sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Maconha legalizada confunde adolescentes sobre seus malefícios para saúde
Tara Parker Pope - NYT
Blair Gable/Reuters
A planta da maconha é vista na empresa Tweed Marijuana Inc em Smith Falls, em Ontário, no Canadá A planta da maconha é vista na empresa Tweed Marijuana Inc em Smith Falls, em Ontário, no Canadá
Quando o educador antidrogas Tim Ryan conversa com seus alunos, ele normalmente pergunta o que eles sabem sobre a maconha. "É uma planta" é uma resposta comum.
Porém, mais recentemente, a resposta mudou. Agora eles dizem: "ela foi legalizada no Colorado".
Esta é uma época confusa para os alunos do ensino secundário, que durante a maior parte de suas vidas foram ensinados sobre os perigos do abuso de substâncias, especialmente da maconha. Agora parece que os adultos em suas vidas mudaram totalmente de atitude.
O uso recreativo da maconha é legal no Colorado e no Estado de Washington, e muitos outros Estados aprovaram o uso para fins medicinais.
Os legisladores, a mídia e até os pais estão debatendo os méritos da legalização em grande escala.
"Eles estão crescendo em uma geração em que a maconha costumava ser algo ruim, e talvez agora não seja mais", disse Ryan, um especialista em prevenção dos Serviços Educacionais FCD, um grupo antidrogas que trabalha com alunos nas salas de aula.
"Os pais estão dizendo a eles para não usar, mas ao mesmo tempo podem estar apoiando a legislação."
Defensores da postura antidrogas dizem que os esforços para legalizar a maconha criaram novos desafios em seu trabalho para educar os adolescentes e seus pais sobre os riscos que o álcool, a maconha e outras drogas representam para o cérebro em desenvolvimento dos adolescentes.

Uma das transformações mais chocantes mostradas pela campanha é a de Amy. Ela tinha 25 anos quando foi presa pela primeira vez. O site Rehabs.com pediu a 200 pessoas que adivinhassem quantos anos se passaram entre a primeira e a última foto. As pessoas disseram, em média, 21 anos. Na realidade, se passaram dez anos. Reprodução Site Rehabs.com/Arte UOL
Esses educadores dizem que seu objetivo não é condenar a maconha ou assumir uma postura em relação à legalização; em vez disso, seu papel é convencer os jovens e seus pais de que o uso de drogas não é apenas uma questão moral ou legal, mas uma importante questão de saúde.
"Os riscos para a saúde são reais", diz Steve Pasierb, diretor-executivo da Partnership for Drug-Free Kids. "A cada ano, a ciência descobre mais riscos para a saúde sobre o porquê qualquer forma de uso de substâncias não é saudável para os jovens."
Quase metade dos adolescentes – 44% - experimentaram maconha pelo menos uma vez, de acordo com a pesquisa da organização. O uso regular é menos comum. Um em cada quatro adolescentes relatou usar maconha no mês anterior à pesquisa, e 7% relataram uso frequente – pelo menos 20 meses no mês anterior.
Mesmo nos Estados onde a maconha é legal, ela continua, como o álcool, fora dos limites dos menores de 21 anos. Mas a realidade é que uma vez que um produto é legalizado, torna-se muito mais fácil de ser obtido por menores.
Este verão, a Partnership for Drug-Free Kids divulgou seu estudo anual de acompanhamento, no qual jovens foram questionados sobre o que os impedia de experimentar drogas. Ter problemas com a lei e desapontar seus pais foram citados como as duas razões mais comuns pelas quais os jovens não usam maconha. A preocupação agora é que a legalização retire uma importante barreira mental que impede que os adolescentes experimentem maconha muito cedo.
"A legalização torna a maconha muito mais acessível, mais disponível", disse a médica Nora Volkow, diretora do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas. "Esta é a realidade, então o que precisamos fazer é prevenir os danos ou pelo menos minimizá-los o máximo possível."
Especialistas em prevenção ao uso de drogas dizem que a abordagem "diga não às drogas" dos anos 80 não funciona. O objetivo dos pais não deveria ser que seus filhos nunca experimentem maconha.
Em vez disso, o foco deveria estar nas razões práticas para postergar o uso de qualquer substância que altere a mente, incluindo o álcool, até que eles fiquem mais velhos.
O motivo para isso é que os cérebros dos jovens continuam se desenvolvendo até os vinte e poucos anos, e os jovens que começam a usar álcool ou maconha na adolescência são muito mais vulneráveis a problemas de abuso de substâncias a longo prazo.
O cérebro ainda está se desenvolvendo durante a adolescência, e a maconha – ou o uso de qualquer droga – durante este período essencialmente treina o sistema de recompensa do cérebro para abraçar um químico que altera a mente.
"Sabemos que 90% dos adultos que são viciados começaram a usar drogas na adolescência", disse Pasierb. "Eles programaram seus sistemas de recompensa e motivação do seu cérebro adolescente para entender que esta é uma das coisas que oferece recompensa ou motivação, como a comida, como o sexo."
Estudos na Nova Zelândia e no Canadá revelaram que o uso da maconha na adolescência pode resultar em perda de pontos de QI. Pasierb diz que a atual geração de jovens vai bem nos estudos e está interessada em provas científicas sobre como o uso de substâncias podem afetar a inteligência.
"É preciso prestar atenção à maturação do cérebro", disse ele. "Esta geração de jovens quer ter cérebros saudáveis; eles querem entrar em escolas melhores. Fale para a um aluno do primeiro ou do terceiro ano do segundo grau que o uso de maconha pode tirar alguns pontos na prova de vestibular e ele ouvirá o que você tem a dizer."
Como a exposição precoce à maconha pode mudar a trajetória do desenvolvimento do cérebro, é melhor postergá-la, mesmo que por alguns anos, na adolescência. Pesquisas mostram que adultos jovens que fumaram maconha regularmente antes dos 16 anos tiveram desempenho pior em testes da função cognitiva do que aqueles que começaram a fumar no final da adolescência.
Os educadores sobre drogas dizem que um benefício do debate sobre a legalização é que ele pode levar a mais pesquisas sobre os efeitos da maconha para a saúde dos jovens e mais financiamento para campanhas antidrogas.
A Partnership for Drug-Free Kids planeja continuar sua campanha de marketing "Above the Influence", que, segundo estudos, têm sido uma forma eficaz de atingir os adolescentes sobre os riscos do uso de drogas. A campanha não tem como alvo uma droga específica, mas ensina aos pais e adolescentes sobre os efeitos do uso precoce de drogas para a saúde e tenta empoderar os adolescentes para que façam boas escolhas.
"A legalização tornará o trabalho que fazemos ainda mais relevante", disse Pasierb. "Faz parte do cenário de mudança em relação as drogas."
Tradutor: Eloise De Vylder

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