Nikos Konstandaras - INYT
A Grécia esteve no epicentro da crise da dívida europeia, e sob muitos
aspectos, a repercussão política aqui reflete a onda de forças de
extrema-esquerda e extrema-direita que o continente testemunhou nas
eleições para o Parlamento Europeu.
Como na Grécia, os grupos de
centro-esquerda e centro-direita que formam o núcleo da política
nacional e da União Europeia viram seu poder erodir pela ascensão de
partidos extremistas muito diferentes uns dos outros, unidos apenas pela
rejeição à forma como as coisas estão, tanto em seus países quanto na
UE.
Enquanto a Europa se debate para lidar com a crise econômica, e o foco dos eleitores nas questões domésticas é visto como uma onda crescente de oposição a uma "união ainda mais próxima", o debate sobre questões como a união bancária e fiscal, integração e manter as fronteiras abertas pode ser adiado. Se o centro hesitar, o grande projeto de Europa pode se desfazer.
O drama que se desenrolou na Grécia ao longo dos últimos quatro anos pode guardar lições úteis para a Europa. Nem todo voto perdido pelo centro é um voto contra a União.
Na eleição de domingo passado, uma coalizão de remanescentes de dois partidos pró-União Europeia que dominaram a política de centro grega por décadas foi atingida de todos os lados por um movimento da esquerda e da direita.
Syriza, um partido radical de esquerda, ganhou a maioria dos votos (26,6%), enquanto o neonazista Aurora Dourada terminou em terceiro com 9,4%. O parceiro mais antigo da coalizão, a Nova Democracia, de centro-esquerda, ficou com 22,7%, enquanto o parceiro mais recente, o Pasok, de centro-esquerda (concorrendo como parte da aliança "Oliveira"), recebeu 8%.
Isso confirmou as pesquisas de opinião de que o Syriza era o partido com maior apoio desde as eleições nacionais em junho de 2012. O Syriza é contra o programa de austeridade imposto à Grécia em 2010, mas não é anti-UE.
O Aurora Dourada é contra a austeridade, mas também fortemente contrário à União Europeia. Os dois partidos representam a divisão histórica com frequência sangrenta entre a esquerda e a direita gregas e nunca concordam em nada fora atacar o governo.
A Grécia não é o primeiro país a testemunhar um movimento de protesto contra a austeridade econômica, nem o primeiro onde extremistas xenófobos fizeram sentir sua presença.
Mas em nenhum lugar os dois extremos cresceram com tanta influência e tão rapidamente, à medida que grupos antes marginalizados se alimentaram da raiva e da insegurança dos eleitores e desgastaram a credibilidade dos partidos tradicionais.
Nas eleições nacionais em 2009, antes da crise, o Syriza conquistou apenas 4,6% do voto, enquanto o Aurora Dourada mal registrou pontos, com 0,3% (apenas 19.624 votos).
Mas sua demonstração recente de força, e o enfraquecimento da coalizão do governo, sugerem que se essas tivessem sido eleições nacionais os resultados teriam deixado a Grécia ingovernável, uma vez que nenhum partido conseguiria formar uma coalizão viável com um grupo de mentalidade semelhante. Com a economia ainda na UTI, tal instabilidade política seria devastadora.
A popularidade de grupos extremistas não só mina a coesão do sistema político como também ameaça seu próprio futuro: entusiasmados com o sucesso de sua simples rejeição ao estado das coisas, esses partidos não têm disposição nem capacidade para acordos. Ou eles continuarão à margem ou vão rachar.
É a existência de um governo com políticas impopulares que em parte os empodera. Depois de seis anos de recessão, e quatro anos de austeridade na Grécia, o Syriza foi incapaz de ultrapassar o teto de 26,9% que conquistou em 2012, enquanto a coalizão não ficou tão longe a ponto de tornar o governo impossível. O sistema político segue mancando.
