Há duas constantes na carreira do senador: serviu a todos os governos e jamais deixou de frequentar as listas de investigados e processados
OESP
Jucá ocupou a tribuna do Senado por quase uma hora na segunda-feira passada para tentar explicar a proposta de emenda à Constituição (PEC) que apresentou, na semana passada, com o objetivo de estender aos presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do STF as prerrogativas de que gozam o presidente e o vice-presidente da República, que não podem ser investigados, enquanto no cargo, por fatos anteriores ao exercício do mandato. A reação negativa dos senadores à proposta apresentada por Jucá forçou-o a retirar a PEC.
Fino como sempre, o senador dirigiu feroz ataque a “parte da imprensa que não dá chance a ninguém de se defender: escolhe aleatoriamente e parte para o estraçalhamento, sem se preocupar com a verdade, sem se preocupar com a coerência, sem se preocupar com a família das pessoas, com a história de cada um”.
Ora, o “linchamento” de que o senador Romero Jucá se queixa deve-se exatamente ao fato de sua história como político governista – não importa qual seja o governo – ser sobejamente conhecida. E são impressionantes os escândalos em que Jucá se meteu ao longo de sua carreira política.
Recentemente, envolveu-se num imbróglio que resultou em seu afastamento do cargo de ministro do Planejamento do governo Temer, exatamente 11 dias depois de ter sido nomeado com toda a equipe ministerial escalada pelo então vice-presidente da República em exercício. Não foi a primeira passagem meteórica de Jucá pelo comando de um Ministério. Em 2005, no governo Lula, assumiu em março o Ministério da Previdência Social. Quatro meses depois foi forçado a abandonar o cargo, acusado de ter-se envolvido em irregularidades relacionadas a empréstimos bancários.
Em respeito ao princípio da presunção de inocência, é preciso reconhecer que Jucá até agora passou incólume por denúncias e investigações que pontuaram sua carreira política de mais de 30 anos. Há duas constantes na carreira do senador: serviu a todos os governos, desde que se lançou na vida pública nacional, e jamais deixou de frequentar as listas de investigados e processados. Não estranha, portanto, que ele queira afastar a incômoda espada da Justiça que teima em balançar sobre sua cabeça.
É preciso reconhecer, também, que o comportamento da imprensa de que Romero Jucá tanto se queixa é certamente um assunto que está longe de lhe ser estranho, já que é proprietário de duas emissoras de televisão em Boa Vista – uma filiada à Rede Record e outra à Rede Bandeirantes –, além de um jornal impresso e duas emissoras de rádio. Talvez isso explique por que Jucá toma sempre a cautela de atacar apenas “parte” da imprensa – aquela que não lhe é obediente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário