Helena Tecedeiro - DN
Manifestantes saíram à rua em Istambul em protesto após a morte do advogado curdo Tahir Elci | EPA/CEM TURKEL
Presidente espera que a Cimeira do Clima, que começa amanhã em Paris, seja oportunidade para salvar relações com Moscovo.
Protestos
violentos nas ruas, ontem, após o assassínio de um advogado curdo.
Pressão da União Europeia, na cimeira UE-Turquia hoje à tarde em
Bruxelas, para que Ancara trave o fluxo de refugiados em troca de um
cheque de três mil milhões de euros e de uma aceleração no seu processo
de adesão. Um potencial encontro com o russo Vladimir Putin, amanhã, à
margem da Cimeira do Clima em Paris, para acalmar a tensão provocada
pelo derrube na terça-feira de um caça russo que a Turquia garante ter
violado o seu espaço aéreo. Três dias com três desafios diferentes o
presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que se se recusar pedir
desculpas a Moscovo ontem disse esperar que a cimeira de Paris seja uma
oportunidade para salvar a relação com a Rússia.
"Os
últimos acontecimentos deixaram-nos muito tristes", garantiu Erdogan na
cidade ocidental de Baliksehir, num discurso transmitido pela
televisão. O presidente turco recusou pedir as desculpas que a Rússia
exige, sublinhando que quem merece um pedido de desculpas é a Turquia,
cujo espaço aéreo foi violado. Mas disse esperar que a Cimeira sobre o
Clima amanhã em Paris seja "a oportunidade para recuperar a nossa
relação com a Rússia". E garantiu: "O confronto não trará felicidade a
ninguém. Tal como a Rússia é importante para a Turquia, a Turquia é
importante para a Rússia".
Mas foi pelo
confronto que Putin ontem optou, ao assinar o decreto que estabelece
sanções à Turquia. A partir de 1 de janeiro, os turcos passam a precisar
de visto para entrar na Rússia, os operadores turísticos russos ficam
proibidos de organizar tours na Turquia e o decreto prevê ainda o fim
dos voos charter entre os dois países. As empresas russas veem a
contratação de mão-de-obra turca limitada e a entrada de alguns produtos
turcos no país fica suspensa. Segundo os dados de Moscovo, se os seus
cidadãos deixarem de viajar para a Turquia, isso irá provocar um rombo
de 9400 milhões de euros no sector turístico turco. Ao contrário, o
Ministério dos Negócios Estrangeiros turco também pediu ontem a todos
cidadãos para que adiem todas as viagens não urgentes para a Rússia.
Pouco
antes, o porta-voz do presidente russo, Dmitri Peskov, classificara de
"completa loucura" o comportamento da aviação turca. "Ninguém tem o
direito de disparar contra um avião russo à traição, pelas costas",
garantiu Peskov. Ancara garantiu ter avisado repetidamente o aparelho
antes de o abater. Um dos pilotos sobreviveu depois de se ejetar, o
outro foi morto por rebeldes turcomenos antes de chegar ao solo em
território sírio.
Peskov garantiu ainda
que Putin está "mobilizado, totalmente mobilizado, mobilizado ao ponto
que as circunstâncias exigem". E acrescentou: "O golpe que a Rússia
sofreu não tem precedente. Por isso a reação estará à altura dessa
ameaça". Quanto a um eventual encontro entre Putin e Erdogan à margem da
Cimeira do Clima, o porta-voz do Kremlin preferiu não confirmar nem
desmentir.
Confrontos em Istambul
Ao
final do dia em Istambul, a polícia tentou dispersar as cerca de duas
mil pessoas que tinham saído à rua para protestar contra o assassínio,
horas antes, de Tahir Elci, um influente advogado curdo. Os agentes,
munidos de canhões de água e gás lacrimogéneo, acabaram por se envolver
em confrontos com os manifestantes, que chamavam "ladrão" e "assassino" a
Erdogan.
Elci, presidente da
associação de advogados da província de Diyarbakir, no sudeste do país,
tinha-se destacado pelas críticas ao governo, denunciando a sua opção de
considerar o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) uma
organização terrorista. O advogado foi atingido por um tiro na cabeça
quando estava a falar com os media em Diyarbakir. As imagens da sua
morte, captadas pelas câmaras de televisão presentes, inclusive pela
Reuters, foram transmitidas em todo o mundo, levando a protestos tanto
em Istambul como em Ancara.
Para o
partido pró-curdo HDP não há dúvidas que Elci foi alvo de um "assassínio
planeado". Já o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu disse ainda ser cedo
para perceber se foi morto ou apanhado num troca de tiros.
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