sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Venezuela estuda importar petróleo: o socialismo faria até faltar areia no deserto!
Rodrigo Constantino - VEJA
Fonte: Estadão
“Se colocarem o governo federal para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia”. Foi essa frase de Milton Friedman que escolhi como epígrafe de meu livro Privatize Já. Lembrei dela ao ler a absurda notícia de que a Venezuela, “sentada” em um imenso barril de petróleo, estuda importar o produto pela primeira vez:
O governo da Venezuela está considerando importar petróleo cru pela primeira vez na história do país e poderá usar o produto vindo da Argélia, mais leve, como uma mistura para estimular as vendas do petróleo venezuelano, pesado. A informação consta de um documento obtido na quarta-feira, 27,pela agência de notícias Reuters.
Apesar de o país latino-americano ter as maiores reservas de petróleo do mundo, a Petróleos de Venezuela (PDVSA), estatal responsável pela exploração petrolífera no território venezuelano, tem comprado um volume crescente de subprodutos refinados do insumo, como nafta, para misturar com o petróleo pesado extraído da bacia do Orinoco, sua maior região produtora.
Isso é feito para tornar o produto venezuelano exportável, enquanto a extração de petróleos de teor mediano e leve – que também têm sido usados como diluentes – tem diminuído no país.
O nafta tem sido importado por altos valores atualmente, o que tem prejudicado o fluxo financeiro da PDVSA, a maior fonte de dólares do governo da Venezuela. A compra de petróleo leve da argelina Sonatrach seria uma forma de o governo tentar diminuir o custo de exportação de seu petróleo.
A possibilidade de a Venezuela importar petróleo cru de outro país havia sido classificada neste ano pelo ministro do petróleo, Rafael Ramírez, como o “último recurso” para diluir a produção local.
A produção de petróleo da Venezuela tem sido decrescente ano após ano, por péssima gestão e uso político da estatal, que virou um instrumento do populismo bolivariano. O país produzia quase 2,7 milhões de barris por dia em 2003, e hoje produz 2,3 milhões. O principal cliente é a nação americana, demonizada pela retórica bolivariana como “exploradores”.
No Brasil, estamos vendo uma espécie de reprise dessa trajetória, com a Petrobras sendo cada vez mais usada para interesses partidários e habitando as páginas policiais como resultado dos escândalos de corrupção. A empresa perdeu quase metade de seu valor, recuperado em parte recentemente graças às pesquisas eleitorais e às chances maiores de Dilma e o PT saírem do poder.
Quando há uma politização das estatais, risco sempre presente, a eficiência é a primeira vítima. Se quisermos evitar o mesmo destino trágico da Venezuela é preciso blindar tais estatais das garras políticas, é preciso “despolitizar” essas empresas. Infelizmente, ainda parece tabu falar em privatização por aqui.
“O petróleo é nosso”, dizem os nacionalistas estatizantes de esquerda ou direita. Como podemos ver, o petróleo, que fica mais escasso com a gestão incompetente do governo, não é “nosso”, e sim deles. Até durar…

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