Senadores do PMDB estão entre beneficiários de parte de US$ 40 milhões em propina, diz MPF
Nova fase da Lava-Jato mira Jorge e Bruno Luz, operadores de desvios na Petrobras
Cristiane Jungblut / Katna Baran - O Globo
A 38ª fase da Operação Lava-Jato, denominada Blackout, deflagrada na manhã desta quinta-feira pela Polícia Federal (PF),
mira principalmente na atuação de dois operadores financeiros, Jorge
Luz e o filho dele Bruno Luz, ambos ligados ao PMDB. Eles teriam
movimentado ao menos US$ 40 milhões em propina, agindo como
intermediários de agente públicos e políticos - entre eles, a maioria
senadores, segundo a investigação.
A atuação de ambos, conforme detalhou o procurador do
Ministério Público Federal (MPF) Diogo Castor de Mattos, ocorria
principalmente na Diretoria Internacional da Petrobras, mas também houve
serviços esporádicos nas Diretoria de Abastecimento e de Serviços da
estatal.
Sem detalhar ou citar nomes, Mattos reforçou que os
destinatários da propina são "pessoas que ainda estão no cargo, gozando
de foro privilegiado" — principalmente senadores. A PF detalhou que
Jorge Luz atua como lobista na Petrobras desde os anos 1980,
embora a investigação tenha sido restrita à última década. Nesse
período, ele foi um dos responsáveis pelo repasse dos US$ 40 milhões a
funcionários da Petrobras e políticos.
Jorge e Bruno Luz, pai e filho, tiveram a prisão preventiva decretada e já são considerados foragidos da Justiça. O procurador Diogo Castor de Mattos confirmou que pai e filho estão nos Estados Unidos. De acordo com a PF, os dois atuavam em conjunto de forma "profissional, habitual e serial" em desvios na estatal petroleira.
— Eles faziam o meio-campo em que os queriam pagar propina e quem queria receber os valores ilícitos — explicou o procurador.
Conforme o MPF, os operadores agiam com auxílio de inúmeras
empresas de fachada criadas no Brasil, offshores, e com overbas enviadas
para contas na Suíça e Bahamas. Foi por meio da cooperação
internacional da Lava-Jato que se pode chegar ao destino do dinheiro e,
assim, a uma série de provas que levaram aos mandados de prisão
cumpridos nesta quinta-feira.
— Pode haver relação desses operadores com outros delatores e
crimes além dos indicados inicialmente na representação de hoje. Mas,
em princípio, as provas mais robustas estão nessas frente da
representação — detalhou o delegado da PF Maurício Moscardi Grillo.
REAÇÃO DE SENADORES
Mais
cedo, em nota, o ex-presidente do Senado Federal e atual líder do PMDB
na Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), confirmou que conhecia Jorge Luz, mas que não o via há 25 anos.
Em um primeiro momento, assessores haviam emitido que o senador não
encontrava o operador há 10 anos — versão depois classificada como "um
erro". No comunicado, Renan frisou que "a chance de se encontrar
qualquer irregularidade em suas contas pessoais ou eleitorais é igual a
zero" e que "não tem e não teve operador".
O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (PMDB-RR), negou
envolvimento com os alvos desta quinta-feira. Em nota, ele ainda
destacou que Jorge e Bruno "não têm relação com o partido e nunca foram
autorizados a falar em nome do PMDB".
ATUAÇÃO 'HABITUAL' EM DESVIOS
Ligados
principalmente a parlamentares do PMDB e funcionários da área
internacional da Petrobras, Jorge e Bruno Luz criavam oportunidades de
negócios para empresas nacionais e multinacionais em troca de uma
comissão a ser dividida com parlamentares.
Segundo a PF, pai e filho geriam empresas dentro do país que
recebiam recursos de empreiteiras investigadas na Lava-Jato e eram
próximos a outro operador já preso na operação, João Augusto Henriques.
— Há todo um acervo provatório de que essas pessoas
estiveram envolvidas de forma profissional, habitual e serial em crimes
com valores expressivos de milhões de dólares na Petrobras — ressaltou o
procurador, que ainda frisou a necessidade dos pedidos de prisão
preventiva diante da evasão de pai e filho aos Estados Unidos.
Segundo a PF, os dois vão responder por crimes de corrupção, fraude em licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
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