Universidades espanholas expulsam 30 mil alunos por ano por baixo rendimento
Pilar Álvarez - El PaísCerca de 30 mil alunos das universidades públicas espanholas são expulsos por ano de suas carreiras por baixo rendimento, segundo estimativas de especialistas. Os campi definem de forma autônoma linhas vermelhas que afetam, sobretudo, os primeiros anos da disciplina, para que o estudante não se eternize em uma carreira mal escolhida. Nas instituições públicas há mais de um milhão de matriculados.
Esse
regulamento, pensado para garantir o bom uso das verbas públicas,
costuma passar despercebido pelos estudantes. Foi o que deixou claro o
protesto realizado por um grupo de alunos da Universidade de Oviedo
contra uma norma que a consideram "arbitrária e pouco divulgada".
"Se permitiram matrículas mal feitas e se cobraram por elas, iremos aos tribunais se for necessário", explica Alejandro González, representante dos alunos de Astúrias.
Os critérios para decidir se um universitário está perdendo tempo em sua faculdade fazem parte das chamadas normas de permanência. A maioria das universidades públicas as revisou a partir de 2008, com a implantação do espaço europeu de educação superior, o chamado plano Bolonha. As normas incluem basicamente um número mínimo de créditos a aprovar e um prazo máximo de tempo para fazê-lo. Normalmente, permitem ao expulso uma segunda matrícula em outra carreira da mesma universidade. Não costumam contemplar terceiras oportunidades.
A agência de avaliação Aneca e os conselhos sociais dos campi recomendaram já há dois anos uma revisão dos modelos no relatório "Universidades e Normas de Permanência - Reflexões para o futuro". Esse estudo não incluiu uma contagem oficial dos afetados. O especialista em financiamento universitário Juan Hernández Armenteros, que participou do citado relatório, estima que são cerca de 30 mil alunos de graduação, 3% do total. Ele fez esse cálculo a partir de um estudo sobre rendimento realizado na Universidade de Jaén por Enrique Bernal e Juan Lillo. Outros especialistas consultados concordam com a estimativa.
"Em geral, as normas das universidades públicas espanholas são muito frouxas", adverte Hernández Armenteros, que afirma que nas instituições com normas mais duras há menos expulsões se os estudantes estão bem informados. As expulsões também afetam mais alunos-operacionais. "É difícil que ocorram baixas pela normativa nas carreiras em que o estudante tem uma preferência clara e uma nota de corte alta", acrescenta Manuel López, presidente da Crue (Conferência de Reitores da Espanha).
Na Universidade de Oviedo, a mobilização partiu da Faculdade de Trabalho Social. O grosso dos afetados são alunos de "direito, economia e engenharia, pela simples razão de que é onde temos mais alunos", explica o vice-reitor, Luis Rodríguez Muñiz. O número de afetados ainda não está fechado. As estimativas oscilam entre 1.000, calculadas pela reitoria, e 500, segundo os representantes dos alunos, de um total de 21.791.
A normativa de permanência de Oviedo estabelece que um aluno deve ter pelo menos 90 créditos em seu terceiro ano de universidade, dos quais 48 terão de ser disciplinas do primeiro curso. Os alunos se opuseram a essa norma aprovada em seu campus em 2010, mas cujos efeitos surgem agora, quando passaram os primeiros três anos.
Carlos Lorenzo, 21, acaba de terminar o terceiro ano do curso de Trabalho Social. Tem mais de 90 créditos, mas não cumpre o requisito de que mais da metade seja do primeiro ano. Explica que trancou várias matérias relacionadas a direito, sua fera negra particular, para estudá-las juntas no final do curso. "Quando fui fazer a matrícula, não me avisaram de que corria o risco de ser expulso se não as tomasse", queixa-se. Sua universidade se compromete a melhorar os mecanismos de informação e a pedir ao conselho social que revise o critério dos 48 créditos. "Nos demais casos é preciso aplicar a norma", acrescenta o vice-reitor.
A Creup (Coordenadoria Estatal de Estudantes Universitários) pede que se revejam essas normas para permitir flexibilidade nos estudos, como o que pretende o aluno Carlos Lorenzo, agrupando todas as disciplinas de direito de uma vez, e que se leve em conta o panorama atual. "Situações que antes eram excepcionais, como a de um estudante que trabalhasse, se transformaram em algo normal devido à crise, e isso deve ficar bem claro", defende Luis Cereijo, presidente da entidade.
