saco do presidente mundial do banco, Emilio Botin,
que prometeu demitir a responsável, o que acabou acontecendo. Antes
disso, a instituição já havia tornado público um pedido de desculpas.
Nesta quinta, os correntistas receberam uma segunda cartinha. Aí o
Santander já se desculpava com os clientes.
Assim como
não vi nada demais na primeira carta, lastimo todo o resto da história,
incluindo a demissão. O Santander, com a devida vênia, comportou-se de
modo patético nessa história. Por mais que esse setor seja bastante
dependente dos humores dos poderosos de turno — e é —, há um limite para
o ridículo que me parece ter sido ultrapassado com impressionante
desassombro.
Dado o
barulho que fez o PT, até compreendo que o banco pudesse emitir uma nota
pública informando que não se mete em política partidária. Poderia até
afirmar que a opinião da analista — ou de um departamento — não refletia
o que pensava a instituição etc. Em suma, havia várias maneiras de
amenizar eventuais desconfortos. Mas O que se vê é um espetáculo um
tanto grotesco de sabujice. Dá a entender, talvez injustamente, que o
banco mantém uma relação de dependência com o poder que não é conhecida
pelo conjunto da sociedade.
Esse
episódio, acreditem, fez muito mal à cultura da liberdade de política e
do livre exercício da opinião. Um texto que era público — afinal,
enviado a muitos correntistas — mereceu o tratamento de alguma peça
conspiratória, como se pessoas mal intencionadas atuassem nas sombras
para desestabilizar a presidente Dilma.
Quer dizer
que o analista de um banco está proibido de informar a seus clientes
que, deixem-me ver, comprar ações de empresas públicas num eventual
cenário de reeleição de Dilma é um mau negócio? E é mau negócio por quê?
Não porque o tal analista não goste do PT. Mas porque ele tem a
obrigação de alertar que é próprio da cultura petista usar essas
empresas para fazer política, pouco se importando com a economicidade de
determinadas escolhas. É o que acontece com a Petrobras, por exemplo. É
o que acontece com o setor elétrico.
O
comportamento da imprensa brasileira, diga-se, ressalvadas as exceções
de sempre, é também lamentável. Mais uma vez, reage de maneira pífia a
uma clara agressão ao debate livre de ideias.
Bem, agora
falta o quê? Mais um pouco, a direção do Santander vai se chicotear de
joelhos na rampa do Palácio do Planalto. Uma pergunta: se eu decidir
botar meu dinheiro no Santander, devo confiar no que me disser o
analista financeiro ou me cabe intuir que sua opinião passou antes pelo
Departamento de Censura Diretório Nacional do PT?
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