Rodrigo Constantino - VEJA
“Se colocarem o governo federal para
administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia”. Foi essa
frase de Milton Friedman que escolhi como epígrafe de meu livro Privatize Já. Lembrei dela ao ler a absurda notícia de que a Venezuela, “sentada” em um imenso barril de petróleo, estuda importar o produto pela primeira vez:
O governo da
Venezuela está considerando importar petróleo cru pela primeira vez na
história do país e poderá usar o produto vindo da Argélia, mais leve,
como uma mistura para estimular as vendas do petróleo venezuelano,
pesado. A informação consta de um documento obtido na quarta-feira,
27,pela agência de notícias Reuters.
Apesar de o
país latino-americano ter as maiores reservas de petróleo do mundo, a
Petróleos de Venezuela (PDVSA), estatal responsável pela exploração
petrolífera no território venezuelano, tem comprado um volume crescente
de subprodutos refinados do insumo, como nafta, para misturar com o
petróleo pesado extraído da bacia do Orinoco, sua maior região
produtora.
Isso é feito
para tornar o produto venezuelano exportável, enquanto a extração de
petróleos de teor mediano e leve – que também têm sido usados como
diluentes – tem diminuído no país.
O nafta tem
sido importado por altos valores atualmente, o que tem prejudicado o
fluxo financeiro da PDVSA, a maior fonte de dólares do governo da
Venezuela. A compra de petróleo leve da argelina Sonatrach seria uma
forma de o governo tentar diminuir o custo de exportação de seu
petróleo.
A
possibilidade de a Venezuela importar petróleo cru de outro país havia
sido classificada neste ano pelo ministro do petróleo, Rafael Ramírez,
como o “último recurso” para diluir a produção local.
A produção de petróleo da Venezuela tem
sido decrescente ano após ano, por péssima gestão e uso político da
estatal, que virou um instrumento do populismo bolivariano. O país
produzia quase 2,7 milhões de barris por dia em 2003, e hoje produz 2,3
milhões. O principal cliente é a nação americana, demonizada pela
retórica bolivariana como “exploradores”.
No Brasil, estamos vendo uma espécie de
reprise dessa trajetória, com a Petrobras sendo cada vez mais usada para
interesses partidários e habitando as páginas policiais como resultado
dos escândalos de corrupção. A empresa perdeu quase metade de seu valor,
recuperado em parte recentemente graças às pesquisas eleitorais e às
chances maiores de Dilma e o PT saírem do poder.
Quando há uma politização das estatais,
risco sempre presente, a eficiência é a primeira vítima. Se quisermos
evitar o mesmo destino trágico da Venezuela é preciso blindar tais
estatais das garras políticas, é preciso “despolitizar” essas empresas.
Infelizmente, ainda parece tabu falar em privatização por aqui.
“O petróleo é nosso”, dizem os
nacionalistas estatizantes de esquerda ou direita. Como podemos ver, o
petróleo, que fica mais escasso com a gestão incompetente do governo,
não é “nosso”, e sim deles. Até durar…
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