A aflição e a desilusão que alimentaram tais movimentos extremos podem surgir de causas reais ou percebidas. As pessoas podem sentir medo ou privação por causa do impacto da recessão, do desemprego e dos impostos mais altos. Elas podem se sentir ameaçadas pela imigração, ou pela ideia de imigração.
O nacionalismo pode ser provocado por fatores externos, como um vizinho beligerante ou um senso de humilhação nacional e perda de controle.
Todos estes fatores desempenharam um papel na Grécia, embora também sejam comuns em muitos outros países.
No se transformou em uma campanha triunfante, o Partido da Independência do Reino Unido urgiu os eleitores a "retomar o controle sobre o país". Na França, o vencedor anti-imigração e anti-UE lançou um chamado semelhante. "As pessoas falaram em alto e bom som", proclamou a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, no domingo.
"Eles não querem ser liderados por aqueles fora de nossas fronteiras, por comissários e tecnocratas da UE que não são eleitos. Eles querem ser protegidos da globalização e tomar de volta as rédeas de seu destino."
Um dia mais tarde, o presidente François Hollande urgiu a União Europeia a mudar, acusando-a de ser "remota e incompreensível, mesmo para os governos".
As sociedades são unidas por um passado comum e interesses comuns, por sentimentos de familiaridade entre seus membros (mesmo quando eles discordam) e pertencimento expressos através de seus líderes. Perder isso, ou ver isso enfraquecido, torna as pessoas irritadas em inseguras. Elas procuram culpados e um grupo que as conforte.
Na Grécia, o alvo é o governo, e além dele os credores: a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional.
A lição que essa troika deveria tirar da crise grega é que empréstimos em troca de austeridade e reformas podem parecer bonitos no papel, mas a menos que reformas sejam feitas primeiro, a austeridade levará à depressão, e a repercussão não só piorará a crise econômica como também pode minar a legitimidade política dos reformistas.
As reformas não funcionarão a menos que ofereçam justiça e esperança e a possibilidade de uma vida mais fácil para os cidadãos.
Quando as políticas resultam apenas no fortalecimento da raiva e moralismo dos extremistas, nenhuma solução pode ser encontrada. Os problemas domésticos vão se tornar problemas europeus. Por enquanto, os partidos centristas pró-UE ainda são maioria na Europa e em seu Parlamento. Resta a eles mostrar liderança, permanecerem calmos e salvarem a União.
Tradutor: Eloise De Vylder
Enquanto a Europa se debate para lidar com a crise econômica, e o foco dos eleitores nas questões domésticas é visto como uma onda crescente de oposição a uma "união ainda mais próxima", o debate sobre questões como a união bancária e fiscal, integração e manter as fronteiras abertas pode ser adiado. Se o centro hesitar, o grande projeto de Europa pode se desfazer.
O drama que se desenrolou na Grécia ao longo dos últimos quatro anos pode guardar lições úteis para a Europa. Nem todo voto perdido pelo centro é um voto contra a União.
Na eleição de domingo passado, uma coalizão de remanescentes de dois partidos pró-União Europeia que dominaram a política de centro grega por décadas foi atingida de todos os lados por um movimento da esquerda e da direita.
Syriza, um partido radical de esquerda, ganhou a maioria dos votos (26,6%), enquanto o neonazista Aurora Dourada terminou em terceiro com 9,4%. O parceiro mais antigo da coalizão, a Nova Democracia, de centro-esquerda, ficou com 22,7%, enquanto o parceiro mais recente, o Pasok, de centro-esquerda (concorrendo como parte da aliança "Oliveira"), recebeu 8%.
Isso confirmou as pesquisas de opinião de que o Syriza era o partido com maior apoio desde as eleições nacionais em junho de 2012. O Syriza é contra o programa de austeridade imposto à Grécia em 2010, mas não é anti-UE.
O Aurora Dourada é contra a austeridade, mas também fortemente contrário à União Europeia. Os dois partidos representam a divisão histórica com frequência sangrenta entre a esquerda e a direita gregas e nunca concordam em nada fora atacar o governo.
