Para Obama, perspectiva de guerra pede por manobras delicadas
Mark Landler - NYT
Evan Vucci/ AP
"Ele não pode tomar essas decisões divorciado do público americano e do Congresso", disse um importante assessor na ocasião. "Quem sabe o que enfrentaremos nos próximos três anos e meio no Oriente Médio?"
Agora, Obama sabe o que está enfrentando --militantes sunitas enfurecidos que decapitaram um americano e declararam um califado islâmico que ocupa uma área do Iraque e da Síria. Mas enquanto o presidente considera ataques aéreos na Síria contra o grupo, conhecido como Estado Islâmico, conseguir a aprovação do Congresso continua sendo uma realização politicamente difícil.
Não se trata de muitos democratas e mesmo alguns republicanos estarem cautelosos em aprovar uma nova aventura militar americana. A Casa Branca também está tendo dificuldade em como definir a autoridade do presidente de ir à guerra de uma forma que não mine sua alegação, no ano passado, de que ele finalmente tirou os Estados Unidos de um estado de guerra permanente.
Uma ampla autorização --como a dada após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e antes da Guerra do Iraque-- traria ecos do governo George W. Bush, ultrajaria a base liberal antiguerra de Obama e levantaria o espectro de um conflito sem fim previsto na Síria.
"Para a Casa Branca, a ideia é elaborar uma autoridade legal que combine os objetivos das políticas que ela compartilha com o Congresso e nossos aliados", disse Harold H. Koh, um professor de lei internacional em Yale. "O problema é que os objetivos das políticas variam de um lugar para outro."
Koh, que como consultor jurídico do Departamento de Estado, em 2011, defendeu a decisão da Casa Branca de contornar o Congresso antes da campanha de bombardeio na Líbia, disse que o argumento a favor de uma ação militar contra os combatentes do Estado Islâmico no Iraque é simples. Além da ameaça militar que representam aos americanos, eles poderiam destruir o esforço do Iraque para formar um governo viável, que é uma grande prioridade diplomática para os Estados Unidos.
Na Síria, entretanto, três anos de guerra civil sectária tornam a situação bem mais difícil. Os Estados Unidos pedem pela queda do presidente Bashar Assad, mas atacar o Estado Islâmico ali poderia ajudar Assad, já que ele também está em guerra com o grupo. Seu ministro das Relações Exteriores até mesmo sugeriu uma união de forças com os Estados Unidos contra os militantes.
A Casa Branca diz pouco publicamente sobre seus planos. Ela justifica os ataques aéreos já ordenados por Obama no Iraque sob sua "autoridade constitucional de conduzir as relações exteriores americanas e na condição de comandante-em-chefe". Os legisladores odiariam lhe dar uma carta branca semelhante para uma campanha prolongada na Síria.
O governo disse que os advogados da Casa Branca estavam explorando se a Autorização para Uso de Força Militar de 2001 poderia ser adaptada para justificar ataques contra o Estado Islâmico no Iraque. A medida empoderou Bush para montar a guerra global contra o terrorismo e Obama a invocou para realizar os ataques com drones e mísseis no Paquistão, Iêmen e Somália.
Arte/UOL
A Casa Branca disse que Obama ainda não decidiu se ordena ataques na Síria e também se recusou a dizer se ele pediria autorização do Congresso para uma campanha lá.
De fato, o presidente poderia decidir por não pedir aprovação ao Congresso --ou pelo menos não antes das eleições de meio de mandato, em novembro. Isso poderia tranquilizar alguns legisladores, que não querem dar um voto politicamente impopular e então enfrentar seus eleitores cansados de guerras.
É claro, quando o presidente recorreu ao Congresso há um ano, para aprovar sua ação militar, ele sofreu uma derrota esmagadora. Então ele aproveitou uma proposta diplomática russa para pressionar Assad a abrir mão de seus estoques de armas químicas. Em uma ironia amarga para Obama, essa medida --uma jogada diplomática desesperada-- acabou sendo um de seus poucos sucessos na política externa.
Desta vez, obter algum tipo de aprovação pelo Congresso para uma ação militar não deve ser tão difícil. As imagens do jornalista americano James Foley com um combatente encapuzado do Estado Islâmico segurando uma faca em seu pescoço, trouxeram para casa a ameaça aos Estados Unidos de uma forma que as imagens de sírios ofegando com os ataques com gás sarin, por mais angustiantes que fossem, não conseguiram.
Reprodução
Mas se a autorização for elaborada de modo restrito --limitando a ação militar ao Iraque e à Síria, descartando quaisquer tropas terrestres e estabelecendo um limite de tempo para a operação-- Obama poderia dizer que ela assegura, e não mina, sua visão de uma política de contraterrorismo para a era pós-11 de Setembro.
Essa autorização, disse Jack Goldsmith, um professor de direito de Harvard que serviu no governo Bush e escreveu extensamente sobre esse debate, poderia ser uma vitória política para Obama, lhe dando o apoio muito necessário para uma campanha militar potencialmente longa e árdua.
"Ela não lhe garantiria um cheque em branco político", disse Goldsmith em uma entrevista, "mas lhe daria uma maior legitimidade política e uma cobertura caso as coisas dessem errado".
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