Os conselhos sociais universitários admitem que a revisão "é uma matéria pendente", segundo Julio Revilla, vice-presidente da conferência que os reúne. "Não é preciso que todas as normas sejam iguais, mas deveríamos garantir uma coerência nos modelos e uma vinculação com o sistema de bolsas e de preços públicos." O presidente dos reitores, Manuel López, acrescenta: "Além dos expulsos pela norma, o drama é para os que ficam fora por razões econômicas ou dificuldades para conseguir uma bolsa". Os reitores pediram insistentemente nos últimos anos ao Ministério da Educação que revise o sistema de auxílios para que ninguém fique fora por falta de dinheiro.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
"Se permitiram matrículas mal feitas e se cobraram por elas, iremos aos tribunais se for necessário", explica Alejandro González, representante dos alunos de Astúrias.
Os critérios para decidir se um universitário está perdendo tempo em sua faculdade fazem parte das chamadas normas de permanência. A maioria das universidades públicas as revisou a partir de 2008, com a implantação do espaço europeu de educação superior, o chamado plano Bolonha. As normas incluem basicamente um número mínimo de créditos a aprovar e um prazo máximo de tempo para fazê-lo. Normalmente, permitem ao expulso uma segunda matrícula em outra carreira da mesma universidade. Não costumam contemplar terceiras oportunidades.
A agência de avaliação Aneca e os conselhos sociais dos campi recomendaram já há dois anos uma revisão dos modelos no relatório "Universidades e Normas de Permanência - Reflexões para o futuro". Esse estudo não incluiu uma contagem oficial dos afetados. O especialista em financiamento universitário Juan Hernández Armenteros, que participou do citado relatório, estima que são cerca de 30 mil alunos de graduação, 3% do total. Ele fez esse cálculo a partir de um estudo sobre rendimento realizado na Universidade de Jaén por Enrique Bernal e Juan Lillo. Outros especialistas consultados concordam com a estimativa.
"Em geral, as normas das universidades públicas espanholas são muito frouxas", adverte Hernández Armenteros, que afirma que nas instituições com normas mais duras há menos expulsões se os estudantes estão bem informados. As expulsões também afetam mais alunos-operacionais. "É difícil que ocorram baixas pela normativa nas carreiras em que o estudante tem uma preferência clara e uma nota de corte alta", acrescenta Manuel López, presidente da Crue (Conferência de Reitores da Espanha).
Na Universidade de Oviedo, a mobilização partiu da Faculdade de Trabalho Social. O grosso dos afetados são alunos de "direito, economia e engenharia, pela simples razão de que é onde temos mais alunos", explica o vice-reitor, Luis Rodríguez Muñiz. O número de afetados ainda não está fechado. As estimativas oscilam entre 1.000, calculadas pela reitoria, e 500, segundo os representantes dos alunos, de um total de 21.791.
A normativa de permanência de Oviedo estabelece que um aluno deve ter pelo menos 90 créditos em seu terceiro ano de universidade, dos quais 48 terão de ser disciplinas do primeiro curso. Os alunos se opuseram a essa norma aprovada em seu campus em 2010, mas cujos efeitos surgem agora, quando passaram os primeiros três anos.
Carlos Lorenzo, 21, acaba de terminar o terceiro ano do curso de Trabalho Social. Tem mais de 90 créditos, mas não cumpre o requisito de que mais da metade seja do primeiro ano. Explica que trancou várias matérias relacionadas a direito, sua fera negra particular, para estudá-las juntas no final do curso. "Quando fui fazer a matrícula, não me avisaram de que corria o risco de ser expulso se não as tomasse", queixa-se. Sua universidade se compromete a melhorar os mecanismos de informação e a pedir ao conselho social que revise o critério dos 48 créditos. "Nos demais casos é preciso aplicar a norma", acrescenta o vice-reitor.
A Creup (Coordenadoria Estatal de Estudantes Universitários) pede que se revejam essas normas para permitir flexibilidade nos estudos, como o que pretende o aluno Carlos Lorenzo, agrupando todas as disciplinas de direito de uma vez, e que se leve em conta o panorama atual. "Situações que antes eram excepcionais, como a de um estudante que trabalhasse, se transformaram em algo normal devido à crise, e isso deve ficar bem claro", defende Luis Cereijo, presidente da entidade.
Os conselhos sociais universitários admitem que a revisão "é uma matéria pendente", segundo Julio Revilla, vice-presidente da conferência que os reúne. "Não é preciso que todas as normas sejam iguais, mas deveríamos garantir uma coerência nos modelos e uma vinculação com o sistema de bolsas e de preços públicos." O presidente dos reitores, Manuel López, acrescenta: "Além dos expulsos pela norma, o drama é para os que ficam fora por razões econômicas ou dificuldades para conseguir uma bolsa". Os reitores pediram insistentemente nos últimos anos ao Ministério da Educação que revise o sistema de auxílios para que ninguém fique fora por falta de dinheiro.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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