E não apenas: respingam no próprio Temer, íntimo de ambos, que os teve e manteve no assim chamado núcleo duro palaciano. Fica, no mínimo, a suspeita de que não ignorava os fatos, que, por sinal, também o incluem nas delações de Marcelo Odebrecht.
O presidente é acusado de ter pedido e recebido R$ 10 milhões para a campanha de seu partido, o PMDB, que então presidia. O dinheiro teria sido pago em caixa dois, e parte dele teria sido destinado a Padilha, nos termos da narrativa de Yunes.
Temer nega o caixa dois e garante estar tudo registrado na Justiça Eleitoral. As denúncias, óbvio, carecem de comprovação, embora Marcelo Odebrecht as sustente com convicção, não ocultando a origem ilícita do dinheiro. Podem não gerar – e não vão – providências imediatas, de ordem jurídica, mas politicamente configuram mais um abalo para o presidente e seu governo.
Se fosse apenas isso, já seria muito. Mas há mais, muito mais. A essas denúncias, somam-se as de outras empreiteiras, igualmente implicadas na Lava Jato – Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, OAS, Delta, UTC -, prenunciando uma quaresma mais barulhenta e predadora que o próprio carnaval. A pinguela está balançando.
Aguarda-se, na sequência imediata do feriado, a divulgação, pelo Ministério Público, dos demais nomes mencionados pelos 77 executivos da Odebrecht, já homologados pelo STF.
Não se sabe quantos são; sabe-se apenas que são muitos, quase duas centenas, a maioria gente do governo anterior e do atual, indo em cheio ao coração do Congresso.
Não por acaso, um dos temas mais ruidosos na Câmara e no Senado, no curso da semana, foi, mais uma vez, o foro privilegiado. O país quer o fim do foro; os políticos, não. O líder do governo no Senado, Romero Jucá, tentou estender o princípio de intocabilidade do presidente da República, que não responde por atos praticados fora de seu mandato, aos presidentes da Câmara e do Senado.
Perdeu. E acabou por se referir ao foro como “uma suruba”, em que ou todos dela participam ou então ninguém, deixando claro que quer a generalização, nada de “suruba selecionada”. Um momento de rara elevação verbal no Parlamento.
Em meio a tamanha algaravia, Temer viu a nomeação do novo ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-RS), gerar atritos em sua própria base parlamentar. O deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), coordenador da bancada mineira, que queria no cargo alguém de seu estado, anunciou ter rompido com o governo.
Ramalho não é nenhuma sumidade – é, antes, um ente do baixo clero -, mas ocupa a 1ª vice-presidência da Câmara; é o sucessor imediato de Rodrigo Maia que, citado na delação da Odebrecht e agora também por Fernando Cavendish, da Delta, como beneficiário de propina, corre risco potencial de deixar o cargo.
Nessa hipótese, ainda vaga (mas nada é tão vago na atual conjuntura quanto o próprio governo), Temer teria um inimigo à frente da Câmara; Ramalho seria o seu Eduardo Cunha, embora sem o mesmo talento predatório deste. Mas, quando se cruza uma pinguela, o peso de uma piaba pode fazer toda a diferença.
De quebra, o governo perdeu, subitamente, um de seus quadros mais expressivos, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, que, alegando questões de saúde, demitiu-se. Serra havia imprimido à política externa grandes transformações, a começar pelo rompimento com o bolivarismo e a abertura de novos mercados. Seu sucessor deverá ser também um tucano.
Em resumo, ao fim dos tambores de Momo, voltam a rufar os da Lava Jato, dando continuidade ao calvário da classe política.
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