Ninguém manda tanto na China quanto Xi Jinping
China está em expurgo, como nos bons velhos tempos stalinistas
China está em expurgo, como nos bons velhos tempos stalinistas
Lluís Bassets - El País
17.mar.2013
- O novo presidente da China, Xi Jinping, faz seu primeiro discurso
como mandatário do país no encerramento do Congresso Nacional do Povo,
em Pequim. Xi disse que vai lutar por um "grande renascimento da nação
chinesa" Wang Zhao/AFP
Ninguém manda tanto na China desde os tempos de Mao quanto o atual timoneiro Xi Jinping. Deng Xiaoping, o pequeno timoneiro, que mandou muito, nunca acumulou cargos; seus sucessores tampouco acumularam tantos: presidente da República, secretário-geral do Partido Comunista, presidente das comissões militares do partido e do governo e presidente do Conselho Nacional de Segurança, nova instituição que o próprio Xi inaugurou.
Ninguém manda tanto na China desde os tempos de Mao quanto o atual timoneiro Xi Jinping. Deng Xiaoping, o pequeno timoneiro, que mandou muito, nunca acumulou cargos; seus sucessores tampouco acumularam tantos: presidente da República, secretário-geral do Partido Comunista, presidente das comissões militares do partido e do governo e presidente do Conselho Nacional de Segurança, nova instituição que o próprio Xi inaugurou.
Aos 38 anos da morte do "Grande Timoneiro", a quinta
geração de líderes depois de Mao não tem mais complexos na hora de
agregar cargos. Não se desenvolveu um culto à personalidade no estilo
maoista, pelo menos ainda não, mas há uma forte marca pessoal nas
decisões e um grande acúmulo de poder efetivo. Acabaram-se as direções
colegiadas.
Coincide com um fato característico nesse tipo de regime: a China está em expurgo, como nos bons velhos tempos stalinistas. Vão caindo em desgraça dezenas de quadros comunistas acusados do maior crime que se pode cometer nesse tipo de partido: "graves violações da disciplina", eufemismo para a corrupção e o enriquecimento ilícito próprios de um capitalismo tão peculiar quanto o chinês, desregulado em algumas coisas e autoritário em todas.
Não é um expurgo qualquer, como sempre houve, nem um meio expurgo como o que sofreu Zhao Ziyang, secretário do partido que se negou a disparar contra os estudantes da Praça Tiananmen em 1989 e depois foi preso em sua casa até sua morte, sem acusação nem julgamento. Esse é um expurgo grande, por cima, como não havia desde a morte de Mao. Agora alcançou Zhou Yongkang, que até 2012 foi um dos nove homens mais poderosos do país, czar da polícia e da espionagem e patrono da indústria de petróleo.
Xi Jinping está há pouco mais de um ano com as rédeas na mão, mas as sustenta com firmeza: mostra o peito em política externa, aumenta seu gasto militar e descarta qualquer vacilação quanto à autoridade indiscutível e exclusiva do papel do Partido Comunista. Dois de seus lemas merecem a duvidosa homenagem da citação obrigatória: a ideia de que há um sonho chinês, comparável ao sonho americano, e o apelo ao combate contra tigres e moscas, símbolos da corrupção, que agora a caça de Zhou Yongkang exemplifica em seu grau máximo.
É preciso voltar de novo à época de Mao para interpretar a atual temporada de expurgos. Zhou pertencia à família política de Jiang Zemin, líder da terceira geração e patrono do bando de Xangai. Seu candidato a sucedê-lo na cúpula do poder era Bo Xilai, o patrono de Chongqing que caiu em desgraça depois que sua mulher foi condenada por assassinato. Todos os parentes e amigos de Zhou estavam bem colocados, como também estão os de Xi e os de todos. A caça ao tigre gigante é um conto moral: saibam quem manda e quanto manda.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Coincide com um fato característico nesse tipo de regime: a China está em expurgo, como nos bons velhos tempos stalinistas. Vão caindo em desgraça dezenas de quadros comunistas acusados do maior crime que se pode cometer nesse tipo de partido: "graves violações da disciplina", eufemismo para a corrupção e o enriquecimento ilícito próprios de um capitalismo tão peculiar quanto o chinês, desregulado em algumas coisas e autoritário em todas.
Não é um expurgo qualquer, como sempre houve, nem um meio expurgo como o que sofreu Zhao Ziyang, secretário do partido que se negou a disparar contra os estudantes da Praça Tiananmen em 1989 e depois foi preso em sua casa até sua morte, sem acusação nem julgamento. Esse é um expurgo grande, por cima, como não havia desde a morte de Mao. Agora alcançou Zhou Yongkang, que até 2012 foi um dos nove homens mais poderosos do país, czar da polícia e da espionagem e patrono da indústria de petróleo.
Xi Jinping está há pouco mais de um ano com as rédeas na mão, mas as sustenta com firmeza: mostra o peito em política externa, aumenta seu gasto militar e descarta qualquer vacilação quanto à autoridade indiscutível e exclusiva do papel do Partido Comunista. Dois de seus lemas merecem a duvidosa homenagem da citação obrigatória: a ideia de que há um sonho chinês, comparável ao sonho americano, e o apelo ao combate contra tigres e moscas, símbolos da corrupção, que agora a caça de Zhou Yongkang exemplifica em seu grau máximo.
É preciso voltar de novo à época de Mao para interpretar a atual temporada de expurgos. Zhou pertencia à família política de Jiang Zemin, líder da terceira geração e patrono do bando de Xangai. Seu candidato a sucedê-lo na cúpula do poder era Bo Xilai, o patrono de Chongqing que caiu em desgraça depois que sua mulher foi condenada por assassinato. Todos os parentes e amigos de Zhou estavam bem colocados, como também estão os de Xi e os de todos. A caça ao tigre gigante é um conto moral: saibam quem manda e quanto manda.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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