A Grécia não é o primeiro país a testemunhar um movimento de protesto contra a austeridade econômica, nem o primeiro onde extremistas xenófobos fizeram sentir sua presença.
Mas em nenhum lugar os dois extremos cresceram com tanta influência e tão rapidamente, à medida que grupos antes marginalizados se alimentaram da raiva e da insegurança dos eleitores e desgastaram a credibilidade dos partidos tradicionais.
Nas eleições nacionais em 2009, antes da crise, o Syriza conquistou apenas 4,6% do voto, enquanto o Aurora Dourada mal registrou pontos, com 0,3% (apenas 19.624 votos).
Mas sua demonstração recente de força, e o enfraquecimento da coalizão do governo, sugerem que se essas tivessem sido eleições nacionais os resultados teriam deixado a Grécia ingovernável, uma vez que nenhum partido conseguiria formar uma coalizão viável com um grupo de mentalidade semelhante. Com a economia ainda na UTI, tal instabilidade política seria devastadora.
A popularidade de grupos extremistas não só mina a coesão do sistema político como também ameaça seu próprio futuro: entusiasmados com o sucesso de sua simples rejeição ao estado das coisas, esses partidos não têm disposição nem capacidade para acordos. Ou eles continuarão à margem ou vão rachar.
É a existência de um governo com políticas impopulares que em parte os empodera. Depois de seis anos de recessão, e quatro anos de austeridade na Grécia, o Syriza foi incapaz de ultrapassar o teto de 26,9% que conquistou em 2012, enquanto a coalizão não ficou tão longe a ponto de tornar o governo impossível. O sistema político segue mancando.
A aflição e a desilusão que alimentaram tais movimentos extremos podem surgir de causas reais ou percebidas. As pessoas podem sentir medo ou privação por causa do impacto da recessão, do desemprego e dos impostos mais altos. Elas podem se sentir ameaçadas pela imigração, ou pela ideia de imigração.
O nacionalismo pode ser provocado por fatores externos, como um vizinho beligerante ou um senso de humilhação nacional e perda de controle.
Todos estes fatores desempenharam um papel na Grécia, embora também sejam comuns em muitos outros países.
No se transformou em uma campanha triunfante, o Partido da Independência do Reino Unido urgiu os eleitores a "retomar o controle sobre o país". Na França, o vencedor anti-imigração e anti-UE lançou um chamado semelhante. "As pessoas falaram em alto e bom som", proclamou a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, no domingo.
"Eles não querem ser liderados por aqueles fora de nossas fronteiras, por comissários e tecnocratas da UE que não são eleitos. Eles querem ser protegidos da globalização e tomar de volta as rédeas de seu destino."
Um dia mais tarde, o presidente François Hollande urgiu a União Europeia a mudar, acusando-a de ser "remota e incompreensível, mesmo para os governos".
As sociedades são unidas por um passado comum e interesses comuns, por sentimentos de familiaridade entre seus membros (mesmo quando eles discordam) e pertencimento expressos através de seus líderes. Perder isso, ou ver isso enfraquecido, torna as pessoas irritadas em inseguras. Elas procuram culpados e um grupo que as conforte.
Na Grécia, o alvo é o governo, e além dele os credores: a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional.
A lição que essa troika deveria tirar da crise grega é que empréstimos em troca de austeridade e reformas podem parecer bonitos no papel, mas a menos que reformas sejam feitas primeiro, a austeridade levará à depressão, e a repercussão não só piorará a crise econômica como também pode minar a legitimidade política dos reformistas.
As reformas não funcionarão a menos que ofereçam justiça e esperança e a possibilidade de uma vida mais fácil para os cidadãos.
Quando as políticas resultam apenas no fortalecimento da raiva e moralismo dos extremistas, nenhuma solução pode ser encontrada. Os problemas domésticos vão se tornar problemas europeus. Por enquanto, os partidos centristas pró-UE ainda são maioria na Europa e em seu Parlamento. Resta a eles mostrar liderança, permanecerem calmos e salvarem a União.
Tradutor: Eloise De Vylder
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